Falta uma ação drástica e rápida

                                       

“Qual é o estado do planeta? A resposta dos climatologistas é clara: os efeitos do que irá acontecer nos próximos 5 ou 10 anos não afetarão só a nossa e a próxima geração. As alterações causadas pela possível falta de ação da política, como a do balanço energético do nosso planeta, poderão ter consequências por dezenas de milhares de anos depois de nós", explica Stefano Caserini, professor de Mitigação das Alterações Climáticas no Politecnico de Milão.

A entrevista é de Luca Martinelli, publicada por Il Manifesto, 22-04-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Enquanto a Itália celebra o Dia da Terra, o pesquisador - cujo mais recente livro é "Il clima é (già) cambiato. 10 buone notizie sul cambiamento climatico” (O clima (já) mudou. 10 boas notícias sobre a mudança climática) lançado em 2016 pelas Edizioni Ambiente - ressalta que "a mudança climática agora apresenta uma questão muito específica, ligada à urgência de uma intervenção. 

Estamos diante de processos fortemente influenciados pela irreversibilidade e inércia – ele disse – Vamos pensar, por exemplo, na fusão, que está em curso, das calotas polares: terá consequências por milhares de anos. A pesquisa científica sabe que não é suficiente reduzir o uso dos combustíveis fósseis e as emissões dos outros gases de efeito estufa para arrumar a situação, para diminuir as temperaturas. 

Sem uma ação rápida e drástica pagaremos por muito tempo as consequências do aquecimento global. Mas, para muitos, infelizmente, ainda não existe a percepção da necessidade de tomar medidas urgentes que tenham influências no longo prazo".

Eis a entrevista.

Entre os "muitos", você inclui também a política?

Necessariamente. Apesar de reconhecer a importância da consciência "das bases" e dos comportamentos individuais corretos, sabemos que isso gera mudanças lentas, e são necessárias ações e decisões estratégicas em vários níveis. Portanto, isso deveria ser acompanhado por exemplos "ativos" de política ambiental. Nós não pedimos necessariamente para assumir posições revolucionárias: a ideia de “quem polui paga” é da economia neoclássica, assim com uma tributação adequada poderíamos, por exemplo, tentar reduzir o problema dos microplásticos tão falados nos dias de hoje. No entanto, estamos atrasados: ficamos esperando até ver grandes extensões marinhas contaminadas com o plástico; temos os dados, as fotografias, e procrastinar não faz sentido. Eu acredito que os países mais ricos, como o nosso, deveriam adotar legislações mais incisivas e também influenciar as economias emergentes, como a China ou a Índia.

Com o apelo "A Ciência no voto" (lascienzaalvoto.it) vocês apresentaram pedidos para as partes envolvidas nas políticas em 4 de março. A resposta?

Se olharmos para os programas eleitorais, veremos que eles contemplam algo sobre a mudança climática, mais que em qualquer campanha eleitoral anterior. Fala-se em descarbonização, adaptação às alterações climáticas, e o ponto de vista dos "negacionistas" praticamente desapareceu, inclusive porque percebemos que as energias renováveis e mais eficientes podem criar empregos. Contudo, há uma grande distância entre o nível de análise e a capacidade de traduzir esses temas em elementos prioritários na ação governamental. O apelo obteve a adesão de quase todos os partidos políticos (exceto os M5S), e diante do impasse atual também poderia tornar-se um elemento comum: a questão da transição energética poderia tornar-se um elemento de ligação.

Nos programas dos 5 Stelle e do Partido Democrático, por exemplo, há algo semelhante no que diz respeito às ações sobre a eficiência energética e contra o desequilíbrio hidrogeológico. Porém, eu acredito que a classe política não está ciente daquela que é a verdadeira dimensão do problema das alterações climáticas, e que enfrentá-la também poderia ser uma oportunidade para aumentar os postos de trabalho e reduzir as desigualdades.

Dez anos atrás, você publicou pelas Edizioni Ambiente o livro "A qualcuno piace caldo. Errori e leggende sul clima che cambia” (Quanto mais quente melhor. Erros e lendas sobre a mudança climática). E em 2008 também nascia o site climalteranti.it. Qual o balanço disso tudo?

Na época, um artigo em cada dois colocava em dúvida o tema da mudança climática. Hoje não é mais assim, felizmente. Enquanto isso, no entanto, os dados do Conselho Nacional de Pesquisas evidenciam em nosso país um aumento médio das temperaturas, em comparação com o período de referência do final do século XIX, de cerca de dois graus. E o sinal é extremamente claro em todo o Mediterrâneo, e não só: nas últimas semanas foram publicados outros trabalhos científicos mostrando sinais de enfraquecimento da "Corrente do Golfo", que tem um impacto significativo sobre a distribuição de calor e a circulação atmosférica. 

É um tema que o cinema abordou no filme "O Dia Depois de Amanhã", mas diferentemente daquele roteiro, que foi escrito violando uma dúzia de leis da física e da oceanografia, o impacto provavelmente não será uma era glacial, mas um aumentou do nível do mar nos Estados Unidos, e uma maior incidência de ondas de calor no verão sobre a Europa. E aqui eu voltar para o ponto de partida de minha análise: se alterarmos a circulação da Corrente do Golfo, ou as geleiras do planeta, não poderemos voltar atrás em algumas décadas, os tempos serão de séculos e milênios.

(Com o Instituto Humanitas Unisinos)


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