EUA participam de exercício militar na Amazônia ; críticos apontam risco à soberania nacional

                                                                          
Senador Lindbergh Farias está preocupado
Desde o dia 6 de novembro, norte-americanos participam do exercício conhecido como Amazonlog; Exército diz que críticas são 'teoria da conspiração'
      
A participação dos Estados Unidos em um exercício militar que acontece entre os dias 6 e 13 de novembro em Tabatinga, no Amazonas, tem provocado preocupação em analistas e personalidades do mundo político por conta do possível risco à soberania nacional. O Exército, por sua vez, se defende, chamando as críticas de “teoria da conspiração”.

No total, participam da simulação, batizada de Amazonlog 17, cerca de 2.000 pessoas, dos quais cerca de quinhentas são estrangeiras. Além de militares do Brasil (1.550), Colômbia (150), Peru (120) e Estados Unidos (30), observadores de mais de 20 países devem acompanhar as ações - entre eles, da Alemanha, Argentina, Chile, Equador, México, França, Reino Unido, Espanha, Rússia e Venezuela. Também participam funcionários de órgãos federais e estaduais como a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), Fundação Nacional do Índio (Funai), Polícia Federal, a Receita Federal, entre outros.

A atividade envolve unidades de transporte, logística, manutenção, suprimento, evacuação e engenharia. No caso de catástrofes, por exemplo, isso implica o planejamento logístico de deslocamento de equipamentos, suprimentos e equipes até o local da ação. Além de preparar a área, é preciso pensar como atender feridos.

Além disso, são feitos atendimentos às comunidades que vivem na região, como indígenas e ribeirinhos do Brasil e de países vizinhos, nas especialidades de clínica geral, ginecologia, pediatria e ultrassonografia. Um cirurgião ficará no Hospital de Guarnição de Tabatinga.

Em outubro, o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) encaminhou requerimento ao ministro da Defesa, Raul Jungmann, e ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, pedindo informações sobre a participação de militares dos Estados Unidos. Segundo o parlamentar, a medida poderia representar a possibilidade de perda de soberania e/ou de subordinação do Exército.

No começo deste mês, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), como líder da bancada petista no Senado, disse ver com “extrema preocupação” a participação norte-americana.

“Embora o objetivo manifesto do Amazonlog 17 seja apenas o de treinar tropas para lidar com crises humanitárias, como as causadas por catástrofes naturais e afluência de refugiados, o objetivo real parece ser o de inserir as Forças Armadas brasileiras na órbita estratégica dos EUA. 

A ampla participação no exercício do Peru e da Colômbia, países já alinhados estrategicamente a essa superpotência, reforça tal interpretação. Ademais, no curto prazo os exercícios visam, sem dúvida, estabelecer pressão sobre a Venezuela, regime que se contrapõe aos interesses dos EUA no subcontinente”, afirmou, em nota.

“Teoria da conspiração”

Em entrevista coletiva à imprensa na manhã desta quarta-feira (08/11) em Tabatinga, o general Guilherme Cals, comandante logístico do Exército, disse considerar as críticas uma “teoria da conspiração”.

"Os EUA têm uma expertise muito grande no que se refere à ajuda humanitária. Só de furacões os Estados Unidos tiveram esse ano uns quatro e rapidamente o país se reconstruiu. Além disso, tem uma expertise para passar para a gente em incêndios florestais", disse.

A seguir, ele lembrou incêndios nas Chapadas dos Guimarães e  Diamantina. "Roraima vive queimando e nós nunca aprendemos que temos que combater a incêndios florestais. Por que não passar esse conhecimento para a gente?", questionou.

Participação de militares dos EUA em exercício militar na Amazônia provocou críticas 
Por sua vez, o representante do Exército dos EUA, coronel Truax, afirmou que o país participa do exercício com uma aeronave. Segundo disse, depois da atuação conjunta na ajuda às vítimas do terremoto do Haiti, em 2010, houve a intenção de estreitar a troca de informações visando uma melhor coordenação de esforços em caso de nova ação conjunta.

“A nossa experiência é que o Exército do Brasil facilitou muito a chegada e a disposição de recursos de ajuda humanitária, especialmente nas primeiras horas para resposta internacional. Por isso, quando recebemos o convite para estar aqui no Brasil, não importa o lugar, na Amazônia ou em Porto Alegre, dissemos que queríamos estar mais preparados para incrementar a nossa interoperabilidade para quando acontecer a necessidade de atuar juntos em ações humanitárias, assim como com os colombianos e peruanos também”, disse.

Cals afirmou que está sendo criado um centro de controle logístico multinacional no Ministério da Defesa, com o apoio e participação da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da Junta Interamericana de Defesa (JID). Criada em 1942 pelos EUA para combater os nazistas, a junta tem atuação em programas de desminagem (operação de remoção de minas) e em pronta-resposta para casos de desastres naturais no continente americano.

De acordo com o militar, a intenção é montar uma estrutura para que cada país possa definir a sua aptidão numa equipe multinacional. “Diante da calamidade, um país leva a parte de água; outro se preocupa com a saúde; outro leva combustível e alimentação. Dessa maneira, fica mais fácil o atendimento à população no caso desses imprevistos de calamidade pública”, afirmou.

Sem base militar

Em maio, quando a BBC Brasil revelou o planejamento do exercício, o Exército brasileiro negou que a operação serviria como embrião para uma possível base multinacional no local, como aconteceu após o exercício da Otan na Hungria. “Ao contrário da Otan, a qual é uma aliança militar, o trabalho brasileiro com as Forças Armadas dos países amigos se dá na base da cooperação”, disseram porta-vozes do Exército à agência britânica.

“Com uma atividade como essa, busca-se desenvolver conhecimentos, compartilhar experiências e desenvolver confiança mútua”, acrescentou o Exército, que afirmou também que o objetivo da operação é fortalecer a “capacidade de pronta resposta multinacional, sobretudo nos campos da logística humanitária e apoio ao enfrentamento de ilícitos transnacionais”.

Embora o comando multinacional na Amazônia tenha um caráter inédito, este não é o primeiro exercício mútuo entre tropas brasileiras e norte-americanas no país. Em 2016, por exemplo, as Marinhas de Brasil e EUA fizeram uma atividade preparatória para a Olimpíada no Rio de Janeiro, envolvendo treinamentos com foco antiterrorismo. Antes disso, em 2015, um porta-aviões dos EUA passou pela costa de Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro para treinamento da Força Aérea Brasileira (FAB).

(Com Agência Brasil/Opera Mundi)

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