Por que Lula?

                                                                                                                   Granma


Sergio Alejandro Gómez

A direita brasileira tem motivos para comemorar. Tiraram Dilma Rousseff da cadeira presidencial por um manejo de contas públicas, enquanto no Congresso que a julgava caíam como moscas os legisladores envolvidos em casos de corrupção; aprovaram uma reforma trabalhista que faz recuar um século os direitos dos trabalhadores e aplicaram um programa de ajuste em massa, sem tocar os interesses das empresas mais importantes do país.

Contudo, a direita brasileira não dorme tranquila. O motivo de sua preocupação tem nome: Luiz Inácio Lula da Silva.

Enquanto se mantenha na arena política o operário metalúrgico que governou oito anos o gigante sul-americano e ajudou tirar da pobreza 20 milhões de pessoas, sabem bem que sua cabeça pendura de um fio.

Lula continua sendo o político mais popular do Brasil e lidera todas as pesquisas para as eleições do próximo ano; apesar da revisão na qual está imerso o Partido dos Trabalhadores (PT), a arremetida do governo golpista e a agressividade da mídia.

A direita declarou o ex-presidente como seu inimigo número um e concentra todo o poder de fogo contra sua figura, admirada pelas classes populares e uma referencia da esquerda em nível internacional.

A última manobra contra Lula é tentar inabilitar nos tribunais sua possível candidatura presidencial. O controverso juiz Sergio Moro — que é acusado de manipulação política por seu manejo da investigação por corrupção na Petrobras — condenou o ex-presidente a nove anos de cárcere e quase duas décadas de separação dos cargos públicos.

É acusado de ter recebido um apartamento de três andares como pagamento para garantir um negócio da empresa construtora OAS com a petroleira estatal. A sentença, que não entra em vigor até que seja ratificada por um tribunal de apelações, é baseada em testemunhos de personagens julgados por suas atividades ilícitas e não contribui com nenhuma evidência concreta que a respalde.

A estratégia é arriscada. Por um lado, se finalmente as instâncias superiores concordam com o juiz Moro, Lula estaria impossibilitado de participar das eleições e o PT teria pouco mais de um ano para organizar outra candidatura. Mas se, tal como parece, a sentença foi uma bomba de fumaça sem provas sólidas, o respaldo popular ao Lula não faria mais do que fortalecer-se.

Milhões de brasileiros saíram às ruas nos últimos dias como mostra de apoio ao ex-governante. Seus reclamos são «Fora Temer» e «Eleições diretas já».

O governo surgido do golpe parlamentar está cada vez mais frágil e crescem as tensões sociais, produto da desmontagem dos projetos socioeconômicos do PT. A agenda Temer é baseada em carregar o peso do ajuste econômico nos ombros dos trabalhadores e destruir os direitos trabalhistas em nome de eficiência.

A direita sabe que suas medidas não são populares e que o atual presidente brasileiro é um cadáver político. O encontro com as urnas se aproxima e não contam com um candidato que os aglutine.

Seu pior pesadelo é um Lula que fale às multidões descontentes pelos cortes atuais; que percorra o país em caravana retornando as esperanças de um Brasil potência e sem a sombra da corrupção.

Uma vitória da esquerda mudaria a correlação de forças no gigante sul-americano. Se a política de alianças e as complexas coalizões frearam a agenda de mudança mais ambiciosa durante os dois mandatos de Lula e a etapa de Dilma, a margem de vitória que prognosticam as pesquisas daria ao PT uma carta branca para continuar com as transformações sociais em benefício da maioria.

Isso é o que tira o sono da direita brasileira e o pecado original que jamais vão perdoar a Lula.

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