"1968 – Quando a Terra tremeu"

                                                                    
Conselheiro da ABI, com passagem por alguns dos principais veículos de comunicação do país (O Globo, TV Globo e SporTV), o jornalista Roberto Sander acabou de fechar com a Autêntica Editora, com o agenciamento de Luciana Villas Boas, da VB&M, a edição do seu mais novo livro, o 12º da sua carreira de autor.  Chama-se 1968 – Quando a Terra tremeu que aborda os principais acontecimentos daquele ano tão emblemático, prestes a completar 50 anos. Com lançamento previsto para março de 2018, o livro é uma viagem a um período da história que, como sugere o título, fez a “Terra tremer”.

ABI – O ano de 1968 ficou conhecido como aquele não terminou e que, tempos depois, ainda fazia Jean Paul Sartre se perguntar, com certa perplexidade, sobre “o que exatamente aqueles jovens queriam”. Já é possível responder a essa questão?

RS – Creio que o mistério e o encanto de 1968 sejam permanentes. O que procurei no meu livro foi fazer releitura deste ano, lançando uma nova luz sobre acontecimentos que tiveram tanta influência sobre os destinos na humanidade. Acho que o leitor terá muitos elementos para tirar suas próprias conclusões sobre o que realmente aconteceu. Este foi meu principal objetivo. Para isso, não me limitei aos fatos políticos mais conhecidos, como, por exemplo, o AI-5, que anunciou os Anos de Chumbo; a Passeata dos Cem Mil; o Maio francês; e a Primavera de Praga.

ABI – Quais foram os outros aspectos abordados?

RS – São os mais variados possíveis. Nesse livro fiz um trabalho de garimpagem de notícias antigas. Assim descobri histórias marcantes de 1968 que vão além das questões políticas mais tradicionais. Assim alterno episódios mais “pesados” como a guerra do Vietnã e os atentados a bomba à editora Civilização Brasileira e ao jornal Correio da Manhã, que anunciavam o endurecimento do regime militar, com outros mais leves, como a primeira viagem ao Rio de Janeiro de Mick Jagger e a visita ao Brasil da Rainha da Inglaterra Elizabeth II.

ABI – Esse período foi marcado por grandes avanços tecnológicos. Isso também está presente no livro?

RS – Com certeza. Temas científicos, culturais, econômicos e comportamentais estão presentes o tempo todo. Narro com detalhes, por exemplo, todas as viagens espaciais que prepararam a chegada do homem à Lua, em 1969.  

Já na medicina, vivíamos a era dos transplantes. Foi quando o médico sul-africano Christiaan Barnard conseguiu com sucesso fazer o coração de um negro bater no peito de um homem branco no país mais racista do mundo, no momento em que Nelson Mandela já se encontrava preso. Muita gente – por puro preconceito – dizia que não daria certo, mas Barnard provou o contrário e ainda afirmou que os negros eram excelentes doadores, pois dificilmente tinham problemas cardíacos.


ABI – Quais são os personagens mais interessantes focalizados no livro?

RS – A lista é muito grande, mas creio que consegui retratar os mais importantes. No plano internacional, temos, por exemplo, Nixon chegando à presidência dos Estados Unidos; Fidel fazendo um expurgo no Partido Comunista Cubano; Brejnev ameaçando intelectuais soviéticos por apoiarem o movimento de libertação na Tchecoslováquia; a liderança de Cohn-Bendit nas passeatas do maio francês; e as mortes trágicas de Luther King, de Bob Kennedy e do cosmonauta soviético Yuri Gagarin. 

Já no Brasil, retrato o presidente Costa e Silva aprofundando medidas cada vez mais autoritárias; a morte do estudante Edson Luís em confronto com a polícia militar; a tentativa de formação da Frente Ampla de resistência ao regime por Lacerda, JK e Jango; as passeatas de protesto comandadas por Vladimir Palmeira; e as prisões de Caetano e Gil depois do AI-5.

ABI – Existe afinal uma explicação para que tanta coisa acontecesse ao mesmo tempo em 1968?
                                                                                                                         
A Passeata dos Cem Mil
RS – O que aconteceu, a meu ver, foi uma reação da juventude que se sentia encurralada pelas pressões de mais de duas décadas de Guerra Fria. Resistia-se aos processos de manipulação das grandes mídias que funcionavam como difusores da ideologia capitalista. Ao mesmo tempo, havia também rejeição ao socialismo opressivo imposto pela União Soviética aos países do leste Europeu. Os rebeldes parisienses diziam que “a humanidade só seria feliz quando o último capitalista fosse enforcado nas tripas do último burocrata stalinista”. Isso resumia o espírito contestatório da época.

ABI – Por tudo que pesquisou como acha que 1968 influenciou nas transformações no mundo?

RS – A influência foi imensa. Foi a partir dos acontecimentos de 68 que sugiram os movimentos ecológicos, feministas, as organizações não governamentais (ONGs), os defensores dos direitos humanos, dos animais e das minorias. Mas as decepções também foram grandes. Ao ver os sonhos frustrados, “da utopia alcançar o poder”, parte significativa dos jovens militantes do período se entregou ao consumo das drogas ou optou pela luta armada. Tudo isso teve enorme repercussão tanto no Brasil como no exterior. Não por acaso, meio século depois, 1968 ainda desperta tanto fascínio e curiosidade.

 (Com a ABI)

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