Temer descarta uso de energia atômica para fins não pacíficos

                                                                                                    Tass/Kremlin
Ígor Rôzin

Presidente brasileiro citou conteúdo de conversas sobre energia atômica com Pútin em entrevista à agência Tass no último dia de visita à Rússia.

O presidente brasileiro Michel Temer deu a entender que teve conversas sobre energia atômica russa no Brasil com seu homólogo russo, Vladímir Pútin, durante sua visita a Moscou, que se encerrou a última quinta-feira (22). A declaração foi feita em entrevista exclusiva à agência de notícias local Tass.

Perguntado sobre como Brasil e Rússia poderiam tomar medidas conjuntas para combater guerras e conflitos, Temer apontou para o combate ao terrorismo como primeira medida necessária. Em segundo lugar, ressaltou a energia nuclear.

“Na negociação com Pútin, ressaltei que no Brasil a energia atômica é usada exclusivamente com fins pacíficos. E essa não é uma área que é regulada pelo governo, é uma política estatal, já que em nossa Constituição está inscrita uma condição que proíbe o uso de energia atômica com fins militares, ou seja, com fins ligados de alguma maneira a atividades militares ou outras coisas ligadas a isso.”

A afirmação de Temer leva a crer que o assunto da energia nuclear foi tema importante da pauta bilateral, e que as relações comerciais nessa esfera serão estendidas. Ainda em dezembro do ano passado, a empresa estatal de energia atômica russa Rosatom anunciou a construção de uma planta no país para processamento de produtos médicos e farmacêuticos.

Amizade pessoal

“Tive encontros muito importantes [aqui]. Ontem [quarta-feira], encontrei-me com empresários brasileiros e russos. Hoje, tive negociações com o presidente do Conselho da Federação e também com o representante do governo, Dmítri Medvedev. E, no final do dia, conversas com o presidente Pútin. (...) No ano passado, a balança comercial entre nossos países diminuiu, mas, literalmente, em cinco meses deste ano ela cresceu mais de 40%”, disse Temer à Tass.

Ele também afirmou que, após novo encontro na cúpula do G-20 em Hamburgo, terão sido já três ou quatro os encontros oficiais realizados com Pútin, que subirão com a cúpula do Brics na China, e se gabou das relações amistosas com o líder russo.

“Construímos relações muito calorosas e Pútin se relaciona maravilhosamente bem comigo. Nosso encontro de hoje começou às 13h e ele negociou comigo e com os membros da minha delegação por quatro horas. Essa é uma atenção exclusiva, ontem ele cordialmente concordou em me acompanhar ao Teatro Bolshoi, e isso foi um gesto de civilidade e delicadeza institucional”, afirmou Temer.

O vice-diretor da Tass, Mikhail Gusman, que entrevistou o presidente brasileiro aproveitou o momento para fazer graça: “Suponho que o presidente Pútin tenha se aproveitado da sua visita para visitar o Teatro Bolshoi, porque na sua agenda de trabalho lotada não há tal possibilidade, e ele só pode visitar o teatro quando recebe algum visitante ilustre”.

Temer devolveu dizendo não acreditar que o presidente russo vá ao teatro com outros líderes. “Posso dizer que hoje entre nós existem não apenas relações institucionais, mas, acho que não será exagero dizer, construímos relações de amizade pessoal”, afirmou Temer.

O presidente brasileiro também relembrou o fato de ter levado a Rússia documento para evitar dupla tributação a empresas que atuam nos dois países.

O acordo para evitar dupla tributação foi assinado ainda em 2004, mas só passou no Congresso em maio de 2017. “Este documento tem grande importância a ambos os países. Além disso, fechamos um acordo de cooperação no campo da defesa, e a Rússia pode nos oferecer muito nessa esfera”, disse.

Ele relembrou que, apesar das restrições orçamentárias, Brasília adquiriu 12 helicópteros russos no ano passado e conduz negociações sobre satélites artificiais.

Carne, Brics e turismo

Além disso, a carne brasileira, que tem sido objeto de operações sanitárias a toque de caixa no país e cuja relação com escândalos de corrupção não é totalmente descartada, foi pincelada por Temer e pouco questionada pelo entrevistador.

“A Rússia é um dos maiores compradores de carne bovina, suína e de aves brasileira”, disse, relembrando também que o Brasil importa  fertilizantes russos.

No campo cultural, o presidente mostrou ter sido pautado previamente sobre as relações culturais entre os países, relembrando grande popularidade ali de Jorge Amado, o escritor  brasileiro mais conhecido da era soviética.

Sobre a participação no Brics, Temer ressaltou a grande importância do mecanismo para o Brasil, sem acrescentar novidade.

“Em todos os encontros de que pude participar [dos Brics], falamos dos êxitos que essa união alcançou nos últimos tempos. É interessante notar que a união não é registrada juridicamente. É uma união informal de países. Mas, apesar de seu caráter informal, a aliança demonstra uma solidez invejável”, disse.

Ele também falou sobre estimular uma maior presença russa no Brasil, destacando o turismo. “Quem sabe, com o tempo, conseguimos facilitar os regimes tanto de vistos como de passaportes para nossos cidadãos”, disse, apesar de os países já terem isentado a necessidade de vistos para viagens de turismo de até três meses entre seus cidadãos.

(Com a Gazeta Russa)

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