Repórteres sem Fronteiras alerta: 74 jornalistas mortos em 2016


Balanço anual divulgado esta semana pela organização não governamental Repórteres sem Fronteiras (RSF) informa que ao menos 74 jornalistas, profissionais ou não, foram mortos este ano em relação direta com sua atividade profissional.

Dentro desse cenário, 57 jornalistas profissionais foram vitimados. Apesar de inferiores aos registrados em 2015 (101 no total e 67 no caso dos profissionais), os números reforçam o alerta feito pela instituição, em relatório do dia 13 de dezembro sobre profissionais de comunicação presos, reféns e desaparecidos, de que houve elevado crescimento na repressão ao trabalho jornalístico no mundo em 2016.

Pelo menos 780 jornalistas foram assassinados nos últimos dez anos, de acordo com os números da RSF. Por isso, a organização voltou a pedir apoio para a urgente criação de um “protetor dos jornalistas”. Na prática, um representante especial do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

                                       

“A violência contra os jornalistas acontece de forma cada vez mais deliberada”, advertiu Christophe Deloire, secretário-geral da RSF. “Eles são atacados e assassinados por serem jornalistas. Essa situação alarmante reflete o fracasso latente das iniciativas internacionais voltadas para a proteção desses profissionais”, criticou.

É o mesmo que uma declaração de morte para a produção de informação independente em zonas onde a censura e a propaganda, disse Deloire, especialmente em regiões dominadas por grupos extremistas no Oriente Médio, se impõem por todos os meios.

 “Para que o direito internacional possa ser aplicado, a ONU deve instaurar um mecanismo concreto de implementação dessas resoluções. Com a chegada de um novo Secretário Geral nas Nações Unidas, Antonio Guterres, é urgente que seja nomeado um representante especial para a proteção dos jornalistas”, solicitou.

O levantamento da RSF – feito entre 1º de janeiro e 10 de dezembro de 2016 – relata a morte de jornalistas enquanto realizavam reportagens. Mas na maioria dos casos, esses jornalistas foram deliberadamente assassinados como forma de represália ao trabalho que vinham desenvolvendo.

De acordo com a organização, redução no número de vítimas não é necessariamente encorajadora, tendo em vista que ela se explica em grande parte pelo fato de que muitos jornalistas abandonaram determinados países, onde a cobertura se tornou perigosa demais, como na Síria, no Iraque, na Líbia, no Iêmen, no Afeganistão e no Burundi. 

“Esses exílios em massa criaram verdadeiros ‘buracos negros da informação’, também relacionados com as pressões exercidas pelos predadores da liberdade de imprensa, que fecham arbitrariamente meios de comunicação e reduzem jornalistas ao silêncio”, relata a RSF. Apesar de grandes demonstrações de coragem, por medo de serem assassinados, diversos jornalistas optam pela autocensura, como é no caso do México, país em situação de paz mais mortífero para a profissão esse ano, com 9 assassinatos.



Em 2016, em aproximadamente 75% dos casos, os jornalistas foram deliberadamente tomados por alvo e assassinados por motivos diretamente relacionados com sua atividade profissional – como foi o caso do Afeganistão, com 10 repórteres assassinados no ano. Sete deles morreram durante um ataque suicida, reivindicado pelo Talibã, contra o ônibus do canal de televisão privado Tolo, em janeiro. No Iêmen, jornalistas também foram perseguidos e abatidos. A RSF denuncia a impunidade em que permanecem esses crimes e seus autores, que beneficiam em muitos casos da cumplicidade dos governos, frequentemente tentados eles também a esmagar a liberdade de imprensa.

A Síria aparece em primeiro lugar entre os países mais mortíferos para a profissão, seguida pelo Afeganistão. Dois terços dos jornalistas mortos esse ano se encontravam em uma zona de conflito. São praticamente todos jornalistas locais, num momento em que as redações hesitam cada vez mais a enviar correspondentes para fazerem coberturas em regiões perigosas de outros países.

RSF denuncia perseguição judicial a dois brasileiros

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF), que vela pela liberdade de expressão e informação, denunciou os processos judiciais contra dois jornalistas brasileiros que revelaram casos de corrupção.

 Em comunicado, a RSF concretizou que trata-se do jornalista Francisco Costa e do repórter Josi Gonçalves, que enfrentam 11 processos judiciais acusados de crimes contra a honra devido às publicações sobre corrupção na região.

Segundo RSF, os repórteres começaram a ter problemas legais quando abriram em dezembro de 2014 o site informativo Fala RN em São Gonçalo do Amarante, cidade do Rio Grande do Norte.

“Desde então, publicaram nele notas e reportagens sobre casos de corrupção nos quais estão envolvidos políticos da cidade: desvio de fundos, nepotismo, fraude eleitoral. Publicações que não foram do agrado das autoridades”, lembrou a organização com sede em Paris.

Entre os acusadores, que apresentaram um total de 11 processos contra os jornalistas por injúria, difamação e calúnia, estão Jaime Calado, prefeito de São Gonçalo do Amarante, deputados municipais e secretários municipais.

A RSF também denunciou que os dois jornalistas, que são casal, se temem por sua integridade física.

“Uma de suas fontes informativas no município lhes advertiu que existia um plano para intimidá-los que incluía o sequestro de seu filho de quatro anos e a fabricação de provas falsas para incriminá-los”, relatou a organização.

Para a RSF, o assédio judicial é “ainda mais injustificados” dado que os textos publicados em “Fala RN” se baseiam, a maioria das vezes, em informação oficial e pública.

O Brasil ocupa o 104° lugar, entre 180 países, na Classificação Mundial da Liberdade de Imprensa 2016 da RSF.

(Com a Associação Brasileira de Imprensa)

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