Quarenta anos da Comissão Pastoral da Terra lembrados em Mariana

                                                              

Na noite de  1º de junho, a CPT lançou oficialmente a Campanha “CPT 40 anos” e sua publicação anual “Conflitos no Campo Brasil 2015”, que traz como tema principal a tragédia do rompimento da barragem da Samarco em Mariana.

A atividade antecedeu o início do Encontro Brasileiro dos Movimentos Populares em diálogo com o papa Francisco, que segue de 2 a 4 de junho, também na cidade histórica de Mariana (MG).

A Campanha CPT 40 anos irá celebrar os 40 anos de caminhada da Pastoral e, também, desenvolver ações voltadas à captação de recursos financeiros para garantir a continuidade de suas ações. Toda a sociedade pode contribuir com o trabalho e as lutas defendidas pela CPT através de doações, ou mesmo com a compra de materiais que serão disponibilizados pela Pastoral em uma loja virtual no site www.cptnacional.org.br.

Thiago Valentim, da coordenação nacional da CPT, abriu a mesa lendo os nomes das 19 pessoas mortas pela lama proveniente do rompimento da barragem do Fundão, em Mariana (MG), no ano passado. “É na memória desses homens e mulheres que foram vítimas fatais nessa tragédia do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG), que lançamos aqui hoje a publicação anual da CPT, Conflitos no Campo Brasil 2015”, destacou Thiago.

Dom Geraldo Lyrio, bispo da arquidiocese de Mariana, saudou a todos, e lembrou da participação da Igreja nas discussões da questão da terra, como quando do lançamento do documento da CNBB, “A Igreja e os problemas da terra”, em 1980 e, em 2014, o lançamento de outro documento que atualizou as análises sobre esse tema, no documento “A Igreja e a Questão Agrária no início do século XXI”.

“As decisões governamentais têm sido quase sempre tomadas para favorecer o latifúndio e o agronegócio. Se por um lado houve avanço na afirmação de direitos, por outro lado sente-se que os conflitos aumentam”, enfatizou .

“O lançamento da Campanha da CPT 40 anos no marco de seu aniversário e do relatório Conflitos no Campo Brasil 2015 aqui hoje mostra a realidade dos conflitos acompanhados pela CPT. Infelizmente, nada indica que venha a diminuir a enorme violência praticada contra os que vivem essa dura realidade. A Igreja não pode recuar em sua presença pastoral em todos os recantos desse país, ela precisa estar atenta à realidade dos povos do campo, das águas e das florestas”, disse o bispo.

Sobre o desastre ocorrido em Mariana, o bispo lamentou os enormes prejuízos ambientais e, principalmente, as vidas e as famílias que foram destruídas pela lama da Samarco. “A realidade que estamos vivendo em Mariana com o rompimento da barragem, nos faz tocar com as próprias mãos as tristes consequências do maior desastre ambiental já ocorrido no Brasil, e um dos maiores do mundo. 

Agradeço a CPT por marcar esse evento aqui em Mariana, por sua solidariedade, como agradeço aos irmãos e irmãs que vieram para o Encontro pelo mesmo motivo. Esse desastre tem proporções incalculáveis e há prejuízos que são irreparáveis”.

A pastora e assessora da CPT, Nancy Cardoso, analisou os dados compilados pela CPT em sua publicação Conflitos no Campo Brasil 2015. Para ela, todo e toda militante escreve seu próprio relatório de conflitos. Em suas agendas, cadernos de anotações, com as histórias que acompanham em seu cotidiano de lutas, estão os registros e os conflitos que encontramos no relatório da CPT.

“A publicação dos conflitos feita pela CPT é isso, é a junção de todos os dados que os agentes da CPT e os parceiros, foram registrando ao longo dos anos. Nós temos uma grande tarefa diante de nós, esses grandes conflitos e o enfrentamento a eles, que estão cada vez mais claros à nossa frente, como foi essa tragédia de Mariana”, destacou ela. “A gente faz um esforço de juntar todas essas lutas, para que nenhuma delas caia no esquecimento. Esse é um ato de espiritualidade!”, disse a pastora.

Maria do Carmo, coordenadora da CPT em Minas Gerais, destacou os conflitos que são mais recorrentes no estado. “Precisamos lembrar aqui que os conflitos envolvendo barragens não param por aqui nesse desastre de Mariana. 8% das estruturas de contenção de rejeitos não estão preparadas e nem seguras para o seu funcionamento. Os projetos são executados em detrimento da segurança das pessoas”. Maria enfatizou que os conflitos por terra no estado atingem principalmente os quilombolas e a classe trabalhadora.

Rosângela Piovezani, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), destacou a importância da CPT na sua formação como militante. “Fazer essa fala aqui me remete à minha história. Eu sou fruto dessa caminhada, de uma formação que a CPT fez. Eu ajudei no processo de construção do regional da CPT em Roraima. 

Sempre é muito gratificante para mim enquanto pessoa falar sobre a CPT. Gostaria de dizer que os movimentos de luta no campo, quase todos, quase todos mesmo, são frutos dos processos de formação da CPT. E os dirigentes que tiveram essa formação, seguem na luta até hoje, o que mostra que o trabalho da CPT é muito ético e de compromisso com quem ele forma e acompanha. 

O papel da CPT para mim sempre foi e sempre é a questão da missão, de acompanhar, de registrar as denúncias também. Os registros da CPT são registros para ficar na história, na memória, que o Estado nega e até mesmo é conivente com esses conflitos. Quero agradecer todo esse trabalho, quero agradecer à CPT por ter-se mantido fiel à sua missão”.


Rômulo Campos, da FETAEMG, da mesma forma destacou o início de sua militância por intermédio dos processos de formação promovidos pela CPT. “O que me fez ir para a FETAEMG, onde estou há 33 anos, foi a CPT. Eu estou aqui como se estivesse voltando para a minha casa. Tenho muito respeito mesmo pela CPT e pela luta dela. A maioria das pessoas que eu conheço, que defende o povo mais pobre, começou nas pastorais sociais, assim como eu”.


Frei Olavo Dotto, das pastorais sociais da CNBB, levou aos participantes da atividade a saudação de Dom Guilherme Werlang, que preside a Comissão das Pastorais Sociais, na Conferência dos Bispos. “Nesses 40 anos de caminhada, de abrir o olhar para o futuro, a CPT sempre se mostrou atual, atenta à profecia a que ela se comprometeu a seguir. 

Eu espero que ela continue com essa presença, profética e solidária, à serviço, e que ela continue a denunciar essa face malvada do capitalismo. Celebrar esses 40 anos é celebrar essa ação de graças e de esperança na continuidade de seu trabalho de presença e denúncia”.

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