Site expõe dados de jornalistas na Ucrânia

                                                    
Um site que seria ligado ao governo ucraniano divulgou dados pessoais de jornalistas que cobriram um conflito no país. O “Mirotvorets” publicou, há duas semanas, uma planilha com os nomes completos, telefones e e-mails, além outros dados, de cerca de 4.500 jornalistas. Entre eles estão, pelo menos, quatro brasileiros. A lista inclui profissionais de imprensa da CNN, The New York Times, BBC, Reuters e Associated Press.

Eles são acusados de “colaborar com organizações terroristas”, pelo fato de terem se credenciado junto à República Popular de Donetsk, região separatista que declarou independência da Ucrânia. A entidade separatista exige que os jornalistas que atuam em sua área de sejam identificados e credenciados por eles.

Entre os quatro jornalistas brasileiros está Leandro Colon, enviado pela Folha em 2014 para cobrir o conflito. Na época, Colon era correspondente do jornal em Londres e hoje é repórter especial do jornal na sucursal de Brasília. 

Os outros três jornalistas são Andrei Netto (“O Estado de S. Paulo”), o fotógrafo Mauricio Lima (que recentemente ganhou o Prêmio Pulitzer, o mais prestigiado do jornalismo) e Sandro Fernandes, que atuou para o site Opera Mundi na região.

Segundo informações de órgãos de imprensa locais, o site é ligado a um assessor do ministro do Interior da Ucrânia, Arsen Avakov.

Em nota divulgada na última segunda-feira (23/5), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e outras entidades internacionais criticaram o site ucraniano Mirotvorets por divulgar dados privados de jornalistas que cobriam o conflito no leste do país.

                                                                      Crédito:Reprodução
                                         
                          Seis jornalistas brasileiros tiveram dados revelados por site ucraniano

"A Abraji considera inadmissível a perseguição de agentes e apoiadores do Estado ucraniano a repórteres no desempenho de suas funções e vai acionar as entidades internacionais das quais é associada para encaminhar manifestações de repúdio à divulgação dos dados e à tentativa de intimidar os jornalistas", afirmou.

De acordo com agências de notícias, o portal teria ligação com o governo do país e procurava "espiões russos" entre os repórteres que pediram credenciamento para as autoridades separatistas pró-Rússia para cobrir as ações na região.

Segundo a Folha de S. Paulo, na lista, que contém informações como nome, telefone e e-mail, há pelo menos seis brasileiros: Leandro Colon, da Folha, Andrei Netto, d'O Estado de S. Paulo, Sandro Fernandes, colaborador do site Opera Mundi na Rússia, Maurício Lima, credenciado pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Yan Boechat e Patrick Muzart, da IstoÉ.

A relação inclui dados de cerca de 4.500 jornalistas credenciados, incluindo nomes de veículos como CNN, The New York Times, BBC, Reuters e Associated Press. Os responsáveis acusam os jornalistas de "colaborar com organizações terroristas". As informações teriam sido obtidas por hackers que acessaram arquivos dos separatistas.

A organização Repórter Sem Fronteiras (RSF) chamou o vazamento de "absurdo". "Isso expõe os jornalistas a um perigo real e muitos deles já começaram a receber ameaças", disse Johann Bihr, do RSF no leste europeu e Ásia Central. Para ele, o caso é um "intolerável ataque à liberdade de informação e deve ser tratado com a maior seriedade".

Por meio de nota, o Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ) repudiou o episódio. "A publicação de contatos privados de jornalistas os colocam em risco. Na pior das hipóteses, essa ação pode ser lida como um gesto velado para atingir jornalistas", ponderou Nina Ognianova, coordenadora do comitê para Europa e Ásia Central.

Há dois anos, áreas da região leste do país estão sob controle de rebeldes separatistas pró ­Rússia. O grupo, que se autoproclama República Popular de Donetsk, exige que os profissionais de imprensa que acompanham os territórios de seu comando sejam identificados e credenciados por eles.

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