“Está no ar uma tentativa de criminalizar o trabalho do repórter”, acredita Valente


                                                                                       Vanessa Gonçalves
             Debate sobre “O limiar entre o sigilo assegurado por lei e o interesse público”

O terceiro painel do 8º Fórum Liberdade de Imprensa & Democracia, organizado por IMPRENSA e realizado no auditório da OAB, em Brasília (DF), debateu “O limiar entre o sigilo assegurado por lei e o interesse público”. Participaram da discussão Rubens Valente, da Folha de S.Paulo, Vinicius Sassine, de O Globo, Allan Abreu, do Diário da Região,  Leonardo Cavalcanti, editor de política do Correio Braziliense, e Murillo de Aragão, da Arko Advice Pesquisas.

Valente iniciou sua fala ressaltando que “está no ar uma tentativa de criminalizar o trabalho do repórter”. Segundo ele, “jornalistas trabalham dentro da lei”. Porém, preocupa o jornalista o fato de juízes recorrerem à academia para dar suas decisões. "A academia começa a embalar nessa onda conservadoras e professores passam a defender que a imprensa deva resguardar informações de interesse publico. Isso é assustador”.

O repórter da Folha lembra que o trabalho do jornalista “é trazer à luz algo que está escondido. É nossa missão. Jornalista não responde pelo segredo de justiça, porque ele trabalha pelo interesse público, ele não é um servidor público, desde que, obviamente, respeite o direito à privacidade”, conclui.

Na sequência, Sassine defendeu quem “essa cultura do sigilo" faz com que o jornalista "faça malabarismos para descobrir a informação". "Temos muita dificuldade de apuração, estamos sempre inseguros de publicar uma reportagem, pois as margens de apuração estão cada vez menores. A possibilidade de erro, em instituições que têm como cultura o segredo e o sigilo, faz com que estejamos mais expostos aos erros”.

Para ele, a escolha entre divulgar ou não alguma informação sigilosa deve respeita dois requisitos: verdade e interesse público. “Não importa se o processo corre em segredo de Justiça ou tem algum interesse comercial. "Eu, como repórter, vou me pautar pela veracidade da informação e o interesse publico dessa informação, sempre”.

Em contrapartida, o repórter de O Globo ressaltou a importância da Lei de Acesso à Informação, pois ela força o agente público a discutir alguns temas que gostaria de manter escondidos. “Fiz muitas matérias com dados vindos da Lei de Acesso. Isso é muito importante”.

Allan Abreu, bastante citado em todas as mesas, por ter sido indiciado e ter seu sigilo telefônico quebrado após divulgar dados do processo de um sequestro, retomou o caso, lembrando que foi a primeira vez na história do Brasil que um juiz decretou a quebra do sigilo de toda uma redação para descobrir sua fonte.

Ele acredita que a medida foi uma retaliação por ele ter mantido o sigilo da fonte. Embora o ministro Ricardo Lewandowski tenha conhecido uma liminar favorável ao jornal e a Abreu, eles ainda aguardam os votos de outros ministros para se ver livre dessa tentativa de liberdade de imprensa.

Leonardo Cavalcanti, editor de política do ,Correio Braziliense destacou que quando a imprensa debate sobre se deve ou não publicar informações sigilosas, na verdade discute-se o cinismo das instituições que querem manter essa estratégia de sombra. "Temos de pensar na fragilidade dessa política do segredo no Estado brasileiro. Não só na Justiça, mas em outros órgãos”.

(Com o Portal Imprensa)

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