Nossa primeira eternidade na festa natalina

                                                                     
      Jogo de pratinha e/ou preguinho e bebidas do tempo do “Bar do Xisto”
              
       Carlos Lúcio Gontijo

           Sou de celebrar e não chorar a perda ou a partida do que tive. Viver é um processo difícil, porque é dessa forma, algumas vezes em meio a escombros, que se dá a nossa evolução espiritual e, portanto, não devemos mergulhar nas agruras da dor, que muitas vezes não passa de embalagem tosca do limiar de um tempo novo e melhor. O sagrado jardineiro do universo sabe quando e onde podar, para que mais à frente encontremos, pelo nosso próprio esforço, a nossa primavera.  

          Agradeço a Deus pela felicidade de ter tido a mato-grossense Betty Rodrigues Gontijo como minha mãe, incrustando em meu peito a poesia dos pantanais que ela trazia no olhar. Que seria de mim se não fossem, por exemplo, a amizade do escritor José Cândido Ferreira; o companheirismo fraterno dos saudosos jornalistas Elias Maboub e João Zacarias de Miranda Filho, dos tempos de revisão do Diário da Tarde/Estado de Minas?

          Ainda recentemente, meu genro Ronaldo José Quirino tomou uma carruagem de luz rumo aos mistérios do Criador, deixando um enorme vazio em mim, principalmente pelo fato de eu tecer elos e alianças mais fortes com as pessoas que me apoiam no exercício literário de escriba menor. Neste ano de 2015, mais precisamente 27 de abril (dia do meu aniversário) estava com o querido Ronaldo em Capim Branco/MG, apresentando nossos livros, e com toda a certeza a lembrança do contentamento daquela viagem sempre alegrará o meu coração.

          Ontem, recordei-me do Sr. Xisto Veneroso, que ensinou o meu pai José Carlos Gontijo a dirigir. O “Bar do Xisto”, em Santo Antônio do Monte, era ponto de encontro de muitos amigos para bate-papo, tomar um refrigerante, chupar picolé. Na Copa de 70, Roberto, um dos filhos do Xisto, bolou um campeonato de jogo de preguinho e/ou pratinha, no qual cada concorrente representava um dos países participantes no Mundial de Futebol.  Eu tive a felicidade de vencer a renhida e animada disputa.

          O tempo passou e num dia chuvoso, como de costume, muni-me de guarda-chuva e me dirigi ao Bar do Xisto. Conversa vem, conversa vai e, na hora de ir embora, como não chovia e estrelas (de banho tomado) brilhavam no firmamento, eu esqueci o instrumento protetor de chuva numa das cadeiras do recinto. No dia seguinte, retornei ao bar e, acanhadamente, perguntei ao Sr. Xisto pelo guarda-chuva, que foi procurado em vão e exaustivamente pro ele. Homem honestíssimo, ele se sentiu responsável por mais que eu me empenhasse em desculpá-lo.

          E assim, o bondoso Sr. Xisto me apareceu com o tablado de madeira, feito por ele, no qual havia disputado aquele campeonato junto com meus amigos.   “Lúcio, não achei o seu guarda-chuva, mas aceite este joguinho como presente. Você foi o campeão e o merece como troféu! Há pouco tempo, Sônia Veneroso, filha do Sr. Xisto, me deu duas garrafas que compuseram as prateleiras daquele tradicional bar: tequila Matador e conhaque São João da Barra, com seus rótulos amarelados pelo tempo.

          Mais uma vez estamos diante das comemorações natalinas e da chegada de mais um ano, quando nos enchemos de recordações e nos assentamos à mesa com pessoas físicas e muita gente invisível ao nosso lado, ardendo na divina claridade, sorvendo o calor dessa energia superior à qual denomino “primeira eternidade”, cuja existência é dependente da capacidade de cada um de nós em fazer morada nos escaninhos da mente dos amigos, aos quais (em vida) demos provas cabais de nossa consideração e amizade sincera.

        Carlos Lúcio Gontijo

         Poeta, escritor e jornalista

        www.carlosluciogontijo.jor.br

        13 de dezembro de 2015

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