Assim nasce o conservador

                           





 Um poema brechtiano de Mauro Iasi



                                          “Nada mais parecido com um fascista que um pequeno burguês assustado”
                                                                                                                                           – Brecht


Assim nasce o conservador


Mauro Iasi

De todos os invernos
De todas as noites sangrentas
De todos os infernos
De todos os céus desterrados de perdão.

De toda obediência burra
Ao oficial, burocrata,
À coroa, ao cetro,
Ao papa, ao cura.

De todo medo
“Agora não, ainda é cedo”,
de todo gesto invertido para dentro,
de toda palavra que morre na boca.

Do obscurantismo, de todo preconceito,
de tudo que te cega, de tudo que te cala,
de tudo que lhe tolhe, de tudo que recolhes,
de tudo que abdicas, de tudo que te falta.

Um beijo o assusta,
um abraço o enfurece,
a dúvida o enlouquece,
a razão se esvanece no vácuo.

Germina, assim, uma impotência tão grande,
que deforma as feições e torna tenso o corpo,
o dedo em riste, a veia que salta no pescoço,
a boca transformada em latrina.

Assim nasce o conservador.
Ele teme tudo que é novo e se move.
É um ser frágil, arrogante, assustado…
e violento.

(Com o Blog da Boitempo )

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