José Marques de Melo é anistiado e recebe pedido de desculpas do Estado

                                                           
Presidente da Comissão das DCJ, José Marques de Melo, receberá uma série de homenagens

O professor José Marques de Melo, um dos mais respeitáveis catedráticos de Jornalismo das Américas e um ativo militante das causas da ABI, finalmente conquistou a anistia política, recebendo adicionalmente um formal pedido de desculpas do Estado Brasileiro, por tantos anos de perseguição política pela ditadura que dominou o País de 1964 a 1985. 

A sessão que o anistiou foi realizada no último dia 13 de julho. Nela, o presidente da Comissão Nacional de Anistia, Paulo Abrahão, declarou formalmente a anistia de Marques de Melo por decisão unânime de seus membros. E na sequência, emendou: “O Estado Brasileiro formaliza o pedido de desculpas pelas perseguições, pela prisão, pelo tempo em que esteve afastado do seu emprego e por todos os reflexos causados também à sua família”.

Impedido por problemas de saúde de comparecer à sessão, Marques de Melo foi representado pelo filho Marcelo Briseno Marques de Melo e pela nora Priscila Zerbinato Marques de Melo.

Os autos do processo de anistia serão agora encaminhados, por recomendação do relator Manuel Severino Moraes de Almeida, para a Comissão da Verdade na USP, com a finalidade de “contribuir para o desenvolvimento dos trabalhos e acesso ao direito à memória e à verdade da mesma instituição”.

Retrospecto

Marques de Melo iniciou sua trajetória intelectual como jornalista no começo dos anos 1960, engajando-se no movimento estudantil no Recife. Integrou a delegação pernambucana que participou do histórico Congresso da UNE no Hotel Quitandinha (Petrópolis).  Foi protagonista de episódios como a mobilização da imprensa para cobrir as visitas de Célia Guevara e Joffre Dmazedier ao Nordeste. 

Integrou a equipe do Governo Miguel Arraes, atuando nas áreas de educação e cultura. Preso e processado pelos golpistas de 1964, migrou para São Paulo, contratado como professor da Faculdade de Jornalismo Cásper Líbero. Ainda na capital paulista passou no concurso da USP para integrar o corpo docente fundador da Escola de Comunicações Culturais. Em ambas as instituições, enfrentou resistências e sofreu perseguições, encabeçando a lista dos perseguidos pela ditadura.

O professor é cofundador de ECA-USP, Intercom e Orbicom, primeiro doutor em Jornalismo do Brasil e titular, há 20 anos, da Cátedra Unesco de Comunicação na Universidade Metodista de São Paulo.

Antecipando-se à decisão histórica da Comissão Nacional de Anistia do Ministério da Justiça, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom acolheu proposta no sentido de homenagear o fundador da entidade publicando a coleção Fortuna Crítica de José Marques de Melo (São Paulo, Intercom), que reúne textos exegéticos da sua obra acadêmica, escritos por mais de uma centena de colegas e discípulos, em quatro volumes: 1 – Jornalismo e Midiologia; 2 – Teoria e Pesquisa da Comunicação; 3 – Comunicação, Universidade e Sociedade; e 4 – Liderança e Vanguardismo. A organização coube a Osvando J. de Morais, Sonia Jaconi, Eduardo Amaral Gurgel, Iury Parente Aragão e Clarissa Josgrilberg Pereira.

A coleção está sendo doada a bibliotecas e centros de pesquisa em comunicação de todo o País, simbolizando o espírito de luta do Guerreiro Midiático (como foi caracterizado o professor Marques de Melo por seu biógrafo Sergio Mattos).

Homenagens

No próximo dia 20/8, Marques de Melo receberá o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Estadual de Alagoas. Ainda não foi agendada a solenidade em que a Universidade Federal do Piauí outorgará a ele semelhante comenda. 

Em 5/9, às 19 horas, durante o 38º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, no Rio de Janeiro, ele receberá das mãos de Francisco Sierra, diretor do Ciespal, a Medalha de Ouro, que representa o reconhecimento da comunidade acadêmica aos mais importantes pensadores da comunicação na América Latina. Ao seu lado estarão também o boliviano Luis Ramiro Beltrán e o colombiano Jesus Martin Barbero. (Com a Associação Brasileira de Imprensa)

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