Tsipras promete renunciar caso 'sim' ganhe no referendo sobre dívida grega

                                                                            
                                          Pixação nas ruas de Atenas pede voto pelo 'não'


Vanessa Martina Silva e Patrícia Dichtchekenian | São Paulo - 29/06/2015 - 17h37


“Propusemos um acordo mais justo socialmente e que haja uma negociação sobre a dívida. Se não aceitam isso, o que posso fazer?”, questionou
      
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, disse nesta segunda-feira (29/06) que, caso o sim vença, renunciará um dia após o referendo convocado para que a população decida sobre aceitar ou não o acordo proposto pelos credores sobre a dívida grega. 

O premiê foi eleito no ano passado com uma proposta antiausteridade e vem travando, há cinco meses, negociações com a troika (Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Europeu), sem sucesso.

Tsipras ressaltou que está disposto a participar de debates com a oposição que defende o acordo
“Nos elegeram nas urnas para seguir na União Europeia, mas não para seguir tolerando a austeridade”, disse.

O premiê convocou a população a votar pelo “não” no referendo que será realizado no próximo domingo (05/07). Para Tsipras, “um voto no ‘não’ dará a nosso governo uma posição muito mais forte para continuar as negociações”. 

E convocou a população a votar dessa forma: “os credores nos deram um acordo… nós pedimos que vocês o rejeitem com toda a força”. Segundo ele, o referendo será uma continuidade das negociações.

As declarações vieram após o governo grego decretar a restrição de capitais. A partir daí, credores europeus pressionaram Atenas a respeito do referendo.

O líder grego afirmou que a decisão de não estender o programa de resgate foi feita para “fechar os bancos com o objetivo de que o povo grego não possa decidir”, sugerindo que a medida foi tomada para evitar a realização do referendo. 

 “Pensaram que este governo de esquerda seria um parêntesis e vão se enganar. (…) Este é o primeiro governo que faz o que promete. Prometemos negociar com dureza e é o que estamos fazendo”, disse.
"Nós temos a justiça do nosso lado. Se nós temos que superar o medo, então não temos nada a temer", escreceu o líder no Twitter:

Apesar disso, reiterou que a decisão do povo será respeitada, seja qual for. Questionado por um jornalista se respeitará as urnas, respondeu: “Não tenho apego à cadeira. Eu não sou primeiro-ministro porque amo a cadeira.” Ele mencionou ainda outros processos de consultas populares que foram respeitados dentro da União Europeia, como na Irlanda, e pediu que o grupo faça o mesmo com a Grécia.

“Propusemos um acordo mais justo socialmente e que haja uma negociação sobre a dívida. Se não aceitam isso, o que posso fazer?”, questionou, durante entrevista em Atenas. “Nós fizemos tudo o que era humanamente possível nos cinco meses desde que chegamos ao poder”, afirmou.
                                                                          
    Manifestação desta segunda é considerada uma das maiores desde 2012
           Com relação ao prazo de 48 horas dado ao país para aceitar ou rejeitar a oferta feita pelo Eurogrupo, o premiê foi taxativo: “responderemos o ultimato em uma semana, quando tivermos a decisão do povo grego”. 

Ele disse ainda não acreditar que a Europa queira tirar a Grécia do euro. “Não o farão. O custo seria enorme para eles. Eles querem mais e mais de nós”, afirmou. “Queremos que essa coisa de ‘grexit’ [saída do país da zona do euro] tenha fim. Nós queremos deixar esse círculo vicioso da pobreza”.

“Eu pedi uma extensão [à chanceler alemã, Angela Merkel e ao presidente francês, François Hollande], eu falei sobre a necessidade de democracia. Ninguém pode me responder”. Ao mesmo tempo, o premiê grego disse que, se os credores oferecerem hoje um acordo, o país "paga o FMI amanhã".

Manifestação

Milhares de manifestantes se concentraram na noite (tarde em Brasília) desta segunda-feira (29/06) na praça Syntagma, em Atenas, em apoio ao governo do premiê Alexis Tsipras e para defender o voto “não” no referendo marcado pelo governo para decidir sobre o resgate da União Europeia à Grécia.
'Tudo é sempre sobre outra coisa': Por que é preciso punir Atenas

Ganhadores do Nobel de Economia acreditam que Grécia deve dizer 'não' a acordo com credores

O governo grego tem sido bastante pressionado pelos europeus por conta do referendo, marcado para o próximo domingo, 5 de julho. No próximo fim de semana, os gregos deverão responder à pergunta: “Você aceita as medidas propostas pelas Instituições Europeias?”. Ao passo que o governo grego incentiva a população pelo “não”, sócios europeus buscam reverter esse cenário.

"Votem sim", pede Juncker

Temendo que a possibilidade de que a Grécia saia da zona do euro, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pediu que o povo grego “vote pelo sim”. "Peço aos gregos, que amo profundamente, que votem sim seja qual que for a pergunta", afirmou. "A saída da Grécia da zona do euro nunca foi uma opção para mim", acrescentou o líder do bloco. 

Além de membros do Conselho Europeu e do FMI (Fundo Monetário Internacional) e BCE (Banco Central Europeu), a situação na Grécia também preocupa os governos europeus. 
Agência Efe

Merkel descartou hoje a possibilidade de se negociar com a Grécia uma linha de financiamento de curto prazo caso as negociações sejam retomadas, pois "não há nenhuma base legal" para isso, segundo a chefe de Governo alemã.

Em discurso nesta tarde no Parlamento inglês, o ministro de Finanças do Reino Unido, George Osborne, destacou no risco de uma saída da Grécia da zona do euro ao dizer que "ninguém deveria subestimar o impacto" que isso teria para a economia europeia e para a britânica.

Já o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, convocou também para esta segunda uma reunião extraordinária com uma comissão especial para avaliar as possibilidades de evitar um “contágio” da crise em Atenas.

Por sua vez, Hollande criticou as decisões dos últimos dias tomadas pelo governo grego encabeçado pelo partido de esquerda Syriza, especialmente a convocação do referendo. "Deploro a escolha. Estávamos perto de um acordo", disse.
                                               
                                                                   Agência Efe
                                    Aposentados leem manchetes dos jornais desta segunda

Para o premiê da Itália, Matteo Renzi, o "referendo grego não é um jogo entre a Comissão Europeia e Tsipras, mas um derby entre o euro e a dracma [antiga moeda grega]".

Entenda caso

Novas filas foram vistas em caixas eletrônicos nesta segunda na Grécia, poucas horas depois de o governo limitar a retirada de dinheiro a € 60 diários, bem como o fechamento de bancos e dos mercados até o dia 7 de julho. A partir desta terça (30/06), no entanto, aposentados poderão sacar até € 120.

No domingo (28/06), o primeiro-ministro do país, Alexis Tsipras, anunciou que o Banco Central da Grécia “foi obrigado” a decretar um controle de capitais a partir desta segunda.

Conforme o comunicado, poderão ser realizados pagamentos com cartão no país, assim como transações internas, por meio dos serviços bancários na internet. De acordo com o governo grego, as pensões dos aposentados não farão parte dessas limitações.

Divididos sobre referendo e calote, gregos começaram a lotar os caixas eletrônicos no sábado (27/06) para sacar dinheiro em Atenas, já expressando medo de ter suas divisas bloqueadas em um futuro próximo.

Esta terça é o prazo-limite estabelecido pelo Eurogrupo para o pagamento de uma parcela de 1,5 bilhão de dólares ao FMI.

Nos últimos meses, o governo grego — encabeçado pelo partido de esquerda Syriza — tentou negociar com os credores a possibilidade de um novo empréstimo no valor de 7,2 bilhões de euros, em troca de reformas orçamentárias. Uma das principais exigências do Eurogrupo é o corte no setor previdenciário, algo a que os ministros do Syriza radicalmente se opõem. (Com Opera Mundi)

Comentários