A Segunda Guerra Mundial, a vitória sobre o nazi-fascismo e a luta pela Paz

                                                                         
Rui Namorado Rosa

A Segunda Guerra Mundial é dita decorrer entre 1939 e 1945. Mas essa tragédia é melhor compreendida se encarada como um processo histórico, com seus antecedentes, frequentemente remontando à Primeira Guerra Mundial ou à Grande Depressão, e com suas consequências próximas e as que projectou até hoje e no nosso futuro


A Segunda Guerra Mundial é dita decorrer entre 1939 e 1945. Será todavia mais elucidativo tomá-la como um processo histórico, com seus antecedentes, frequentemente remontando à Primeira Guerra Mundial ou à Grande Depressão, e com suas consequências próximas e as que projetou até hoje e no nosso futuro. Aquele período discreto de seis anos compreende a convergência e aceleração de um feixe de processos à escala global, e é pontuado por diversos eventos notórios que, uns e outros merecem a nossa atenção.

Ao longo da década de 30, foram manifestas as aspirações hegemónicas e expansionistas do Japão e da Alemanha, suportadas nos respetivos ascensos industriais, regimes políticos autoritários e ultranacionalistas e posicionamento militarista.

Desde 1931 o Império Nipónico detinha protetorados e territórios anexados ou ocupados no continente Asiático – províncias chinesas, Manchúria, Coreia – e no Pacífico – Kurilas, Sakalina, etc. - aspirando dominar a Ásia-Pacífico. Em 1937, invadiu e entrou em guerra no continente contra a Republica da China, conquistando a capital Nanquim em Dezembro, massacrando a população e combatentes prisioneiros.

Na Manchúria, recorrentes conflitos fronteiriços com a URSS e a Mongólia conduziram à batalha de  Khalkhin Gol (11 de Maio-16 de Setembro de 1939), em que os Japoneses sofreram pesada derrota, finalmente forçando a assinatura de um Pacto de Neutralidade URSS-Japão em Abril de 1941 – dois meses antes de a previsível agressão da Alemanha à URSS vir a concretizar-se. 

Todavia a agressão à Republica da China prosseguiria desde 1938 a 1943 com o controlo de muitas vias de comunicação e frequentes (5 mil raids) bombardeamentos aéreos das principais cidades, porém confrontando-se sempre com a resistência no terreno e nunca submetendo o povo chinês.

Em Setembro de 1940, o Japão invade a Indochina Francesa. Em 7 e 8 de Dezembro de 1941, sem expressa declaração de guerra, desfere ataques sobre alvos detidos por potências Ocidentais: Pearl Arbor (Hawaii), Guam e Hong Kong, e invade Tailândia, Malásia e Filipinas. De imediato, EUA, Reino Unido, Canadá, Holanda e Austrália declararam guerra ao Japão; e a 11 de Dezembro, Alemanha e Itália respondem declarando guerra aos EUA. 

A ofensiva nipónica prosseguiu no decurso de 1942-43, embora perdendo ímpeto com o alargamento do seu vasto perímetro no Sudeste Asiático, Pacífico e Índico, atingindo a Birmânia, Java, Timor e Nova Guiné, travando importantes batalhas aeronavais, e travando ofensivas e contraofensivas terrestres na Indochina, Índia e China. 

Em 22-27 de Novembro de 1943, na cimeira do Cairo, Franklin Roosevelt, Winston Churchill e Chiang Kai-shek discutiram a estratégia para a derrota do Japão e o destino dos territórios ocupados ou em disputa, incluindo Coreia e Formosa. Recordar que entre 1927 e 1949 a China foi palco de guerra civil entre o Kuomintang (partido nacionalista) e o Exército Popular de Libertação, respetivamente liderados por Chiang Kai-shek e Mao Zedong, tendo ambos combatido o invasor nipónico (e mesmo cooperado nesse combate entre 1937 e 41).

Em Outubro de 1935, a Itália lançara-se na conquista sanguinária do seu império colonial no Nordeste de Africa, ocupando Etiópia, Eritreia e Somália, com a leniência das demais potências coloniais. Em 1936-39, Itália a Alemanha haviam alinhado com os rebeldes fascistas na guerra civil contra a República Espanhola. Em 22 de Maio de 1939, seria assinado o Acordo de Amizade e Aliança entre Alemanha e Itália, passo preliminar que conduziria, em 27 de Setembro de 1940, ao Pacto Tripartido Alemanha- Itália- Japão, a que nos meses subsequentes viriam a aderir Hungria, Roménia, Eslováquia, Bulgária e Jugoslávia, tendo assim formalizado uma vasta aliança político-militar designada por O Eixo.

Em Março de 1938, a Alemanha anexou a Áustria e em Março de 1939 invadiu a Checoslováquia, após já ter anexado os Sudetas. Volvidos sinuosos jogos diplomáticos com o Reino Unido, França, URSS, Polónia e países vizinhos, o Exército Alemão invadiu a Polónia a 1 de Setembro de 1939, suscitando imediato ultimato da França e Reino Unido à Alemanha e subsequente declaração de guerra, a 3 de Setembro, a que aderiram os principais países da Comunidade Britânica. 

O bloqueio naval à Alemanha rapidamente evoluiu para guerra naval sem quartel na Batalha do Atlântico (1939-45). Em Abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e Noruega; depois, a 10 de Maio atacou a Bélgica, Holanda e Luxemburgo. Após breve resistência, o Exército Alemão forçou a evacuação de tropas britânicas e francesas em Dunquerque, e finalmente invadiu a França. 

A 10 de Junho a Itália invadiu a França também; a 14 de Junho Paris foi tomada. A França capitula e acaba dividida em duas zonas de ocupação Alemã e Italiana e uma zona formalmente “neutra” governada por colaboracionistas. Nesse Verão de 1940, as forças aéreas do Reino Unido e Alemanha travam uma intensa batalha através do Canal da Mancha e Mar do Norte (Battle of Britain).

No início do Verão de 1941, as forças armadas Alemãs lançaram uma operação de grande envergadura contra a URSS, a designada Operação Barbarossa. Uma operação que tinha em vista a conquista territorial, o acesso a recursos económicos essenciais, o aniquilamento do estado Soviético e a afirmação da supremacia do Reich. A invasão da URSS, iniciada a 22 Junho 1941, foi uma grandiosa ofensiva com 3,6 milhões de tropas, 3000 tanques, 2700 aviões, prosseguindo em três direcções e visando três alvos – Mar Branco, Moscovo e Cáspio.

O Exercito Alemão, reforçado com forças Italianas e Romenas, depois também Finlandesas e Húngaras, em apenas duas semanas alcançou rápido avanço e infligiu pesadas perdas ao Exercito Vermelho. Forças do Eixo foram redirecionadas da frente Ocidental para a Oriental na Europa. Em Outubro Leninegrado e Sebastopol (Crimeia) estavam sitiadas. Sebastopol resistiria até Julho de 1942, quando foi capturada.

Leninegrado resistiria até Janeiro de 1944, quando as forças sitiantes foram obrigadas a retirar. A ofensiva sobre Moscovo foi travada nos subúrbios, sustida até perder ímpeto, e viria a ser forçada a retroceder em Janeiro de 1942. O Blitzkrieg fora travado. Mas à custa de milhões de vidas perdidas, de soldados caídos nos campos de batalha ou como prisioneiros em campos de trabalho forçado nazis, de populações civis dizimadas na frente de guerra antes de poderem ter tomado refúgio em direcção ao Leste. Mas não obstante as muitas perdas, a URSS salvaguardara vasto potencial humano e industrial, em grande parte transportado para Leste e reinstalado nos Urais e Sibéria, e mantinha portanto capacidade militar para remobilizar e tomar a contraofensiva, que se iniciaria a 5 de Dezembro de 1941.

Em 1942 a contraofensiva soviética eliminou a ameaça sobre Moscovo, mas a extensa frente de guerra foi consumindo vidas e meios de ambos os lados. Em Junho, o Exército Alemão relançou a ofensiva em direcção ao Cáucaso, ganhando posições ao longo dos rios Don e Volga. Para travar esse avanço, o Exército Soviético centrou a defesa em Estalinegrado (Volgogrado) que veio a ser palco de duríssima batalha, de Agosto de 1942 a Fevereiro de 1943, saldando-se por pesadas perdas de ambos os lados, até à rendição do 6º Exército Alemão e o retrocesso das forças invasoras. Estivera em causa ganhar e perder o acesso ao petróleo da bacia do Cáspio, essencial ao esforço de guerra de ambas as partes.

No Verão de 1943, a capacidade industrial soviética mantinha-se em pleno, acima da Alemanha e seus aliados. O comando nazi equacionou a possibilidade de retomar a ofensiva e ainda derrotar a URSS, onde o grosso do Exército Alemão já se encontrava. Lançou então uma tentativa em grande escala, a Operação Cidadela, sobre a região de Kursk, a Noroeste de Estalinegrado, onde o Exercito Soviético se encontrava acantonado, a que este respondeu com duas grandes contraofensivas que derrotariam o Exército invasor, em Julho-Agosto de 1943. Batalha que cobriu uma área superior à de Portugal, envolveu mais de 3 milhões de soldados, 10 mil tanques e 5 mil aviões, após a qual o Exército Soviético conseguiu avançar numa frente de 2000 km. Era o início do fim da agressão nazi à URSS.

Em 1943, os Aliados Ocidentais forçaram a retirada das forças do Eixo do Norte de Africa; ocuparam a Sicília e invadiram o Sul da Itália continental; lançaram uma ofensiva de bombardeamento aéreo da Alemanha, que incluiu a brutal tempestade de fogo de Hamburgo. No entretanto a Alemanha recuava na frente Leste. 

Na cimeira Teerão, 28-30 de Novembro de 1943 (imediatamente após a cimeira do Cairo), Roosevelt, Churchill e Estaline acordaram na abertura pelos Aliados a partir de França, em Maio do ano seguinte, de uma frente ocidental contra a Alemanha, e numa concorrente ofensiva na frente Leste por parte da URSS; e, bem assim, na entrada da URSS na guerra contra o Japão após a rendição da Alemanha.

Nos dezoito meses subsequentes à batalha de Kursk, o Exercito Soviético avançou persistentemente desde o território russo através da Ucrânia, Roménia, Bielorrússia e Polónia, vindo a atingir a fronteira Alemã em Dezembro de 1944. Este progresso adveio de superioridade estratégica e tática, assentes nos instrumentos de planificação do estado e na autonomia conferida aos chefes militares no terreno. Confluiu com levantamentos locais ou nacionais na Polónia, Eslováquia, Jugoslávia, Roménia e Bulgária. 

Confluiu também com a abertura da frente Ocidental pelos Aliados, iniciada no desembarque da Normandia a 6 de Junho de 1944; a 25 de Agosto a Resistência libertou Paris. A ofensiva na frente Leste teve o seu apogeu na operação Bagration, em Junho-Agosto de 1944, em território da Bielorrússia, onde o Exercito Soviético reforçado com forças Polacas destroçou o Exército Alemão.

Na Jugoslávia, o Exército Vermelho avançou em Setembro de 1944 e, juntamente com a Resistência, libertaram Belgrado a 20 de Outubro. Também em Outubro, a pressão da ofensiva soviética e a Resistência forçaram a retirada das forças Alemãs que, com forças Italianas e Búlgaras, ocupavam a Grécia desde Abril de 1941. A ofensiva na Hungria ocupada prolongou-se até à libertação de Budapeste em Fevereiro de 1945.

Em Dezembro-Janeiro de 1944-45, uma contraofensiva do Exercito Alemão nas Ardenas foi contida pelos Aliados; forças Soviéticas e Polacas progrediam do rio Vístula para o Oder. O espaço vital do III Reich desaparecia.

Em 4-11 de Fevereiro de 1945, na cimeira de Yalta (Crimeia) os líderes dos EUA, Reino Unido e URSS acordaram nos termos da ocupação da Alemanha, na reativação da frente Asiática pela URSS contra o Japão três meses após a rendição da Alemanha, no destino de territórios em disputa e na restauração da soberania de países ocupados, e bem assim na instituição da Organização das Nações Unidas. 

Na Europa, frente Ocidental, os Aliados avançaram até ao Reno. Na frente Leste, territórios disputados entre Polónia e Alemanha foram tomados pelos Exércitos Soviético e Polaco. Em Abril, os Aliados avançaram na Itália e na Alemanha e os Soviéticos alcançam Berlim. A 25 de abril, tropas Norte-Americanas e Soviéticas encontram-se nas margens do rio Elba.

A batalha de Berlim, breve mas violenta, decorre de meados de Abril a princípios de Maio, até à queda do regime nazi e a rendição da Alemanha. Dia 30 o Reichstag, símbolo do Império Alemão e do III Reich, é tomado. A guarnição da cidade rende-se a 2 de Maio e a capitulação definitiva das Forças Armadas dá-se a 8/9 de Maio. No entretanto, a cúpula do regime nazi suicidara-se (30 de Abril), o Presidente Roosevelt havia morrido (12 de Abril) sendo substituído por Harry Truman, e o líder fascista Mussolini fora morto pela Resistência Italiana (28 de Abril).

Na cimeira de Potsdam (próximo de Berlim), 17 de Julho a 2 de Agosto de 1945, os líderes Aliados acordam nos termos da rendição da Alemanha, da punição de crimes e reparações de guerra, fronteiras e destino de territórios em disputa na Europa, e exigem a rendição incondicional do Japão. No decurso desta cimeira, onde Harry Truman toma o lugar Franklin Roosevelt (falecido) e o Primeiro-Ministro Winston Churchill será substituído por Clement Attlee, na sequência de eleições (5 a 26 de Julho) e de mudança de governo britânico (de Conservador para Trabalhista, anunciando o ascenso dos valores da intervenção do estado na economia a favor do trabalho e do bem-estar social).

No Extremo Oriente, no decurso de 1944, o Exército Nipónico mobilizou mais de 400 mil homens e lançou a Operação Ichi-Go, a sua maior ofensiva na Guerra Sino-Japonesa, visando atacar bases aéreas americanas na China interior e segurar para si, com precário sucesso, a ligação ferroviária desde a Manchúria até o Vietnam; essa operação desenvolveu-se em três batalhas frente ao Exército Revolucionário Nacional, entre Abril e Dezembro de 1944, nas províncias de Henan, Hunan e Guangxi. Mas na guerra aeronaval frente aos EUA e aliados, o Japão sofreu derrotas sucessivas nas Filipinas. E, no decurso do primeiro semestre de 1945, sob persistente ofensiva aeronaval Aliada, o Japão ficaria ao alcance de sortidas directas a partir de bases aéreas Aliadas. 

Em 9-10 de Março, sob bombas incendiárias, Tóquio sofreu enormes perdas humanas; e até ao fim da guerra sucederam-se tempestades de fogo que destruíram sessenta outras cidades japonesas, com perdas que se estima tenham excedido meio milhão de vidas. Entretanto, forças Britânicas, Americanas, Australianas, ganharam posições na Birmânia, Bornéu e Okinawa (já no extremo Sul do Arquipélago Japonês); no confronto sino-japonês forças Chinesas contra-atacaram na província de Hunan, derrotaram e repeliram o invasor. O Japão perdia o seu império e encontrava-se sob bloqueio, sem aprovisionamentos, debilitado e já sem capacidade ofensiva.

Então, a 6 e 9 de Agosto de 1945, Hiroshima e Nagasaki são arrasadas por duas bombas atómicas lançadas pelos EUA, no que seria considerado um teste – agora em condições “reais” - à eficácia e impactos da arma atómica. Ainda em 8 de Agosto, três meses após a derrota da Alemanha, e segundo a decisão das cimeiras de Teerão e Yalta, a URSS declara guerra ao Japão e lança uma fulgurante ofensiva na Manchúria e Mongólia ocupadas, submetendo rapidamente o Exercito Nipónico sobre uma vasta área, maior que o teatro de guerra na Europa. A 18 de Agosto, lançará acções anfíbias para libertar Sakalina, Ilhas Kurilas, e Coreia, antecipando a chegada de tropas terrestres. A 15 de Agosto, o Império Japonês declara-se derrotado e a 2 de Setembro assinará o acto de rendição.

A URSS reafirmou a sua soberania sobre a Sakalina, as Ilhas Kurilas e parte da Manchúria, mas não sobre os territórios tradicionalmente chineses.

A Manchúria Chinesa iria prover uma importante base de apoio ao Exercito Popular de Libertação, liderado por Mao Zedong, que, nos quatro anos subsequentes, conduziu o processo de reunificação e estabelecimento da República Popular da China, a 1 de Outubro de 1949. Sucesso alcançado também contra a persistente interferência externa dos EUA que tomara partido activo pelo Kuomintang (Partido Nacionalista) e que até mesmo mobilizara tropas Japonesas, após a rendição destas frente aos Aliados, para prosseguirem a guerra contra o Exercito Popular de Libertação.

Quanto à Coreia, forças dos EUA desembarcaram em 8 de Setembro de 1945 e instalaram um governo de sua confiança; cinco anos volvidos invadem e lançam uma ofensiva que levam até à fronteira da China; a RPC entra então na guerra e faz retroceder a frente até ao paralelo 38, onde violentos combates eclodiram em Janeiro de 1951 e prosseguiram por mais dois anos; o cessar-fogo foi demoradamente negociado através da ONU, até o armistício ser alcançado a 25 de Julho de 1953; esta guerra estima-se tenha custado 4 milhões de vidas.

A Segunda Guerra Mundial foi uma calamidade humanitária e material. Custou a vida a mais de 60 milhões de humanos. Cerca de 15 milhões de civis soviéticos, 15 milhões chineses, 5 milhões polacos; cerca de 10 milhões de militares soviéticos, 5 milhões alemães, 4 milhões chineses, etc. etc. A destruição de extensíssimo património e de infraestruturas básicas à vida das populações envolvidas.

Porém, a derrota do nazi-fascismo, que promovera a causa da guerra, significou a oportunidade de ulterior avanço dos princípios de convívio internacional e de progresso social, de alento à mudança de rumo político em todo o mundo e do salto em frente dos movimentos de libertação nacional rumo à descolonização e queda dos velhos impérios Europeus. É um mundo completamente diferente aquele que emerge da dolorosa convulsão mundial que a Guerra Mundial foi. A Republica Popular da China, em 1949, e outros novos países independentes emergem no concerto das nações. Em Bandung, Indonésia, a 24 de Abril de 1955, o presidente Sukarno da Indonésia, primeiros-ministros Chou En Lai da China, Jawaharlal Nehru da Índia, presidente Nasser do Egito, e outros líderes de países recém-independente ou ainda em luta pela independência em África e Ásia, juntaram-se para se unirem no que em 1961 seria o Movimento dos Não Alinhados. O mundo atravessava uma radical mudança. A Revolução dos Cravos e a libertação do Vietnam, em Abril de 1975, e a Acta final de Helsínquia adotada a 1 de Agosto desse ano por 35 países na Conferencia para a Segurança e Cooperação na Europa, assinalam o apogeu desse ímpeto generoso e libertador.

A Organização das Nações Unidas, cujo tratado de fundação é a Carta aprovada por 51 estados em 26 de Junho de 1945, seria um renovado instrumento de concertação internacional visando a manutenção da paz e a segurança internacional, o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações e a promoção do progresso social, condições de vida e direitos humanos. Porém, com suas contradições, insuficiências e erros, de que a criação do estado de Israel em 1947 e ambiguidades face à guerra da Coreia foram exemplos precoces das limitações inerentes à capacidade de a ONU formular resoluções e aplicá-las.

Assim, do mesmo passo subsistiram as contradições socioeconómicas e ideológicas, reafirmou-se a polaridade capitalismo-comunismo, Ocidente-Oriente. O discurso de Winston Churchill (Fulton, EUA, 5 de Março de 1946) e a constituição da NATO (Washington, 4 de Abril de 1949), reafirmaram a prevalência da reserva mental nas relações internacionais e a postura de confronto que se corporizou na Guerra-Fria.

O retrocesso de valores humanos e democráticos no mundo Ocidental e a dissolução e queda da URSS e das democracias populares do Leste só aparentemente levaria ao termo da guerra-fria e proporcionaria o desanuviamento. Pelo contrário, aceleraram de facto a trajectória de alienação de valores humanos e sociais, vincando a face sinistra de um capitalismo senil, parasitário e agressivo, de configuração fascista. Ultrapassada a guerra-fria, os focos de conflito e agressão multiplicaram-se e a ordem internacional fragilizada é colocada em causa recorrentemente.

Porém, uma vez mais, o mundo é já outro, a grande vaga de esperanças e de transformações que avança desde a derrota do nazi-fascismo abarca agora já o mundo todo. Multiplicam-se projetos nacionais autónomos e estruturas de cooperação internacional fora do quadro pré-existente. As correlações de força evoluíram.

O combate aos valores retrógrados da exploração, da exclusão social e económica e da intolerância, a par da promoção da Paz, da cooperação e da solidariedade internacional, permanecem na ordem do dia. Unamo-nos e alarguemos os nossos esforços para derrotar as ameaças e abrir caminho para um mundo novo à nossa frente.

Rui Namorado Rosa
CPPC, “Nos 70 anos da derrota do nazi-fascismo, celebrar a vitória, defender a Paz”, Lisboa 16 de Maio de 2015.


Bibliografia:
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The Cambridge History of the Second World War, Editors: Evan Mawdsley, John Ferris, Richard Bosworth, Joseph Maiolo, Michael Geyer, Adam Tooze, Cambridge University Press, April 30, 2015, 3 volumes.

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