Tribunal de Ética de Jornalismo condena Eastman por participação na ditadura

                                                  
Augustin Edward Eastman (Ilustração: www.lavozdelsandinismo.com)

O Tribunal de Ética e Disciplina do Conselho Metropolitano do Colégio de Jornalistas do Chile aprovou oficialmente a expulsão de Augustin Edward Eastman, proprietário do grupo El Mercurio, que controla jornais como o El Mercurio e La Segunda. A empresa é parceira do sistema Globo no Grupo de Diários da América (GDA), que reúne os grandes proprietários de veículos de comunicação na América Latina.

O processo judicial, que teve início em novembro de 2014, evidencia o papel do magnata das comunicações como colaborador da Central Intelligense Agency, a CIA,  da qual recebeu fundos, foi colaborador em diversas operações e para a qual solicitou a definição da linha editorial com o propósito de derrubar o governo Salvador Allende. 

O envolvimento foi comprovado por meio de relatórios sigilosos do governo dos Estados Unidos, recentemente abertos ao público, que apontam ainda a transferência de U$ 2 milhões da CIA para o The Mercury durante o governo Salvador Allende.

O advogado Miguel Schweitzer Walters, que representa o empresário tem 10 dias para recorrer ao Tribunal Nacional de Ética e Disciplina do Colégio de Jornalistas (TRINED).

Em comunicado oficial, a Associação de Jornalistas de Chile divulgou que “o Tribunal de Ética e Disciplina do Conselho Metropolitano do Colégio de Jornalistas do Chile (TRED) sancionou a expulsão de Agustín Edwards Eastman, após julgamento iniciado em 15 de novembro de 2014, no qual foi considerado culpado por violar disposições do Código de Ética Jornalística.”

A denúncia foi apresentada pelo Conselho Nacional da Associação de Jornalistas de Chile, com base em documentos secretos dos EUA desclassificados recentemente, nos quais Edwards Eastman aparece como um jornalista e proprietário da empresa El Mercurio SAP, trabalhando em operações da CIA e obtenção de fundos da administração Nixon para apoiar uma política editorial da desinformação e, assim, contribuir para minar a democracia para facilitar o golpe contra Presidente Salvador Allende “.

Além disso, outras alegações comprovadas contribuíram para a decisão, como o fato de “durante o julgamento ter sido resgatada a situação da liberdade de imprensa antes do golpe de 1973, e o desempenho do jornalista Edwards Eastman,  que teria o dever  de defender a liberdade de expressão, a ética e a segurança dos jornalistas “; e “a comprovada participação de Edwards Eastman, na qualidade de diretor do jornal El Mercurio, de Santiago, em cumplicidade com a CNI, para a publicação de matéria na edição de 9 abril de 1987, sobre dois estudantes da Universidade de Santiago (USACH), com fotografias de seus rostos em círculos, como líderes dos distúrbios graves ocorridos em O’Higgins Parque durante a visita do Papa João Paulo II.

Mesmo após a comprovação da inocência dos jovens, o jornal não esclareceu a falsa notícia, de acordo com a Associação de Jornalistas de Chile.”

Em 3 de abril  de 1987, o papa João Paulo II visitou o Chile, e testemunhou atos de repressão no país nos protestos realizados durante a cerimônia de beatificação de Teresa dos Andes, no Parque O’Higgins. 

João Paulo II manteve uma longa reunião com Pinochet na qual conversaram sobre a retomada da democracia. O Pontífice incentivou Pinochet a fazer a mudança no regime e solicitou, inclusive, a renúncia do ditador. No ano seguinte, foi convocada a realização do plebiscito em 5 de outubro.
                                                           
                                                                       
Ação militar

O pesquisador norte-americano Peter Kornbluh, autor do relatório “O Arquivo Pinochet”, aclamado pelo jornal Los Angeles Times como o “Livro do Ano”, em 2003, Agustín Edwards Eastman foi o parceiro mais importante da CIA para criar as condições que resultaram no golpe de Estado no Chile:

— Logo após a vitória apertada de Allende, Edwards começou a pressionar as autoridades norte-americanas, em Santiago, a fim de iniciar uma ação militar. Como não obteve resultados, foi aos Estados Unidos, onde, conseguiu uma entrevista com o então presidente Nixon, com a ajuda do amigo Donald Kendall, gerente da Pepsi-Cola, muito próximo ao presidente. 

Na manhã de 15 de setembro, 11 dias após Allende ganhar as eleições, Edwards Eastman reuniu-se  com o Conselheiro de Segurança de Nixon, Henry Kissinger, e o procurador-geral dos EUA John Mitchell.

Edwards Eastman encontrou-se também com o diretor da CIA, Richard Helms. De acordo com os relatórios do governo dos EUA, o assunto principal foi a oportunidade eventual de uma ação militar no Chile.

(Com El Mostrador, Brasil 247, Associação Brasileira de Imprensa)

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