Termina em Túnis o Fórum Social Mundial mais difícil da sua história

                                                                      
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 Encerramento do Fórum Social Mundial de 2015 é marcado pela ausência de movimentos sociais de peso da Tunísia. 

Sergio Ferrari (*)

Desde Túnis 

Começou nas ruas da capital tunisiana com uma substanciosa mobilização cidadã, na última terça-feira, 24 de março, e terminou neste sábado, 28, com outra manifestação. Desta vez em solidariedade à Palestina, menos concorrida que a do início e significativamente menos nutrida do que a de conclusão do Fórum Social Mundial (FSM) 2013.

Com a ausência quase total de grandes atores dos dois fóruns tunisianos: a União Geral de Trabalhadores de Túnis (UGTT), os Diplomados Desempregados e, inclusive, as Mulheres Democráticas. E com menos presença de organizações internacionais de primeiro nível, como a Via Campesina. A presença ativa da Marcha Mundial de Mulheres e da rede do Comitê pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo (CADTM), juntamente com alguns militantes de um punhado de sindicatos europeus foi a exceção. 

A complexa conjuntura política desde os atentados do Museu Bardo, em 18 de março, aporta uma chave para a explicação. O país não terminou de ser sacudido pelo choque e as prioridades de mobilização voltam-se para dentro. Neste domingo, 29, milhares de cidadãos – incluída a UGTT – saíram às ruas convocados pelo governo e pelos principais partidos políticos tunisianos juntamente com várias dezenas de convidados internacionais especiais para reforçar a frágil unidade nacional sob as bandeiras da luta contra o terrorismo. 

Convergência na ação 

Até um par de horas antes da manifestação de encerramento, o FSM protagonizou, na Universidade El Manar, o que é a sua essência: o debate, o intercâmbio e o consenso sobre uma agenda comum para as principais mobilizações da sociedade civil internacional. 

Desde a quinta-feira, 26, à tarde, cerca de 30 Assembleias de Convergência temáticas buscaram sistematizar conclusões. A do Clima, com vistas à Cúpula de Paris das Nações Unidas, de dezembro próximo, agendou ações e mobilizações que serão realizadas nos diversos continentes durante todo o ano para concluir, na capital francesa, em uma espécie de Contracúpula dos Povos, que incluirá ações pacíficas de desobediência cidadã. 

A da Água e da Terra elaborou uma Declaração detalhada que reitera que "a água, a terra e as sementes são bens públicos e não mercadorias”, dando continuidade a um processo de reflexão, que nasceu no FSM de Dakar, em 2011. 

A proposta da Assembleia dos Meios Livres insiste em reforçar a informação e a comunicação a serviço dos movimentos sociais.
                                                            
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Uma extensa programação com eventos paralelos continuou sendo a tônica no FSM 2015. 

Enquanto isso, o Fórum Parlamentar Mundial, que se reuniu na quinta-feira, 26, na mesma universidade e que funcionou como um espaço de convergência de legisladores progressistas emitiu cinco moções sobre temas da atualidade: a construção da paz; a migração; a dívida injusta; as multinacionais, assim como a renda mínima cidadã. 

O futuro do FSM 

Voltou a aparecer como tema transversal durante todo o FSM. E centraliza a agenda do Conselho Internacional do Fórum em sua reunião avaliativa deste domingo, 29, e, nesta segunda-feira, 30. O futuro do FSM animou numerosos espaços de reflexão em Túnis e foi o tema central de uma das assembleias de síntese do sábado, 28, pela manhã, convocando una boa centena de participantes. 

O que está em jogo não é só o lugar de realização do próximo Fórum Social Mundial, mas também o momento da sua realização; a metodologia de funcionamento; a presença e visibilidade do mesmo no plano midiático internacional e, inclusive, o papel do atual Conselho Internacional, que atua como "instância facilitadora”. Em síntese, todo o Fórum se abre para o debate. 

"O FSM é uma nova invenção política. Expressa outra forma de conceber e fazer a política…Tem apenas 15 anos de existência e as mudanças exigem tempo”, sintetizou o dirigente brasileiro Chico Whitaker, um dos co-fundadores e pessoa de referência desse espaço altermundialista. 


(*) Sergio Ferrari é colaborador de Adital na Suiça. Colaboração E-CHANGER (Com a Adital)

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