Primeira edição da "Charlie Hebdo" após o ataque esgota em poucas minutos

                                                           


Igor Waltz (*)

A primeira tiragem da revista Charlie Hebdo após o atentado de 7 de janeiro, no qual morreram 12 pessoas, esgotou nas bancas de rua de Paris nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira, dia 14. A edição com 3 milhões de exemplares foi produzida nas instalações cedidas pelo jornal Liberátion, sob forte proteção policial. A reimpressão de mais 2 milhões de exemplares deve ser liberada nesta quinta-feira, dia 15.

Ainda na madrugada, longas filas já haviam se formado em frente às bancas parisienses. Nos quiosques próximos à Avenida Champs Elysees, a revista teria se esgotado em menos de cinco minutos. Alguns jornaleiros também relataram brigas entre clientes pelos últimos exemplares.

“Distribuir a Charlie Hebdo aquece meu coração, porque dizemos a nós mesmos que ele ainda está aqui. Ele nunca foi embora”, disse Jean-Baptiste Saidi, um motorista de van que entregava cópias antes do amanhecer.

A tiragem da semanário, que traz na capa uma imagem do profeta Maomé chorando enquanto segura um cartaz escrito “Eu sou Charlie”, sob o título “Tudo está perdoado”, foi três vezes maior do que a prevista inicialmente, segundo informações da distribuidora MPL.
                                                                         
Em Paris, filas se formaram ainda na madrugada em frente às bancas de jornal (Crédito: Getty Images)

O aumento se deve ao número de pedidos na França e no exterior. A demanda foi impulsionada não apenas pelo choque provocado na França e no resto do mundo pelos ataques, mas também pelo fato de que o dinheiro das vendas será repassado às famílias das vítimas. De acordo com Patrick Pelloux, um dos cartunistas da Charlie Hebdo, a publicação deve ser traduzida para 16 idiomas, entre eles o português, e será vendida em 25 países.

Diversas cópias apareceram em sites de vendas online, como eBay, algumas atingido o patamar de R$ 3 mil. O preço de capa normalmente é cerca de R$ 10.

Críticas

Apesar da comoção em torno do novo número da Charlie Hebdo, autoridades muçulmanas demonstraram indignação por considerar a imagem do profeta Maomé na capa desnecessariamente provocativa.

A organização que representa os muçulmanos no Egito, Dar al-Ifta, classificou a imagem como uma “provocação injustificada para os sentimentos de 1,5 bilhão de muçulmanos no mundo”. “Denunciamos a violência e respeitamos a liberdade de opinião, mas a outra parte deve compreender que amamos o profeta Maomé”, defendeu.

Embora a revista tenha colocado a charge de Maomé na capa, não há outras representações do profeta no interior da revista. No entanto, há diversas sátiras dos extremistas muçulmanos.

Na terça-feira, dia 13, as principais organizações muçulmanas na França pediram calma à comunidade e apelaram para que ela evite as reações emocionais à publicação.

Entre os países muçulmanos, a imprensa pouco citou a nova edição. Na Turquia, jornais descreveram o novo número do semanário satírico, mas não o exibiu. Já no Irã, o teor foi mais crítico. O site de notícias Tabnak afirmou que Charlie “insulta mais uma vez o profeta” e contribui para a “islamofobia” no Ocidente.

Apesar da desaprovação de autoridades muçulmanas, jornais, revistas e sites do mundo todo justificaram o motivo de endossarem a publicação da capa polêmica. “Foi por causa de uma charge de Maomé que morreram, é com uma charge de Maomé que voltarão à vida”, escreveu o Jornal de Negócios de Portugal.

“Por um lado, ao publicar essa capa, corremos o risco de ofender alguns dos nossos leitores. Por outro, se não a publicarmos, ofenderemos um número ainda maior dos nossos leitores, que querem que tomemos uma posição contra o que esses ataques na França representaram”, explicou o editor-chefe do site australiano News.com.au, Daniel Sankey.

(*) Com informações da AFP e da BBC. (Com a ABI)

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