Em 2016, riqueza de 1% da população mundial será igual à dos outros 99%, diz ONG. O que significa isto? Que a concentração de renda é cada vez maior...

                                                                                                           Glenn Halog / Flickr
Participante do movimento Occupy Wall Street fantasiado de investidor no distrito financeiro de São Francisco, EUA, em 2011
                                                                                          
Relatório divulgado hoje pela organização Oxfam International estima que 1% da população, cerca de 70 milhões de pessoas, controlará 50% da riqueza mundial no próximo ano, mesma porcentagem dividida entre as outras 7 bilhões
      
Daqui a um ano, o aumento da desigualdade fará com que 1% das pessoas mais ricas tenha maior riqueza do que os outros 7 bilhões de habitantes do planeta. É a previsão da organização não governamental Oxfam International em seu relatório “Wealth: Having it All and Wanting More” [“Riqueza: ter tudo e querer mais”, em tradução livre].

O estudo foi divulgado hoje (19/01) antes da próxima reunião anual do Fórum Econômico de Davos, que reúne a elite econômica mundial na cidade suíça.

A crise tem aumentado nos últimos anos a fenda da desigualdade, enriquecendo os mais ricos, com destaque para os setores farmacêutico, financeiro e de seguros, em uma concentração da riqueza sem precedentes na história humana.

Este 1% da elite mais rica do mundo é formado por 70 milhões de pessoas, cujo acúmulo de riquezas não deixa de crescer face ao empobrecimento da maioria. Concretamente, 50% da riqueza do planeta estarão em breve nas mãos deste grupo.

No relatório, afirma-se que 20% dos bilionários que aparecem na lista Forbes de 2014 têm interesses nos setores financeiro e de seguros. O valor das fortunas desta porcentagem da população aumentou 11% nos doze meses anteriores a março de 2014, quando se publicou a lista.

No entanto, entre 2013 e 2014 a riqueza que experimentou um maior incremento foi a dos bilionários que, segundo a lista Forbes, desenvolvem atividades nos setores farmacêutico e de atendimento sanitário.

Ambos os setores (farmacêutico e de saúde) gastaram cerca de 500 milhões de dólares [mais de 1,3 bilhão de reais] em lobby, o que permitiu aos bilionários com interesses nestes âmbitos incrementarem sua fortuna em 47% no último ano.

A Oxfam considera necessário situar a luta contra a desigualdade como "objetivo internacional". Propõe também um "esforço fiscal justo e equitativo", aumentando a carga tributária do capital. O freio à evasão e à fraude fiscal das grandes empresas são outras propostas presentes no relatório, que não põe em causa o próprio sistema capitalista.

A defesa de serviços públicos gratuitos e universais, a fixação de salários mínimos e o apoio específico às mulheres, especialmente prejudicadas por este sistema desigual, são outras indicações da organização, assim como a defesa de programas de proteção social "adequados" para as pessoas mais pobres, incluindo sistemas de garantia de rendimentos mínimos.

Nada se diz no estudo, de resto, sobre a intrínseca tendência do capitalismo, a nível histórico, para a acumulação de capital como objetivo fundamental. 

O alargamento do mercado e a progressiva submissão dos valores de uso aos valores de troca, num quadro de relacionamento capital/trabalho baseado na relação de extorsão salarial, constitui a única via para garantir o incremento das mais-valias e taxas de lucro por parte da classe dominante. Uma lógica sistêmica de crescente expropriação de força de trabalho que conduz inevitavelmente para a desigualdade.

A experiência histórica e as projeções futuras indicam que não há reforma "humanizadora" possível do sistema e que a lógica capitalista mundial só pode ser retificada quebrando e ultrapassando o próprio capitalismo como sistema histórico. (Com Opera Mundi/Diário Liberdade)

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