Mostra Conexões para uma Arte Pública começa terça e vai até domingo

                                                                          
A Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre, dá início à mostra Conexões para uma Arte Pública na terça, 16 de dezembro, em São Paulo. Programação diária prossegue até domingo, 21/12, em São Paulo

A mostra Conexões para uma Arte Pública promove o encontro entre grupos teatrais de Porto Alegre, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo, grupos esses que mantém espaços artísticos que atuam como pontos de recepção e irradiação de cultura.

O projeto, desenvolvido pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre, recebeu o Fundo de Apoio à Cultura (FAC RS) para a circulação nos espaços e pontos de cultura dos grupos Tá na Rua, do Rio de Janeiro; Pombas Urbanas, de São Paulo; e Casa do Beco, de Belo Horizonte. A ideia é levar ao centro do país uma significativa amostra do trabalho artístico e pedagógico que o grupo gaúcho vem desenvolvendo ao longo dos anos em Porto Alegre.

O projeto se iniciou dia 2 de dezembro, no Rio de janeiro, e se encerra dia 21 de dezembro em São Paulo (programação detalhada abaixo).  Os grupos residentes abrem caminho para o Ói Nóis apresentando também seus trabalhos dentro da mostra: o Tá na Rua, do Rio, apresenta seu “Auto de Natal”; o Grupo do Beco, de BH, apresenta “Quando eu vim para um Belo Horizonte” e o paulista Pombas Urbanas apresenta “Era uma vez um Rei”.

Os grupos/espaços escolhidos para compor este projeto tem uma longa trajetória teatral. São exemplos de um trabalho em favor da construção da cidadania e identidade. Estão na contramão de uma visão que pode ser chamada de “cultura do efêmero”. Os anfitriões, além de receber a Tribo, apresentam seus trabalhos. 

Desta forma, a mostra Conexões para uma arte pública transforma-se num verdadeiro laboratório cultural que amplia e promove a troca, a difusão e a fruição de bens e serviços culturais, estabelecendo um diálogo com a ideia de arte pública como cultivo de uma arte destinada ao aprimoramento e à melhoria das condições de vida da maior parte da população. A programação é composta por espetáculos de teatro, performances, ações formativas e o Seminário “Conexões para uma arte pública”, com o objetivo de promover um diálogo e refletir sobre o conceito de arte pública.

Em cada cidade, a Tribo realizará duas apresentações do espetáculo de teatro de rua “O amargo santo da purificação” (no centro e em um bairro popular), a performance “Onde? Ação nº 2”, a demonstração técnica/desmontagem de Tânia Farias “Evocando os mortos – Poéticas da experiência”, o workshop “Vivência com o Ói Nóis Aqui Traveiz”, a exibição do filme “Viúvas – performance sobre a ausência” e uma mostra das oficinas do Ói Nóis Aqui Traveiz, com os exercícios cênicos “Minha cabeça era uma marreta” e “Yerma”. Todas as atividades serão gratuitas e abertas ao público interessado.

O seminário “Conexões para uma arte pública” contará com a presença de Amir Haddad, um dos expoentes do teatro de rua no Brasil, Marcelo Palmares, do grupo Pombas Urbanas, Paulo Flores, um dos fundadores do Ói Nóis Aqui Traveiz e precursor do teatro de rua no Sul do Brasil e Nil César, do Grupo do Beco.

Conexões para uma arte pública ganhou o Edital Pró-Cultura RS /Fundo de Apoio à Cultura (FAC) Movida Cultural.

PROGRAMAÇÃO

São Paulo/ Grupo Anfitrião Pombas Urbanas

16 de dezembro, terça
17h: Abertura com espetáculo “Era uma vez um rei”, do Pombas Urbanas, na Praça da República - Campos Elíseos

17 de dezembro, quarta
13h: Performance de rua “Onde? Ação nº 2” com o grupo Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz no Pátio do Colégio
20h: Desmontagem “Evocando os Mortos – Poéticas da Experiência” com a atriz Tânia Farias do grupo Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz no Teatro Contadores de Mentiras em Suzano SP

18 de dezembro, quinta
17h: Espetáculo de teatro de rua ”O Amargo Santo da Purificação” com o grupo Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz na Praça da República - Campos Elíseos
20h: Mostra de Oficinas do Ói Nóis Aqui Traveiz – Exercício Cênico “Minha cabeça era uma Marreta” no Centro Cultural Arte em Construção na Cidade Tiradentes

19 de dezembro, sexta
14h: Workshop “Vivência com o Ói Nóis Aqui Traveiz” no Ponto de Cultura
20h: Seminário “Conexões Para Uma Arte Pública” com Amir Haddad, Paulo Flores, Marcelo Palmares, Luis Carlos Moreira, Nil César e Cleiton Pereira com Mediação de Valmir Santos no  Centro Cultural Arte em Construção na Cidade Tiradentes

20 de dezembro, sábado
15h: Filme “Viúvas – Performance Sobre a Ausência” e bate-papo sobre o trabalho do Ói Nóis Aqui Traveiz na Cia do Feijão - Centro
20h: Mostra de Oficinas do Ói Nóis Aqui Traveiz – Exercício Cênico “Yerma” no Centro Cultural Arte em Construção na Cidade Tiradentes

21 de dezembro, domingo
17h: Espetáculo de teatro de rua “O Amargo Santo da Purificação” com o grupo Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz no Parque do Rodeio

Sobre os trabalhos escolhidos pelo Ói Nóis para a Mostra em São Paulo

Para o seu trabalho de pesquisa de Teatro de Rua “O amargo santo da purificação” a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz escolheu a história do revolucionário brasileiro Carlos Marighella, que viveu e morreu durante períodos críticos da história contemporânea do nosso país, sendo protagonista na luta contra as ditaduras do Estado Novo e do Regime Militar.

Na sequência de cenas o público assiste momentos importantes desta trajetória: origens na Bahia, juventude, poesia, ditadura do Estado Novo, resistência, prisão, Democracia, Constituinte, clandestinidade, Ditadura Militar, luta armada, morte em emboscada e o resgate histórico, buscando um retrato humano do que foi o Brasil no século XX. 

É uma história de coragem e ousadia, perseverança e firmeza em todas as convicções. A coerência dos ideais socialistas atravessando uma vida generosa e combatente, de ponta a ponta. Marighella não abdicou ao direito de sonhar com um mundo livre de todas as opressões. Viveu, lutou e morreu por esse sonho.

A performance “Onde? Ação nº2” provoca de forma poética reflexões sobre o nosso passado recente e as feridas ainda abertas pela ditadura militar. A ação performática se soma ao movimento de milhares de brasileiros que exigem que o Governo Federal proceda a investigação sobre o paradeiro das vítimas desaparecidas durante o regime militar, identifique e entregue os restos mortais aos seus familiares e aplique efetivamente as punições aos responsáveis.

Na demonstração técnica/desmontagem “Evocando os mortos - Poéticas da experiência”, Tânia Farias desvela os processos de criação de algumas personagens de sua trajetória, que se mescla ao caminho da própria Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz.

O filme “Viúvas, performance sobre a ausência” mostra a encenação homônima realizada na Ilha do Presídio - situada entre as cidades de Porto Alegre e Guaíba - nas ruínas do presídio onde foram encarcerados presos políticos no período da ditadura civil militar no Brasil. 

O espetáculo faz parte da pesquisa teatral que o grupo vem realizando sobre o imaginário latino-americano e sua história recente. Partindo do texto Viúvas de Ariel Dorfman e Tony Kushner, a Tribo dá continuidade à sua investigação da cena ritual, dentro da vertente do Teatro de Vivência. 
                                                           
“Viúvas” mostra mulheres que lutam pelo direito de saber onde estão os homens que desapareceram ou foram mortos pela ditadura civil militar que se instalou em seu país. É uma alegoria sobre o que aconteceu nas últimas décadas na América Latina, e a necessidade de manter viva a memória deste tempo de horror, para que não volte mais a acontecer.

O Workshop “Vivência com a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz” (25 vagas, 4 horas/aula) consiste em um encontro coordenado pelos profissionais do grupo, que investigará o movimento e a voz para a ampliação do corpo do ator e a ocupação do espaço teatral e urbano.

A mostra das oficinas do Ói Nóis Aqui Traveiz compartilha o processo pedagógico utilizado pela Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz através dos exercícios cênicos criados em suas oficinas. O exercício cênico “Minha cabeça era uma marreta” fez parte da Oficina para formação de atores com coordenação dos atuadores Tânia Farias, Paulo Flores e Clélio Cardoso. 

Trata-se de uma das mais polêmicas e enigmáticas peças de Richard Foreman, um dos dramaturgos mais controvertidos e badalados dos Estados Unidos. Já o exercício cênico “Yerma” foi elaborado na Oficina Popular de Teatro do Bairro Bom Jesus (situado numa das regiões mais violentas de Porto Alegre) com coordenação de Tânia Farias. “Yerma” foi escrita por Federico García Lorca (1898-1936) em 1934. 

É uma obra popular de caráter trágico, ambientada em Andaluzia, no início do século XX. Conta a história de um casal que segue, segundo as tradições de sua comunidade, as prescrições cotidianas do casamento. É uma tragédia sobre todos os que não conseguem realizar a sua plenitude vital ou que vêm definhar o seu potencial criativo em razão da ignorância, do preconceito, da repressão ou das forças desencontradas do destino.


Sobre a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz 

Criada em 1978 com uma proposta radical de inovação da linguagem cênica, a Tribo desenvolve trabalhos nas áreas de criação, com teatro de rua e o “teatro de vivência”; na área da formação, com a Escola de Teatro Popular e o projeto “Teatro como instrumento de discussão social”, e também na área do compartilhamento, com a realização da Mostra e Festival Jogos de Aprendizagem. As publicações acerca de seu trabalho, o registro audiovisual dos espetáculos em DVD e a publicação semestral da Cavalo Louco – Revista de Teatro da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, contribuem para a memória, uma vez que o grupo desenvolve importante trabalho há mais de 35 anos.

Para a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz o teatro é um lugar de invenção e experimentação, um meio de transformação, de mudança de mentalidades, em nível social e também individual. Seu trabalho de investigação sobre a linguagem procura uma lógica diversa da cultura dominante, que provoque um estranhamento em relação à percepção usual de mundo e que seja expressão das contradições da sociedade na qual está inserido. 

Todo o projeto desenvolvido pelo grupo está diretamente relacionado com o seu centro de criação, a Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, que ocupa lugar de destaque entre os espaços culturais do Estado, sendo igualmente apontada como uma referência de âmbito nacional. Na Terreira da Tribo funciona a Escola de Teatro Popular que além das oficinas, oferece para a cidade inúmeros seminários e ciclos de discussão sobre as artes cênicas, consolidando a ideia de uma aprendizagem solidária. A Terreira da Tribo, criada em 1984, sob o signo do teatro revolucionário de Antonin Artaud, abrigou desde a sua criação diversas manifestações culturais, além de oportunizar às pessoas em geral  o contato com o fazer teatral.

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