Stalingrado: a batalha que marcou o início da derrocada nazista

                                                                
                      Soldados alemães rendem-se aos soviéticos em 25 de janeiro de 1943 

Alguns dias depois, a Alemanha perderia a Batalha de Stalingrado

- Setembro de 1942: a soma das conquistas de Hitler era cada vez mais assustadora. 

Quando não dominava diretamente os territórios europeus, o nazi-fascismo contava com a colaboração de regimes amigos pré-existente ou fantoches impostos por Berlim: França, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Áustria, Hungria, Tchecoslováquia, Polônia, os Bálcãs, a Grécia e outros estavam abertos às divisões Panzer. 

A Wehrmacht hitlerista controlava desde a Noruega, no Oceano Ártico, até o Egito, no norte da África. O Mar Mediterrâneo convertera-se numa espécie de lago do Eixo, dominado de Oeste (Espanha) a Leste (Turquia e as proximidades da foz do Nilo) pelas forças navais da Alemanha nazista e da Itália fascista.

No Atlântico, os submarinos alemães afundavam 700 mil toneladas por mês de barcos britânicos e norte-americanos, enquanto as tropas nazistas do 6º Exército do marechal Friedrich von Paulus rumavam a Moscou. Já haviam chegado ao Volga, exatamente ao norte de Stalingrado, em 23 de agosto. Dois dias antes, a suástica fora hasteada a 5.642 metros de altitute, no monte Elbruz, no Cáucaso. Os campos petrolíferos de Maikop, que produziam anualmente 2,5 milhões de toneladas de petróleo, haviam sido conquistados em 8 de agosto.
                                                                 
Com 600 mil habitantes, a cidade de Stalingrado concentrava boa parte da produção bélica da União Soviética. Suas fábricas destacavam-se, sobretudo, pelos blindados. Nomeada em homenagem ao Joseph Stalin, convertera-se num símbolo do poderio militar e industrial da União Soviética. Ou seja: tomá-la significava, para os nazistas, não apenas controlar a entrada para os campos petrolíferos caucasianos, mas, também, atingir moralmente o inimigo do Leste.

Inicialmente dividida em quatro fronts de batalha, a defesa soviética dispunha de 1.715.000 homens, 2.300 blindados, 16.500 canhões e 758 aviões. Do lado alemão, Hitler mobilizou para o ataque o 6º Exército: apenas sob o comando do general von Paulus, mais de 270 mil homens.

O primeiro tiro

Em 28 de junho de 1942, as tropas alemãs desencadeiam a ofensiva contra Stalingrado. A fim de atrasar o ataque, os russos provocaram incêndios nas florestas e destruíram as barragens, aplicando a tática de "terra arrasada". Todavia, em 12 de julho, parcela das tropas alemãs atingiria os arredores da cidade. A partir de 13 de julho, uma parte da população foi evacuada, além de terem sido formados os grupos de guerrilheiros.

Em 17 de julho, os 57º e 58º exércitos soviéticos foram atacados pelo 6º exército de von Paulus. Stalin envia novas divisões comandadas por dois de seus melhores generais, Ieremenko e Vassilievsky.

Em 23 de julho, as tropas alemãs recebem a ordem de atacar o coração da cidade. Os bombardeios maciços dos alemães da Wehrmacht destroem as ferrovias que traziam os trens de abastecimento. Em agosto, o 6º Exército alemão e o 4º Exército Blindado lançam uma ofensiva contra Stalingrado, defendida pelo general Tchuikov. Em 5 de setembro, as divisões de Paulus entram nos arredores da cidade quando então são travados os primeiros combates de rua.

Os alemães reduziram a cidade a escombros. Os soviéticos, em contrapartida, tornaram-se especialistas em montar emboscadas, permitindo alvejar os soldados germânicos a curta distância. Por outro lado, pontilharam a cidade de 'snaypersky' – atiradores de elite – que semeavam o terror entre os soldados inimigos que temiam ser mortos até em suas tendas de campanha.

Dia após dia, o cerco se apertava e em fins de novembro a zona urbana era invadida. Veio a ordem terminante: defender a todo custo as fábricas Outubro Vermelho e Barricadas que produziam os carros de assalto, a Fábrica de Tratores que construía os blindados T-34 e a estação ferroviária central onde as matérias primas eram desembarcadas.

A batalha histórica

Iniciou-se então a mais feroz, a mais encarniçada, a mais renhida e sangrenta, a mais dramática das batalhas militares que a História da humanidade conheceu. O terreno coberto de destroços impedia qualquer ação de blindados, a proximidade dos contendores tornava impraticável a cobertura aérea. Só restava calar baionetas e passar a travar a luta casa a casa, corpo a corpo, em cada centímetro de chão.

Para ilustrar a tenacidade com que se combatia, basta lembrar que a plataforma semidestruída da estação de trens mudou de mãos sete vezes num único dia. Os operários da Outubro Vermelho empunharam armas e estabeleceram uma muralha de fogo em torno da fábrica. Jamais se havia visto tantas cenas de heroísmo, bravura e coragem, de lado a lado, naquele cenário lúgubre das ruínas da cidade.

Em 21 de setembro, 4 divisões de infantaria e 100 tanques alemães atravessam a cidade e atingem o rio Volga cinco dias depois. Em 5 de outubro, os soviéticos enviam 200 mil soldados a Stalingrado, entre os quais uma divisão de elite de cossacos. Em 15 de outubro, os alemães tomam a fábrica Barricadas e uma longa faixa às margens do rio. Na semana seguinte, ocupam a parte sul da fábrica Outubro Vermelho e uma outra faixa do rio. Neste ponto, o 62º Exército soviético se encontrava então dividido em três pedaços e a comunicação entre eles tornou-se extremamente difícil.

Chega o inverno

Em meados de novembro caem as primeiras nevascas. No final do mês, a maior parte da cidade estava em mãos germânicas e os russos se encontravam encurralados entre os canhões alemães e as águas geladas do Volga. Malgrado enormes perdas, os russos conseguem conter o avanço a tempo de chegarem os reforços — novas divisões, carros blindados e artilharia. Nessa altura, a Wehrmacht dominava amplamente o rio Volga.

Em 12 de novembro, as tropas romenas encarregadas de proteger a rota dos caminhões alemães de apoio logístico foram atacadas pelo Exército Vermelho, que as obrigou a bater em retirada. Os 200 mil homens de Paulus estavam seriamente ameaçados de não receber provisões. O jovem general Rokossovsky, cumprindo orientações de Zhukov organiza uma contra-ofensiva em pinça a fim de cercar os germânicos, operação batizada de Uranus. Desencadeada em 19 de novembro, o Exército Vermelho empregaria 15 exércitos em três fronts diferentes.

Rokossovsky logra romper em Kremenskaia, a noroeste de Stalingrado, as linhas alemãs. No dia seguinte, Ieremenko atravessa o Volga a 10 quilômetros ao sul da cidade. O contra-ataque do 4º exército blindado alemão é repelido em Kalatch. O 4º exército romeno — o ponto fraco da linha alemã — é cercado por Ieremenko. Antes divididos, os fronts soviéticos se juntam novamente em 23 de novembro. Ao completar a operação, o Exército Vermelho acabava de cercar o 6º Exército de Paulus e uma parte do 4º Exército de 'Panzers', ou seja, 22 divisões, num total de mais de 300 mil homens.

Nesse estágio da batalha, os alemães tinham ainda uma escapatória. O 'reichsmarschall' Göring anuncia que poderia lançar do ar 500 toneladas diárias de víveres e munições aos sitiados e Hitler ordena a Paulus manter-se em suas posições. Com apenas 57 mil homens e 130 tanques, Paulus sabia que era impossível cumprir a ordem. Recebe então um 'diktat' pessoal do Führer: "vencer sem capitular ou morrer'. Nesse mesmo dia, o marechal von Mainstein assume o comando do grupo de exércitos do Don.

Von Mainstein havia sido encarregado de socorrer as tropas cercadas de Paulus. Entrementes, a Luftwaffe fornecia apenas 300 toneladas diárias de material. De 12 a 23 de dezembro uma desesperada operação "Wintergewitter' – Tempestade de Inverno – foi lançada tendo por objetivo romper as linhas soviéticas a sudoeste de Stalingrado, contudo foram contidos a 55 quilômetros do enclave. De 24 a 30 de dezembro, teve lugar um contra-ataque soviético contra um grupo de exércitos do general Hoth. Durante o mês de janeiro, Stalingrado, a mãe de todas as batalhas, era quase que totalmente retomada pelo Exército Vermelho.

Uma ofensiva lançada pelos russos obriga von Manstein a bater em retirada e abandonar a tentativa de livrar o 6º Exército de von Paulus. Mais ainda, teve de se retirar do Cáucaso após sofrer pesadas baixas. Nessa altura, a Luftwaffe só podia lançar de paraquedas entre 20 e 50 toneladas de material e de víveres por dia. Os soldados não tinham mais vestimentas adaptadas para enfrentar o rigoroso inverno e congelavam sem provisão de boca nem munições. Os cavalos serviram de alimento e a ração de pão fixada em 100 gramas diárias, depois 60 gramas.

A retomada

Em 8 de janeiro de 1943, Paulus recusa um ultimato que oferecia uma capitulação honrosa. Em 24 de janeiro, após pesadíssimas perdas, muda de estado de espírito e roga a Hitler autorização para capitular, que o Führer recusa enfaticamente. Em 25 de janeiro, os alemães só detinham uma área de apenas 100 km2. Em 26, um ataque de Rokossovsky corta o 6º Exército alemão em dois. Foi então desencadeada a operação "Círculo". Em 27 de janeiro, os soviéticos começaram a limpar os bolsões de resistência alemães, incapazes de resistir a um assalto em regra.

A Batalha de Stalingrado chegava ao fim. Os russos tomaram 60 mil veículos, 1.500 tanques e 6 mil canhões. Entre as tropas militares, 94.500 alemães foram feitos prisioneiros; dos quais 2.500 oficiais, 24 generais e o próprio marechal von Paulus. Ao todo, 140 mil alemães foram mortos, feridos ou congelados. Os soviéticos, por seu lado, perderam 200 mil homens, sem contar as vítimas civis.

Em 30 de janeiro de 1943, décimo aniversário da subida de Hitler ao poder, o Führer havia feito uma solene proclamação pelo rádio: "Daqui a mil anos os alemães falarão sobre a Batalha de Stalingrado com reverência e respeito, e lembrarão que, a despeito de tudo, a vitória final da Alemanha foi ali decidida".

Três dias depois, em 2 de fevereiro, o marechal-de campo Friedrich von Paulus assinava diante do general Tchuikov, comandante das tropas do Exército Vermelho em Stalingrado, a rendição do 6º exército alemão. Era a primeira vez que um marechal alemão capitulava e era feito prisioneiro. 

A transmissão da capitulação foi feita em Berlim, através da rádio alemã, pelo general Zeitzler, chefe do Alto Comando da Wehrmacht (OKW) precedida do rufar abafado de tambores e da execução do segundo movimento da Quinta Sinfonia de Beethoven. 
                                             
Sete meses depois, a maior e a mais épica das batalhas da 2ª Guerra Mundial que tivera início em 26 de junho havia chegado ao fim. A espinha dorsal do exército nazista e do Terceiro Reich estava irremediavelmente quebrada. (Com Opera Mundi)

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