Comissão de Anistia analisa perseguição a trabalhadores na ditadura

                                                            
                        Protesto contra morte do operário Santo Dias na Praça da Sé (1981)

A Comissão da Anistia entregou na quarta-feira (5) à Comissão Estadual da Verdade de São Paulo um relatório que retrata o perfil de 180 trabalhadores urbanos que enfrentaram a ditadura civil-militar (1964-1985) ou foram perseguidos politicamente até 1988. Eles entraram com requerimento na Comissão da Anistia, tiveram seus casos julgados e foram anistiados.

Esses casos fazem parte do acervo da Comissão da Anistia. Segundo Rodrigo Lentz, pesquisador e membro da comissão e coordenador do relatório, a Comissão da Anistia já recebeu 74 mil requerimentos com solicitações de anistia política. 

Desse total, 7.518 são processos de São Paulo, dos quais 1.345 já foram julgados e deferidos. "Desse montante, pegamos 180 processos que já tinham sido deferidos e arquivados. O recorte foi a busca dos trabalhadores urbanos anistiados do estado de São Paulo", explicou Lentz.

O relatório analisou informações como idade, gênero, atividades e militância política dos anistiados e também fez um mapeamento dos tipos de atos de exceção cometidos, relatando o ano de ocorrência, os locais onde ocorreram, os autores e as instituições envolvidas. No caso dos atos de exceção, disse Lentz, a comissão identificou 27 tipos. O mais comum, a demissão, correspondia a quase metade dos casos.

Entre os 180 trabalhadores analisados pelo relatório, 93% são homens e 47% integrados por sindicalistas. Um dos casos analisados é o da anistiada Lenice Bezerra da Silva Azevedo, de Alagoas, que trabalhava como ajudante de serviços gerais na empresa Polimatic Eletrometalúrgica. Ela foi demitida após liderar uma greve e colocada em uma "lista suja" das indústrias do Grande ABC. 

"Ela foi bastante monitorada pela polícia até 1989. Isso aparece no relatório do Serviço Nacional de Informações (SNI). Ela era sindicalista. Uma coisa que chama a atenção é que, das 12 mulheres na lista, sete eram sindicalistas", disse Lentz.

Para o pesquisador, o relatório ajuda a entender "quem eram esses trabalhadores que eram alvo de atos de exceção" e que foram "alvo de grande repressão da ditadura". O presidente da Comissão Estadual da Verdade, deputado Adriano Diogo, considerou o relatório "muito importante" e disse que ele pode integrar o relatório final da comissão.

Membro da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, Ivan Seixas também considerou o material importante para a continuação dos trabalhos da comissão paulista. "A Comissão da Anistia tem o perfil dos atingidos de todo o país. 

Pedimos para eles selecionarem os nomes dos atingidos em São Paulo, trabalhadores em todas as categorias, militares, camponeses e outros. Com esse perfil teremos condições de detectar que tipo de agressões sofreram e o local (em que ocorreram)", disse.

"Esse relatório tem uma importância fundamental que é de poder entregar informações que são consistentes e confiáveis em uma base de dados que está dentro da Comissão da Anistia e que identifica o conjunto de violações produzidas pela ditadura militar. Isso demonstra claramente como foi possível criar uma grande rede dentro do Estado brasileiro para prejudicar aqueles que eram considerados lesivos à segurança nacional", disse Paulo Abrão, presidente da Comissão da Anistia.

Segundo Abrão, outros relatórios preparados pela Comissão da Anistia já foram entregues às comissões da Verdade do Paraná e do Rio de Janeiro.
(Com a Agência Brasil)

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