MINÉRIO NÃO DÁ DUAS SAFRAS

                           


José Carlos Alexandre


Como diria Mauro Iasi, nós somos muitos, incontáveis. Eles, os reacionários, exploradores do povo, dirigentes de multinacionais é que são poucos.

Antes de 1964 mas também nos anos 60, nós, "poucos" mas atuantes, promovemos ou ajudamos a promover, cobrimos, participamos (estávamos lá!) uma série de palestas, conferência, seminários sobre a Política de Minérios.

Vivíamos, é verdade, a fase da aliança com a burguesia (depois fizemos séria autocrítica), julgamento ser o imperialismo e o latifúndio os inimigos principais daquele etapa, digamos, da Revolução Brasileira.

Mas tudo era válido, é preciso que se diga também.

Junto com a Associação Comercial e outras organizações das autointituladas "classes produtoras", levantávamos o problema ainda mais sério hoje da entrega de nossas reservas minerais aos grandes grupos internacionais.

À Hanna, em primeiro lugar, representada no Estado pela Mina do Morro Velho (hoje Anglo American).

Nomes nacionais, nacionalistas de escol, vinham dar palestras. A gente estava nas primeiras fileiras...

Defendendo a criação da Usiminas, campanha vitoriosa, desenvolvida principalmente através do Jornal do Comércio , por seu fundador José Costa, Pelo Binômio, do José Maria Rabêlo, às vezes pelo jornal Última Hora, que tinha Sucursal em Minas, e pelo jornal dos comunistas,  Novos Rumos, que tinha Sucursal na Rua Carijós, pertinho da Praça Sete.

Por vezes conseguíamos mobilizar também organizações da sociedade civil, como a Federação dos Trabalhadores Favelados, a União Israelita (realizamos um seminário muito concorrido lá, na Rua Pernambuco) , esposas e filhas dos operários de Nova Lima, onde se situa a antiga Saint John Del Rey Mining Co. , grupos estudantis etc.

A mobilização era muito grande, o que, de certa forma, servia para dar ao país um esboço de nossa indignação com o fato de "minério não dar duas safras", slogans que pregávamos por toda a cidade, através de altos falantes alugados para circular pelo centro, na Renascença, Cachoeirinha, Cidade Industrial etc, onde se situam indústrias com aglomeração de trabalhadores.

Depois veio a triste noite de 1º de abril de 1964, calando nossas vozes, prendendo, torturando, exilando, cassando mandatos, desempegando , matando...

Os anos passam.

Hoje os problemas da época continuam. Não temos mais a Usiminas, a Companhia Siderúrgica Nacional e a Petrobras está sucateada pela má gestão dos últimos 12 anos.

Mas pouco a pouco vamos retomando as velhas lutas. 

Hoje sabemos que não contamos mais com a burguesia ("nacionalista e democrática") mas unidos com o melhor das forças populares , à frente os trabalhadores, vamos construir um País onde o Poder Popular haverá de abrir as portas para uma nova era, a do socialismo.

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