A propalada saída do Brasil do "mapa da fome" merece alguns cuidados

                                                                                   

Foto: Mapa da Fome/2005-2007
Wlamir Silva (*)


Primeiro ela não ocorreu agora, mas entre 2005 e 2007, como mostra o mapa da FAO ao lado. E se ocorreu entre 2005/2007, considerando o tempo que uma política pública leva para aparecer nas estatísticas, pouco ou nada tem a ver com o bolsa-família, criado em 2004, e o Fome Zero (o elogio do petista José Graziano ao programa é simbólico e... eleitoreiro), como se sabe, foi um fracasso.

De fato já havia uma tendência de "redução da extrema pobreza" desde 2001, como mostram os especialistas. Incluindo o período FHC e, se quisermos mais, na fase "mais neoliberal" do governo Lula, sob a direção econômica de manutenção estrita da política anterior por Antonio Palocci, ministro até 26 de março de 2006. Queda fruto de políticas nascidas após a Constituição de 1988, impacto da universalização da ampliação da aposentadoria etc.

Além disso houve, recentemente, uma mudança na metodologia da FAO, fazendo com que 2013 para 2014 o percentual "de fome" tenha caído, "magicamente", de 7% para 1,8%. Nada de excepcional, são índices que tratam de extrema, mas extrema mesma, pobreza. Por eles, hoje, mais da metade da América Latina está fora do "mapa da fome", só a Bolívia teria uma "fome" moderadamente alta.

Para o Brasil, a questão é a de entender porque a quinta economia do mundo, sem conflagrações, com os recursos naturais e o grau de institucionalidade que possui - bem diverso da África, onde praticamente está confinada esta tragédia -, está em 79º no Índice de Desenvolvimento Humano.



Foto: Mapa da Fome/2014

Abaixo em educação e expectativa de vida mesmo da média da nossa "poderosa" América Latina. Em 58º, em 64 avaliados, no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), atrás de Vietnã, Eslovênia, Portugal, Grécia, Emirados Árabes, Uruguai e Albânia, entre outros.

O quadro mundial mostrado pela FAO mostra um avanço generalizado, até porque uma das características do neoliberalismo é exatamente criar políticas compensatórias que minoram a extrema pobreza. Além da urbanização e das novas tecnologias de produção de alimentos. Sim, elas são capazes de superar a fome, o problema é de distribuição de riqueza, de exploração... Por isso o governo Lula seguiu e aprofundou uma tendência que já vinha de FHC.

No Brasil isso convive bem com a pobreza - travestida d,e "classe média" - dos 66% de famílias com renda de R$ 2.034 (dados de 2013). E com a falta de saneamento, saúde, educação, segurança que "complementam" a penúria salarial. E, cá entre nós, você acredita que na América Latina só haja "fome" moderadamente alta na Bolívia? Que não há fome no Brasil? Enfim, mentirinhas eleitorais difundidas por quem tem a máquina pública nas mãos e faz "horário eleitoral" até em Assembleia da ONU...

(*) Wlamir Silva é historiador. (Com o PCB/Diário Liberdade)

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