Inesquecível “Planeta Arthur”

                                                                    

     Carlos Lúcio Gontijo (*)
                   
          Muitos são os que ocupam espaço indevido, subtraindo a oportunidade daqueles que, verdadeiramente, deveriam estar lá. Incomoda-me assistir às questões mais importantes para o crescimento da sensibilidade humana recebendo tratamento tão marcado pelo desleixo. É sempre como flechada no peito a percepção de que os ambientes culturais estão jogados ao abandono e situados na última escala dos interesses governamentais, que alegam não dispor de recursos sequer para suprir as necessidades básicas do setor cultural, sem o qual a educação, feito os trabalhos de pintura, se perde pela falta de moldura, pela ausência de sensibilização que dá sentido a todo e qualquer conhecimento adquirido.

       Nada pior que deparar com pessoas que ganham o pão de cada dia no exercício de alguma função relativa à cultura, mas que se me apresentam como se não estivessem nem aí para o que acontece com a caminhada cultural da gente de nosso Brasil. São professores mal remunerados que mergulham fundo, sem se incomodar, no ensino ruim; são bibliotecas dirigidas sem preocupação em se trabalhar pela transformação da casa de leitura em local mais atrativo e mais receptivo ao burburinho da troca de ideias que à imposição do silêncio, distanciando os leitores e quebrando o voo da arte da palavra, que tem a mente humana (e não a fria prateleira das estantes) como seu verdadeiro pouso.
        Sou amante do gesto, que é o traço maior e mais claro de nossa alma. Palavra desatrelada de ato representativamente materializado, pouco ou nada significa. Ou seja, mais vale o trabalho benéfico à sociedade realizado pelo ateu, que assim exercita o desejo do Criador, que a falsa fé do cristão à-toa.
        Eli e Cleide Menezes, avós do garoto Arthur Menezes Silva (oito anos), residentes aqui em minha Santo Antônio do Monte, custearam a edição do livro intitulado “Planeta Arthur – A guerra inesquecível”, que foi escrito e ilustrado pelo neto prodígio. Lembrei-me imediatamente de mim, pois fui o autor da capa de meus dois primeiros livros lançados em 1977, apesar de não conseguir desenhar direito nem mesmo aquelas casinhas com chaminés. Contudo, como acontece com o pequeno Arthur, havia (e há) dentro de mim a força de um dom real, ao qual tenho o dever de aprimorar sem me incomodar com as pedras no caminho. 
          Tenho procurado saborear o tempo em vez de realçar amarguras, ciente de que são os momentos de escuridão que me ensinam a valorizar a luz – e foi com o espírito embebido em claridade que vislumbrei o meu rosto nas águas límpidas das páginas tingidas pelo sonho do menino Arthur, esplêndido embrião de intelectual e cidadão sensível, futuramente capaz de exercer em plenitude o amor pelo próximo e, ao mesmo tempo, contribuir de forma decisiva para a construção de um mundo melhor e mais disposto a abrigar cada pessoa como se fosse única e nela estivesse a soma de tudo aquilo que somos coletivamente nesta esfera azul, que rodopia em espaço sideral paralelo ao inocente “Planeta Arthur”. 
          
(*) Carlos Lúcio Gontijo é poeta, escritor e jornalista
           www.carlosluciogontijo.jor.br

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