Comissão da Verdade põe a nu a repressão ao primeiro movimento armado contra a ditadura militar do Brasil

                                                                   
Cerca 250 pessoas estiveram presentes à Audiência Pública na cidade de Três Passos (RS) (Crédito: CNV)

Na última segunda-feira, 30 de junho, a Comissão Nacional da Verdade foi ao Rio Grande do Sul para refazer o trajeto da Movimento 26 de Março, insurreição liderada pelo coronel Jefferson Cardim no interior do Estado em 1965. A CNV visitou os sítios mais importantes utilizados pelo levante e participou de uma Audiência Pública no auditório da Universidade UnIjuí. Participaram do encontro cerca de 250 pessoas.

Prestaram depoimento à CNV nomes como Valdetar Antônio Dorneles, Adão Oliveira da Silva, Abrão Antônio Dornelles, Pedro de Campos Bones, Vergilio Soares de Lima, Carlos Dornelles, Arsenio Blatt, Alípio Charão Dias e Odilon Vieira, todos remanescentes do Movimento 26 de Março.

O grupo comandado por Cardim saiu do exílio no Uruguai e chegou a se apossar da Brigada Militar da cidade de Três Passos. De lá, o movimento passou por Tenente Portela e subiu na direção do Paraná. Na manhã do dia 26 de março, o então presidente Castelo Branco chegara a Foz do Iguaçu para inauguração da “Ponte da Amizade” entre Brasil e Paraguai. Estava a cerca de cem quilômetros da rota percorrida pelo grupo insurgente.

Próximo a Capanema, no Paraná, o MR-26 foi localizado por um avião da FAB. Em Leônidas Marques é travado tiroteio com militares que vinham em uma viatura do Exército. A partir daí, o grupo de insurgentes se dispersou e, pouco a pouco, seus homens foram capturados.

A repercussão do movimento na imprensa nacional, por ser o primeiro movimento armado contra a ditadura, tanto que, durante os meses seguintes, militantes que se opunham à ditadura lançaram a sigla MR-26 (Movimento Revolucionário 26 de março), em homenagem à coluna. 

Para o coronel Cardim, seu movimento seria a senha para o desencadeamento de outras ações de militares e civis contra a ditadura militar que havia se instalado no poder, mas tais ações não ocorreram. Preso, Cardim foi humilhado diante de tropas, torturado e exposto ao público, para que a violência de sua punição servisse de exemplo.

Como assinalam Jacob Gorender e Elio Gaspari, deixava de existir, a partir deste episódio, a imunidade de oficiais à tortura, que havia sido respeitada em sublevações anteriores. Os membros de seu grupo também foram torturados, humilhados publicamente e perseguidos.

(Com a ABI)

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