“Liberdade de informação não tem aliança política”, diz chefe da RSF sobre Cantalice

  



Camille Soulier falou sobre preocupação com situação da imprensa no Brasil

                                                                             
Rodrigo Álvares 
  
Quase uma semana após a ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) publicar nota criticando o comportamento do vice-presidente do PT, Alberto Cantalice, que listou em um artigo nove jornalistas e os chamou de “pitbulls da mídia”, a chefe do departamento das Américas da entidade, Camille Soulier, falou à IMPRENSA. Ela negou as acusações de que a entidade teria agido com motivações políticas. “A RSF é uma organização apolítica. Nós apoiamos a liberdade de informação, e a liberdade de informação não tem uma aliança política”.

IMPRENSA - Qual é a principal preocupação da RSF em relação aos ataques de petistas à imprensa brasileira?

Camille Soulier - Claramente, a polarização política é alta no Brasil, especialmente em uma época instável e com as eleições no horizonte. Entretanto, a RSF não acredita que isso permita a qualquer político de alto escalão estigmatizar jornalistas – não importa sua linha editorial. Nos preocupa que isso vire o “normal” – como acontece em muitos países, onde políticos declaram guerra aos jornalistas. Embora poucos profissionais tenham sido atingidos neste caso em particular, isso cria uma atmosfera na qual é aceitável intimidar ou constranger jornalistas.

Mais de 100 deles foram atacados pelas polícias militares desde junho de 2013, e o Brasil é um dos países mais perigosos para se trabalhar. Como as autoridades podem dizer que estão trabalhando para criar um mecanismo de proteção para os jornalistas e ao mesmo tempo instar as pessoas a “se livrar deles”? Pedimos a todos os partidos que estejam aberto a um diálogo produtivo. A segurança de jornalistas, blogueiros e outros produtores de informação deve ser a prioridade do governo de Dilma Rousseff.

IMPRENSA - Alguns jornalistas acusam a RSF de ser “ideológica”. O que você pensa disso?

A RSF é uma organização apolítica. Nós apoiamos a liberdade de informação, e a liberdade de informação não tem uma aliança política. Nós simplesmente nos preocupamos quando um membro de qualquer partido lança um discurso alarmista sobre jornalistas e sobre o jornalismo. Neste caso, foi o PT, mas condenamos igualmente qualquer tentativa de intimidar profissionais – venha ela do PSDB ou qualquer outra sigla.

IMPRENSA - Até o momento, nenhuma entidade ou sindicato ligados a jornalistas se expressou sobre o ocorrido. Qual seria o motivo disso?

Recebemos informação a respeito disso de nossos contatos no Brasil e que deixaram claro como a situação é preocupante para os jornalistas. O que nos preocupa é que esse clima de insegurança possa levar à autocensura.

IMPRENSA - Você acredita que esses ataques verbais possam passam para ataques físicos?

Esta é definitivamente uma das preocupações dos jornalistas. Pode ser que não leve a agressões físicas a estes profissionais, mas, novamente, gera um ambiente no qual os jornalistas que já estão na mira e podem correr ainda mais riscos.(Com o Portal Imprensa-Revista Imprensa)

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