CNV pede que a PF acompanhe investigação sobre a morte de Malhães. Sua morte poderia estar ligada à "queima de arquivo"


                                                                           
                                                                            

                                 Paulo Malhães. Foto: Marcelo Oliveira/Ascom CNV

O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, solicitou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em contato telefônico mantido no início da tarde de hoje, que a Polícia Federal acompanhe as investigações da Polícia Civil do Rio de Janeiro sobre o assassinato do ex-agente do Centro de Informações do Exército, Paulo Malhães, ocorrido ontem à noite (24/04) na zona rural de Nova Iguaçu.

Malhães prestou depoimento à CNV em 25 de março. No testemunho, deu sua versão sobre operação do Exército para desaparecer com os restos mortais do deputado federal Rubens Paiva. Informou também que agentes do CIE mutilavam corpos de vítimas da repressão assassinadas na Casa da Morte, em Petrópolis, arrancando suas arcadas dentárias e as pontas dos dedos para impedir a identificação, caso encontrados.

Para a CNV, o crime e sua eventual relação com as revelações feitas por Malhães à Comissão Nacional da Verdade, à Comissão Estadual da Verdade do Rio e à imprensa, devem ser investigados com rigor e celeridade.

"Por se tratar de uma situação que envolve investigação conduzida pela CNV, que é órgão federal , pedi que a Policia Federal fosse acionada para acompanhar as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Rio", afirmou Dallari.

Repercussão

O presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio, Wadih Damous, sugeriu que a morte do militar tenha sido “queima de arquivo”. “Ele foi um agente importante da repressão política na época da ditadura e era detentor de muitas informações sobre fatos que ocorreram nos bastidores naquela época. É preciso que seja aberta com urgência uma investigação na área federal para apurar os fatos ocorridos no dia de hoje. A investigação da morte do coronel Paulo Malhães precisa ser feita com muito rigor porque tudo a leva a crer que ele foi assassinado”, disse Damous.

Nadine Borges, integrante da Comissão Estadual da Verdade que tomou depoimento de Malhães, cobrou uma investigação célere do assassinato. Segundo ela, este não pode ser tratado como um crime comum. “A polícia tem que investigar a fundo esse crime. Tudo indica que é uma queima de arquivo”, disse Borges.

Representante do grupo Tortura Nunca Mais, Vitória Garbois, considera que o crime demonstra “perigo” para quem investiga a ditadura. “É estarrecedor o que aconteceu. Espero que o Estado brasileiro tome as medidas cabíveis, acione as policiais estadual e Federal para apurarem o que realmente aconteceu. Nós, dos direitos humanos, temos que ficar atentos. Se isso aconteceu com um militar, nós estamos passando por muito perigo”, declarou.

Vitória teme que as investigações da Comissão da Verdade sejam prejudicadas devido ao assassinato. “A morte do coronel é uma ameaça, porque outros torturadores podem ficar acuados para prestar depoimentos e esclarecimentos sobre o que aconteceu na época da ditadura militar. Temos que abrir os arquivos da ditadura o quanto antes”, disse Vitória.

Em seu blog, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, afirmou que Malhães foi assassinado e, no mesmo texto, lembrou a morte de outro coronel, também ex-agente da ditadura, Júlio Miguel Molina Dias, ocorrida em 2012. Ustra comandou o DOI-CODI, em São Paulo, entre 1970 e 1974. No fim de março, durante atos que lembraram os 50 anos do golpe militar, Ustra foi alvo de manifestações de grupos de direitos humanos que pedem a punição de ex-agentes da ditadura.

O Clube Militar, associação que reúne militares da reserva do Exército, informou que não se pronunciará sobre o caso por não conhecer as circunstâncias da morte do coronel. O chefe de gabinete da presidência da instituição, coronel Figueira Santos, disse que o Clube Militar só irá se manifestar se surgir algum “fato novo”. O Comando Militar do Leste, no Rio, também informou que não vai comentar o caso, já que as investigações estão a cargo da Polícia Civil.

*Com informações de O Globo, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, e do G1. (Com a ABI)

Comentários