CHUMBO QUENTE




50 anos do Golpe de 1964

Alberto Dines 

       
Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Com uma liga de chumbo, Gutenberg fez os primeiros tipos móveis. O chumbo derretido foi a matéria prima da tipografia. Com chumbo, fundiam-se letras, palavras, ideias e também se faziam balas, projéteis. Seu peso converteu o chumbo em sinônimo de opressão.

Para lembrar os 21 anos de chumbo da ditadura militar e a aviltante censura por ela instaurada, trazemos a imagem do chumbo quente, o perigo liquefeito, enganosamente molhado, mortal.

No início, todos os golpes se parecem. Como já acontecera antes, o golpe de 1964 começou como uma quartelada para depor um legítimo chefe de Estado e, poucos dias depois, já era uma ditadura: acanhada nas primeiras horas, logo ostensiva e, em seguida, esticada ao longo de mais de duas décadas.

Este golpe diferencia-se dos anteriores porque ocorreu em plena era da informação - ou da desinformação. Foi um golpe preparado e apoiado majoritariamente pela imprensa, logo depois transformada em sua vítima e dócil escrava.

Quando, no ano passado, o jornal O Globo surpreendeu ao reconhecer como equivocado o apoio ao golpe de 1964, admitia que grande parte da imprensa brasileira, além de apoiar a derrubada do presidente João Goulart, apoiou a ditadura nela incubada.

Gesto ímpar, infelizmente sem seguidores, que, no entanto, poderá inaugurar o capítulo da diversidade na história da nossa imprensa. A unanimidade, além de burra, foi a causadora desta tragédia.

Estas edições especiais sobre o golpe de 1964 tentam o modelo de história oral para reconstituir um período em que a imprensa, além de testemunha, foi também participante.

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