Acordes do Monte em Belo Horizonte

                                                       
                                           

         Carlos Lúcio Gontijo



          Quando a Secretaria de Cultura, em nome do Governo Municipal de Santo Antônio do Monte, engendrou a ideia de promover a ida da orquestra de cordas “Acordes do Monte” a Belo Horizonte, sabia das dificuldades que teria pela frente, pois são poucas as pessoas comuns e autoridades que destinam à cultura a necessária atenção, principalmente neste tempo de preferência pela indústria de eventos, que nos é apresentada como produto cultural, apesar de não promover benefício algum por onde passa – a não ser o esvaziamento dos cofres públicos.

         A presença dos jovens músicos em Belo Horizonte, onde conseguimos a cessão gratuita do histórico teatro da Associação Mineira de Imprensa (AMI), que hoje é dirigida pelo jornalista Wilson Miranda, que num gesto de sensibilidade acolheu o nosso pedido, somente se tornou possível à custa de muito empenho e desprendimento das pessoas envolvidas no processo.

          Não foi fácil levantar recurso para o pagamento do ônibus, entretanto o que seria da arte se não fossem as pedras no caminho, sobre as quais Carlos Drummond de Andrade nos alertou em belos e eternos versos?

          O show, ou melhor, o espetáculo, a forma correta de se expressar, pois “show” é estrangeirismo que está mais para interjeição que usamos quando desejamos espantar galinha e outros bichos, como nos preconiza Ariano Suassuna, aconteceu sob a luz de muito sucesso, recebendo até transmissão na internet, através da www.radiodeminas.com, que detectou a grandeza da apresentação dos alunos do professor Igor Silva, numa avaliação que não tem similaridade alguma com os desenraizados eventos produzidos pela indústria de entretenimento.

          Um dia antes do evento, realizado no dia 29 de março de 2014, fomos à casa de Clara, filha do poeta Bueno de Rivera, ao qual temos em conta de filho maior entre todos os nascidos em Santo Antônio do Monte, opinião que o tempo, senhor da razão, cuidará de confirmar. O casal (Clara e Antônio Queiroga) nos entregou 150 livros, aos quais recebemos com alegria e certa dose de tristeza. Nos pacotes, estavam livros que Bueno de Rivera, poeta do mundo, cultuado e reverenciado pelos que louvam a verdadeira poesia, comprou e leu cada uma de suas páginas, deixando-os preservados para uma gente que pouco lê e raramente vibra diante dos sons e da sonoridade dos instrumentos e símbolos culturais.

          Em nossa angústia, telefonamos para a amiga Therezinha Casasanta, que com sua reconhecida intelectualidade de escritora nos consolou, mostrando-nos que o caminho é seguir em frente, mesmo não tendo com quem contar, pois a única garantia de continuidade da cultura de raiz está assentada no alicerce do idealismo, que nos permite semear trabalho cultural no chão de uma sociedade preocupada com coisas menores e distantes da construção de um mundo melhor.

          A Acordes do Monte poderia ter sido prestigiada por público ainda maior, se arte fosse elevada ao grau de prioridade, como sucedeu com o exemplo do presidente da AMI, que no dia da apresentação perdeu o irmão, mas fez questão de abrir a entidade, receber os jovens alunos do professor Igor, ciente de que o espetáculo tem que continuar e que tudo nesta vida é passageiro... Porém, a arte verdadeira permanecerá como regente e fator primordial na sensibilização do ser humano, que sem o auxílio da cultura perde a racionalidade e a capacidade de viver em comunidade, transformando a vida cotidiana em palco de selvageria e violência.

Carlos Lúcio Gontijo

Poeta, escritor e jornalista

www.carlosluciogontijo.jor.br

Comentários

MOTA2009 disse…
Agradecemos a citação de nossa radioweb,que também passou por alguma dificuldade por não ter um ponto da Banda Larga ativa no local, fizemos o trabalho e elogiamos a atitude de Carlos Lucio Gontijo, que de maneira simples e sincera abraçou esta missão e que continue prestando sua solidariedade a estas crianças e aqueles que tem o dom de cantar, de tocar instrumentos onde o som ressoa até então em nossa alma como um chamado a sensibilidade e ao amor à vida. Conte sempre conosco aqui em BH. Quaisquer eventos que tiveram teremos o imenso prazer de divulgar em nossas páginas e contribuir também para divulgação na mídia. Abraços a todos de Santo Antonio do Monte pelo belo trabalho.JOAO BATISTA DA MOTA ; www.radiodeminas.com