Paulo Malhães volta atrás em depoimento à Comissão da Verdade

                                                        

Coronel da reserva Paulo Malhães durante depoimento à Comissão Estadual da Verdade (Foto: Marcos Arcoverde / Estadão Conteúdo)

O coronel reformado do Exército Paulo Malhães, que declarou ter desaparecido com o corpo do ex-deputado Rubens Paiva, morto em 1971, prestou novo depoimento terça-feira, 25 de março à Comissão Nacional da Verdade (CNV). O militar da reserva voltou atrás no que havia dito na semana passada à Comissão Estadual da Verdade, quando declarou ter desenterrado e lançado o corpo em um rio. Pressionado pelos integrantes da comissão, Malhães confirmou ter torturado presos políticos e ter “matado pouca gente”.

“Tinha uma massa morte enterrada, desenterrada. Nem sei se aquela massa era realmente dele [de Rubens Paiva]“, disse o coronel de 76 anos, que negou ter sido ele o executor da missão.

Inicialmente, o coronel aceitou comparecer à audiência, mas queria ser ouvido reservadamente. Por fim, aceitou falar com a presença da imprensa, desde que repórteres não fizessem pergunta. Ele chegou ao Arquivo Nacional às 14 horas, e se locomoveu numa cadeira de rodas.

Dos três militares esperados para depor, dois alegaram problemas de saúde e não apareceram: o tenente-coronel Rubens Paim Sampaio e o tenente de Infantaria Ubirajara Ribeiro de Souza. Hoje, eles estão na reserva. O coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari, disse que a partir de agora vai pedir ajuda da Polícia Federal para que eles compareçam. “O fato de que eles estão se recusando a vir, é a prova de que nós estamos no caminho certo”, afirmou Pedro Dallari, coordenador da CNV.

Malhães não se encontrou com a historiadora Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa da Morte, que participou da audiência na parte da manhã. Com graves sequelas físicas, Inês tem dificuldade para falar. A irmã Celina foi a porta-voz. Como muito esforço, ela conseguiu dizer: “Venceu, venceu. Missão cumprida”.

Em depoimento que durou mais de 2 horas, o coronel reformado disse à CNV que mentiu porque quis ser solidário à dor dos parentes de Rubens Paiva. “Eu só disse [à imprensa] que fui eu porque eu acho uma história muito triste, quando a família leva 38 anos dizendo que quer saber o paradeiro. Eu não sou sentimental, não, mas tenho as minhas crises.”

Ele acrescentou que não se arrepende do que fez. “Eu acho que cumpri o meu serviço”, disse, antes de responder que não sabia quantas pessoas matou.

Na semana passada, Malhães revelou à Comissão Estadual da Verdade que o corpo do ex-deputado foi desenterrado e jogado em um rio de Itaipava, na Região Serrana do Rio. Ele havia dito que os restos mortais foram enterrados numa praia e, mais tarde, desenterrados e jogados ao mar. Em ambas as declarações, ele confirmou ser ele o responsável pelo desaparecimento de Rubens Paiva.

Casa da Morte

Malhães se negou a fornecer nomes de presos assassinados durante a ditadura militar, de agentes da repressão e a informar o número de pessoas que passaram pela Casa da Morte, centro de tortura clandestino que funcionou em Petrópolis (RJ). Durante a sessão da CNV, foram revelados detalhes sobre a planta da casa e a indicação dos cômodos onde os presos políticos eram torturados, a identificação de quem chegou vivo, morreu ou continua desaparecido.

“Eu acho que foi um depoimento importante, esclarecedor. Ele acabou por reconhecer que é um torturador. Poucas vezes nós tivemos a confissão de um torturador como ele fez, justificando que tinha que torturar um inimigo. Perguntei se ele teria o mesmo critério para o crime comum, e ele assumiu que sim – para o roubo, para o tráfico. E que não tinha nenhum remorso pela tortura e mortes praticadas”, afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias, integrante da CNV, que interrogou Malhães.

Com informações do G1 e do Estado de S. Paulo. (Com a ABI)

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