70º aniversário do fim do bloqueio de Leningrado

                                                             
Foto: RIA Novosti

A 27 de janeiro, a Federação da Rússia assinala uma data memorial: o Dia do Fim do Bloqueio de Leningrado durante a Segunda Guerra Mundial. Há 70 anos, as tropas soviéticas libertaram completamente Leningrado do cerco fascista que durou quase 900 dias.

A 26 de janeiro, em São Petersburgo, então Leningrado, começou a maratona “Caminho da Vida” e, no centro memorial “Trovoada de Janeiro”, teve lugar a reconstituição militar e histórica “Na Faixa da Ruptura”.

Durante 872 dias, os bloqueados de Leningrado, superando a fome, o frio, os bombardeamentos, defenderam heroicamente a sua cidade natal. As tropas fascistas começaram o seu cerco a 08 de setembro de 1941. A libertação total chegou a 27 de janeiro de 1944. 

O bloqueio de Leningrado é um exemplo de coragem e de firmeza extraordinária das tropas e da população civil. Não se trata apenas de uma das páginas mais trágicas na história da Segunda Guerra Mundial, mas também de um acontecimento de nível mundial, considera o historiador Yuri Rubtsov, membro da Academia das Ciências Militares:

“Não só os nossos, os historiadores russos, mas também os historiadores dos EUA e outros autores estrangeiros frisaram o caráter único do feito heroico do bloqueio de Leningrado. E do povo, dos civis da cidade no Neva, e dos militares. Porque a defesa tinha lugar nas condições mais insatisfatórias: cerco completo, fome, frio, terrível falta de higiene, más condições de vida. Isso e muitas outras coisas obrigam a ver a batalha em Leningrado como acontecimento que deixou um rasto muito sério e profundo na história da guerra.”

A defesa heroica de Leningrado desempenhou um papel importante tanto noutras batalhas fulcrais dessa época, como influiu no resultado da guerra, continua o historiador:

“Não só o próprio fato do levantamento total do bloqueio em janeiro de 1944, mas também todas as etapas da defesa da cidade obrigaram incondicionalmente a mudanças tanto nos planos estratégicos das partes beligerantes, como no espírito dos soldados russos na frente e na retaguarda. O próprio fato da cidade ter resistido durante quase 900 dias, encontrando-se, no início, completamente bloqueada e, no último ano, parcialmente, exerceu uma influência desmoralizadora nos soldados alemães e finlandeses. Porque os alemães, quando chegaram perto de Leningrado em setembro de 1941, estavam convencidos de que ocupariam a cidade num ou dois meses.”

Com o passar dos anos, torna-se cada vez menor o número de testemunhas desses dias: os bloqueados. Zinaida Shevkunenko tinha sete anos quando começou a guerra. Ela passou um ano e meio na cidade cercada. Então aluna de primeiro ano, ela não compreendeu logo todo o pesadelo do que se passava. Era muito tenebroso, fome e frio, recorda Zinaida Shevkunenko:

“Depois do bombardeamento dos armazéns de Babaev, em agosto de 1941, a ração alimentar tornou-se logo mais pequena. As crianças recebiam 125 gramas de pão e uma senha de trabalhador dava direito a 250 gramas. Normalmente, as bombas caíam à noite, mas na nossa casa havia um refúgio.

Nós descíamos para lá, sentávamo-nos e até dormíamos de pé. Mais tarde, começaram os disparos contra a cidade. A nossa casa não foi atingida por bombas ou balas, mas outras casas sofreram graves estragos. Inicialmente, estavam vivos eu, a minha irmã, o meu irmão e a minha mãe.

O meu irmão mais velho estava na frente. Mas, um a seguir ao outro, faleceram os meus irmãos e, durante muito tempo, vivi apenas com a minha mãe. Depois, a minha mãe adoeceu. Quando fiquei sozinha, enviaram-me para um orfanato e fomos retirados da cidade pelo “Caminho da Vida”.

Mas Lidia Khomich, também habitante da cidade bloqueada, não obstante a sua tenra idade, ficou em Leningrado cercada até ao fim e ajudou os habitantes a sobreviver ao bloqueio. Estudava numa escola de música e, através da arte, tentava levantar o espírito dos soldados e dos habitantes. Eis como ela recorda isso:

“Criámos brigadas especiais, compostas por violinistas, sinfonistas, violoncelistas, pianistas, declamadores. Por exemplo, as crianças declamavam poesias, os vocalistas cantavam. Nos hospitais, atuávamos na sala de cerimônias, onde se juntavam os combatentes feridos que podiam andar. Mas, muito frequentemente, fazíamos concertos nas enfermarias onde estavam deitados os feridos.

Empurrávamos o piano para a enfermaria e dávamos um concerto. Os dias memoriais mais importantes para mim são a ruptura e o levantamento do bloqueio. Então, a professora de música da nossa turma organizou um concerto dedicado à vitória do Exército Vermelho na Frente de Leningrado. O concerto realizou-se a 28 de janeiro de 1944 e claro que ele continua vivo na memória de todos os que ficaram vivos.”

Em honra do 70º aniversário do levantamento do bloqueio, em São Petersburgo foram inauguradas exposições dedicadas aos acontecimentos desses dias. Desde 20 de janeiro que na cidade se realiza a ação “Fita da Vitória de Leningrado”.

A fita de seda, com as cores de verde-oliva e verde, acompanhava a medalha “Pela defesa de Leningrado”, com que eram condecorados os defensores militares e civis da cidade. Também vários bairros da cidade no Neva foram transformados em “Rua da Vida”: nelas foram temporariamente instaladas barreiras antitanque para recordar aos contemporâneos o aspeto da cidade em 1941-1944. 

Na véspera dos festejos, no Palácio Smolny, Georgi Poltavchenko, governador de Petersburgo, entregou os documentos de novos apartamentos aos veteranos da Segunda Guerra Mundial e às pessoas condecoradas com emblema de “Habitante de Leningrado bloqueado”. Ao todo, 26 veteranos e bloqueados receberam documentos de apartamentos. (Com a Voz da Rússia)

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