O leilão do pré-sal e as contradições de Dilma


                                                 

ANP e Dilma anunciam o maior leilão de petróleo do mundo, antecipando para outubro o primeiro leilão do pré-sal. Alinhada com o programa neoliberal e  apoiada pela mídia burguesa, a presidente conta com os dividendos eleitorais. Em 2012, Dilma pregava o contrário nos palanques. O assunto será pauta da próxima plenária da campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso, em 5 de junho, às 18h, na Avenida Passos, 34, no Rio: participe!

Fatima Lacerda (*)

O campo de Libra, na Bacia de Santos, a 180 quilômetros da costa fluminense, pode ter reservas de 42 bilhões de barris: o triplo das reservas que estavam comprovadas no Brasil até 2012, é anunciado num único campo! Algo que a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Magda Chambriand, considera “singular e inimaginável”.

Foi a grandeza da recente descoberta que levou a ANP e uma comitiva de ministros a convencer a presidente da República a antecipar o leilão do pré-sal para outubro, invertendo as prioridades: o leilão dos blocos de gás em terra ficará para novembro.

Libra será leiloado em Brasília e com a presença da presidente. Será a primeira licitação pelo sistema de partilha de produção, legislação específica criada para o pré-sal. Não se pode descartar a hipótese de que a presidenta está de olho nos dividendos eleitorais do grande espetáculo em que deverá se transformar o próximo leilão, aplaudido e ovacionado pela mídia burguesa.

De acordo com a Revista Exame, em abril a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, afirmava que “Libra teria volumes menores, entre 4 e 5 bilhões de barris recuperáveis”. Mas uma nova sísmica na região, realizada em maio com dados mais avançados, aumentou as estimativas da ANP para “12 bilhões de barris recuperáveis”.

As reservas in situ do campo de Libra, são estimadas pela ANP entre 26 e 42 bilhões de barris. Chambriard explicou que a cifra de reservas recuperáveis (12 bilhões) é calculada com base "em um número razoável de 30%" de recuperação das reservas in situ”. A diretora-geral da ANP disse mais: “Com os dados que temos atualmente, percebemos que estamos mais perto de 42 bilhões do que de 26 bilhões de barris”.

O Globo de domingo (26) escancarava a manchete, em letras garrafais: “Brasil fará em outubro o maior leilão de petróleo do mundo”. Veja, o Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo também saudavam a decisão da ANP, avançando na crítica ao modelo de partilha e no percentual de lucro que deve ser destinado à nação, algo em torno de 73%, diga-se de passagem, bem abaixo da média mundial.

A expectativa é que o leilão de Libra atraia petrolíferas do mundo inteiro, estatais e privadas. Outro atrativo é o óleo leve produzido por Libra, considerado de alta qualidade. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) publicou hoje no Diário Oficial da União (DOU) a autorização para a realização do leilão indicando a rodada somente com a área de Libra.

DILMA ERA CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DO PRÉ-SAL

Mais perplexidade do que a grandeza do pré-sal é a grande contradição da presidente Dilma. Durante a campanha eleitoral, em debate com o candidato do PSDB, José Serra, ela acusava o seu adversário de querer privatizar o pré-sal, “uma riqueza que pertence ao povo brasileiro”. Acusava o seu adversário de querer “entregar a empresas privadas internacionais uma riqueza que deve gerar dividendos a ser aplicados em saúde, educação, cultura, meio ambiente e que pode representar um passaporte para o futuro do Brasil”.

As palavras são da atual presidente. Confira aqui, no vídeo.

Aliás, quando candidata, foi sua defesa do papel do estado no desenvolvimento do país e da destinação de mais recursos para a área social que fez a diferença, revertendo votos a seu favor na reta final da campanha eleitoral. A mesma presidenta que chamava Fernando Henrique de “o homem das mil caras” mudou de opinião? Pode agora descartar os votos da esquerda e dos nacionalistas? A presidenta parece blindada pela grande mídia. Dos três anunciados candidatos das elites, talvez seja a mais adequada. Mas a história ainda vai cobrar essa conta.

Lembrando que toda a unanimidade é burra e que a luta dos trabalhadores contra os opressores é permanente, a campanha O Petróleo Tem que Ser Nosso convoca todas e todos a comparecem no dia 5 de junho à próxima plenária estadual, na Avenida Passos, 34, no Sindipetro-RJ, às 18h, no Rio.

 (*)Fatima Lacerda é jornalista da Agência Petroleira de Notícias

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