O Fórum Social Mundial e a batalha da comunicação


                                

Rosane Bertotti (*)
O Fórum Social Mundial que se realizará de 26 a 30 de março na Tunísia descortina uma nova oportunidade de contribuirmos para virar a página da globalização neoliberal e de todas as suas inumeráveis mazelas em favor do sistema financeiro e das transnacionais.

Se antes uma ação enérgica era necessária, como defendemos desde a realização do Fórum em Porto Alegre, hoje ela é mais do que urgente, pois a vida corre contra o relógio. Com a economia dos Estados Unidos e da Europa rolando ladeira abaixo, milhões de famílias estão sendo expulsas de seus lares por não terem dinheiro para saldar hipotecas, o desemprego se multiplica, salários são arrochados e direitos são eliminados do dia para a noite. A fome arromba as portas também no chamado Primeiro Mundo e, no conjunto do planeta, ecoa a palavra crise.

Para manter a irracionalidade e a perversão deste modelo que tem devastado países e povos, a Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Banco Central Europeu), persiste no seu receituário de mais do mesmo, forçando estados soberanos a abrirem mão da sua independência e apagar legislações sociais e trabalhistas em nome de uma suposta "modernidade". O resultado sangrento e doloroso está exposto e é por demais conhecido. Que o digam, entre outros, Portugal, Grécia e Espanha.

E quando o mecanismo de chantagens e pressões não funciona, no momento em que governos dizem não à cartilha dos que se creem donos do mundo e defendem suas riquezas naturais da exploração das transnacionais - como as do petróleo e do gás -, as relações políticas vão para o espaço e vêm à terra bombas e tropas de ocupação, deixando um saldo de centenas de milhares de vítimas - mesmo pelos cálculos oficiais dos invasores - como se viu no Iraque e na Líbia.

Para perpetuar esse modelo, numa verdadeira guerra da informação, os dominadores contam com agências internacionais de "notícias" que funcionam como porta-vozes camuflados dos seus interesses, procurando todo o tempo formatar a "opinião pública" à inação e à resignação. 

A luta política e ideológica que se dá hoje em torno ao tema da democratização da comunicação é, pois, um elemento chave para o enfrentamento e a superação deste quadro sombrio em que meia dúzia de monopólios de mídia determinam nas capas de jornais e revistas, nos noticiários de rádio e televisão, padrões de comportamentos, heróis e vilões, vencedores e perdedores, num maniqueísmo em louvor ao patrocinador.

Daí a importância da tomada de consciência do que representa esse veneno inoculado diariamente contra nossa autoestima, identidade e soberania, e a relevância de identificarmos quem está por detrás da criminalização dos movimentos sociais, da nossa condenação à invisibilidade. Daí a relevância de, ao mesmo tempo em que nos empenhamos na luta pela construção de novos marcos regulatórios de comunicação em nossos países, investirmos na estruturação de redes alternativas dos movimentos sindical e social que se contraponham à fábrica de mentiras.

A assembleia dos movimentos sociais deve novamente contribuir para que o FSM vá além da reflexão - sempre bem-vinda - e estruturar alianças e articulações que - respeitando a liberdade e a autonomia - levem ao campo e à cidade, do chão da fábrica aos bancos escolares, o compromisso com a construção de alternativas comuns pelas quais iremos combater de mãos dadas, em todo o planeta. Esta somatória de experiência e ousadia é um elemento determinante para que o Fórum honre suas raízes e cumpra com seu objetivo histórico de construir um novo mundo, justo, fraterno e humano.

Da nossa parte, vamos levar a Túnis a contribuição modesta, mas bastante expressiva, de um povo que derrotou por três vezes seguidas a campanha sórdida da mídia, que elegeu e reelegeu um operário e, posteriormente, colocou pela primeira vez em sua história uma mulher na Presidência da República. 

Compartilharemos a experiência da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e do Fórum Nacional pela Democratização pela Comunicação (FNDC), articulações profundamente empenhadas em libertar a palavra dos grilhões a quem tem sido historicamente submetida, levaremos a experiência do nosso Portal do Mundo do Trabalho, da Rede Brasil Atual, do jornal Brasil de Fato, propondo ao conjunto dos participantes um maior estreitamento de suas organizações em torno a tema tão estratégico e decisivo para o avanço da democracia.

Nosso compromisso é fazer com que o Fórum Social Mundial assuma esta luta e contribua para o bom combate num momento em que está em jogo o destino da Humanidade.

(*) Rosane Bertotti é secretária Nacional de Comunicação da CUT  (Com a Contraf)

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