Partido Comunista da Índia, a luta contra as privatizações

                                                     
Fundado em 1925 como consequência da revolução bolchevique na Rússia, o Partido Comunista da Índia (CPI, na sigla em inglês) sempre teve uma política voltada prioritariamente para a distribuição de terras. Nas últimas duas décadas, porém, aliados com outras forças de esquerda, os comunistas têm tentado frear uma onda de privatização no país.

Entre 1947 e 1990, a Índia teve a sua economia planificada, com licenças de negócios dadas a poucas pessoas. A autorização para abrir um negócio no país era chamada “Licença Raj”, uma brincadeira com o termo “Raj britânico”, que se refere ao domínio britânico no país. Pelo menos 80 agências governamentais avaliavam a solicitação antes da abertura de uma empresa privada no país. Caso fosse aprovada, a empresa ainda teria sua produção regulada pelo governo.

Em 1990, no entanto, o primeiro-ministro P.V. Narasimba iniciou uma série de reformas que incluem a privatização de instituições do Estado e a abertura da Índia ao mercado global.

“Até a década de 1990, todas as políticas econômicas do país eram, até certo ponto, socialistas, apesar de ser um socialismo muito diferente do russo, por exemplo”, explica o secretário do CPI do estado de Uttar Pradesh ao Opera Mundi, Dr. Gerish.

“Agora eles estão convidando grandes corporações, industriais estrangeiros, privatizando o setor público. Nos últimos 20 anos, a nossa luta tem sido contra esta política”, argumenta.

História do partido

A primeira batalha enfrentada pelo CPI foi participar do processo de independência da Índia, finalizado em 1947. A partir de então, o partido tem defendido a implementação de uma “Índia socialista”. “Durante a luta pela independência lutamos contra o feudalismo, a monarquia e o latifúndio. Depois da independência, conseguimos pressionar o governo a abolir o latifúndio em 1949”, conta Dr. Gerish.

A plataforma política do CPI contribuiu para que o partido conquistasse, por meio de alianças de esquerda, o governo de três estados: Kerala, Bengala Ocidental e Tripura.

Durante mais de trinta anos, a coligação Left Front (Frente de Esquerda) ganhou consecutivamente as eleições em Bengala Ocidental apoiando-se na sua agenda de reforma rural. Quando a assumiu o poder nesse Estado, em 1977, começou a implementar o seu programa de redistribuição de terra para pequenos camponeses e a descentralizar o poder através da criação de assembleias governativas participativas locais, as gram panchayats.

“Foram cometidos vários erros da parte do governo. Tínhamos uma política clara contra a aquisição de terras dos agricultores por parte do governo. A administração comprava por um preço muito baixo para depois as vender a indústrias. O governo pode comprar terras dos agricultores apenas para fins governamentais, não para companhias privadas, colonizadores e industriais. Os agricultores ficaram com raiva. Houve também casos de corrupção e outros erros”, admite Dr. Gerish.

Há outras sobre as razões por trás dessa derrota eleitoral. Alguns especialistas citam a hostilidade do partido contra a indústria e o investimento privado, resultando em um alegado colapso da economia local e a migração de um grande número de pessoas para outros estados da Índia à procura de emprego. Outros falam ainda que a perda de popularidade se deve a um discurso que continua colocando os Estados Unidos como inimigos.

Dissidentes

Após a independência da Índia em 1947, o Partido Comunista vivenciou uma série de debates que levaram ao surgimento de facções internas. O caso mais famoso é o da criação do Partido Comunista Marxista da Índia [CPI(M), em inglês], que se insurgiu contra uma postura mais conservadora (que alguns até chamaram de direita) do Partido Comunista tradicional. Para o CPI(M), o CPI deixou de lutar pela revolução popular e começou a operar de maneira consonante a um sistema parlamentar.

O CPI(M) foi fundado em 1964 com o apoio majoritariamente de trabalhadores rurais, cidadãos de castas consideradas inferiores e camponeses. Na base da sua ideologia, o CPI(M) “tenta aplicar independentemente os princípios Marxistas-Leninistas às condições de vida indianas e desenvolver estratégias para uma revolução democrática popular, que transformará as vidas dos indianos”.

Em entrevista ao Opera Mundi, o secretário do CPI(M) em Uttar Pradesh, Arun Mehta, assegura que, independentemente das derrotas eleitorais, a esquerda constitui ainda uma dos importantes formações políticas na Índia.

“Representamos muitas das preocupações das pessoas - o direito à segurança alimentar, combate à corrupção, igualdade de gênero e sensibilização e mobilização de pessoas em grandes números. Estar entre as pessoas e guia-las em lutas contra os ataques das classes dominantes à sua subsistência é nosso principal objetivo”. E conclui: “Isto assume um significado ainda maior hoje em dia, quando o impacto da crise econômica global está sendo muito sentida no nosso país”.

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