FARC insistem em uma paz efetiva e duradoura

                           

Depois de mais de 10 anos recusando o diálogo, governo da Colômbia aceita voltar à mesa de negociações com movimento guerrilheiro.

Em setembro deste ano foram retomados os diálogos de paz entre as guerrilhas e o governo, as primeiras conversas foram viabilizadas pelo governo de Cuba que junto à Holanda vem servindo de sede para os encontros de paz.


O momento mais importante de diálogo no passado ocorreu em 1985, quando depois de acordos entre guerrilhas e governo houve um cessar fogo e as guerrilhas buscaram apostar na luta social não armada e chegaram a participar da criação do partido União Patriótica – UP, que logrou eleger senadores, deputados, prefeitos e vereadores, mas logo nos primeiros anos de existência foi golpeada pelo governo e por paramilitares, que assassinaram cerca de 5 mil pessoas ligadas ao novo partido, incluindo parlamentares eleitos e candidatos à presidência da república. Nesse processo algumas das organizações guerrilheiras que optaram por abandonar completamente a luta armada, foram fisicamente eliminadas.

As tentativas posteriores também resultaram em fracasso por postura do governo e das oligarquias que preferiram o caminho da guerra para garantir através da violência a manutenção do modelo econômico que beneficia os monopólios e o latifúndio. A política de guerra faz parte da estratégia de dominação dos EUA para a América Latina, são 45 as instalações usadas pelos yankees em solo colombiano, o governo colombiano recebe valores que giram em torno de 700 milhões de dólares por ano dos EUA.

Desde a virada de século, o governo tem endurecido quanto à possibilidade de resolução pacífica do conflito e adotado postura que trata as organizações políticas insurgentes como terroristas. Desse modo, evita debater as reivindicações políticas e os problemas sociais que geraram o conflito armado.


O que querem as FARC-EP

As guerrilhas surgiram em condições históricas em que a resistência armada apresentava-se como necessidade, como forma de fazer frente à imposição violenta da classe dominante e, com a perpetuação da violência estatal, organizaram-se não só como movimento de autodefesa, mas como força armada para a tomada do poder e construção de outra sociedade. 

O impasse segue porque a classe dominante não pôde derrotar as guerrilhas, porque elas estão vinculadas aos setores oprimidos e explorados da sociedade e seu programa político representa os anseios de ampla maioria do povo colombiano. Do ponto de vista político, inclusive os setores que não estão de acordo com a luta armada tem identidade com o programa das FARC-EP.

Nas recentes declarações de representantes das FARC-EP está demonstrado o grau de seriedade e comprometimento que a guerrilha tem com a paz. As primeiras palavras de Ivan Marques (FARC-EP) deixam claro o entendimento de que a paz “não depende de um acordo entre porta-vozes das partes conflitantes. 

Quem deve traçar o caminho da solução política é o povo e a ele mesmo corresponderá estabelecer os mecanismos para referendar suas aspirações”. Na sequencia, o comandante afirma que não haverá paz se não forem resolvidos os problemas estruturais que fazem da Colômbia o 3° país com mais desigualdades e segue seu discurso apresentando a situação concreta que enfrenta o povo: “Mais de 30 milhões de colombianos vivem na pobreza, 12 milhões na indigência, 50% da população economicamente ativa agoniza entre o desemprego e o subemprego, quase 6 milhões de camponeses perambulam pelas ruas, vítimas de deslocamentos forçados. 

De 114 milhões de hectares que possui o país, 38 estão ligados à exploração petrolífera, 11 milhões à exploração mineradora; dos 750 mil hectares em exploração florestal se projeta passar para 12 milhões. A pecuária extensiva ocupa 39,2 milhões. A área cultivável é de 21,5 milhões de hectares, porém somente 4,7 milhões delas estão dedicadas à agricultura, retrato de uma decadência já que o país importa 10 milhões de toneladas de alimentos por ano”.

A postura do governo parece diferente, já que aceitaram estar na mesa com as FARC-EP. No entanto, há poucos meses insistia na ideia de que as FARC-EP deveriam escolher entre a rendição ou extermínio, alegando, como já fizeram centenas de vezes nas últimas décadas, que a guerrilha estaria à beira da morte. Essa aparente mudança do governo demonstra que as FARC-EP têm a razão quando afirmam se tratar de um conflito social e armado e insistem no diálogo como forma de buscar a paz.

Os diálogos de paz são uma vitória do povo organizado, que vem tomando as ruas e exigindo mudanças estruturais no país. A postura do Estado colombiano é um recuo tático à crescente mobilização dos movimentos sociais, partidos e organizações revolucionárias, que estão confluindo em iniciativas organizativas dentre as quais se destaca o movimento político e social Marcha Patriótica, criado oficialmente em abril deste ano em evento que reuniu cerca de 100 mil pessoas em Bogotá e que vem crescendo em todo país.

Aí reside outra grande diferença entre os representantes do poder estabelecido e os revolucionários farianos. Enquanto as FARC assumem em seu programa as demandas do povo e reclamam que a mesa de negociações se amplie e haja assento para os movimentos sociais, o governo trata de dizer frases vazias. Enquanto as guerrilhas defenderam desde o princípio um cessar fogo entre as partes, o governo fala de paz nas mesas de negociação em Cuba e Noruega ao mesmo tempo em que a guerra continua fazendo vítimas em solo colombiano, onde seguem operações militares e ataques do exército para criar desculpas que frustrem os acordos de paz.

Frente as intransigências do governo, que se nega a debater “questões estruturais” ou “modelos econômicos”, as FARC-EP demonstram mais uma vez suas reais intenções de construir a paz, declarando cessar fogo unilateral do dia 20 de novembro ao dia 20 de janeiro, para que as celebrações de final de ano possam alimentar a esperança de paz.

Não surpreende que o governo siga com a mesma postura, afinal o presidente Juan Manoel Santos foi o secretário de defesa e responsável pela desastrosa política de extermínio de Álvaro Uribe – o qual até a CIA reconhece como narcotraficante – nos conhecidos documentos revelados pelo wikileaks.

A classe dominante colombiana governa através da violência e se reproduz há mais de 50 anos tendo a violência como parte de sua cultura, tal qual os antigos senhores de escravos. Não merece nenhuma confiança. As esperanças dos defensores da paz estão voltadas ao povo colombiano em suas diversas organizações e movimentos, que até o momento têm seus interesses representados nas mesas de negociação pelas FARC-EP.

Defender a paz na Colômbia é tarefa de todos os revolucionários e verdadeiros democratas, porque não se trata apenas de escolher entre a guerrilha ou o governo, mas de solidarizar-se com a luta do povo colombiano, com os movimentos sociais, estudantes, sindicalistas, negros, mulheres, indígenas e com a efetiva independência da América Latina.

Com toda nossa solidariedade nos somamos aos desejos de que nas próximas rodadas se abordem com seriedade as causas do conflito e sejam debatidas em Havana soluções concretas aos problemas estruturais da Colômbia, como primeiro passo para construir a paz duradoura. Depositamos nossa máxima confiança nas FARC-EP, que representa heroicamente as necessidades históricas do povo colombiano nas mesas de negociação e desejamos que o primeiro aniversário da morte de Afonso Cano seja também o marco da vitória da paz.


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