“Reivindicações Básicas mínimas para o inicio das tratativas dos movimentos sociais que utilizam o Rio Xingú como atividade de subsistência – Ribeirinhos e Pescadores de Altamira e Região”


                                                                          
No nono dia dos protestos dos pescadores do Xingu, que se mantém acampados em ilha próxima às obras da barragem de Belo Monte, representantes do Ministério da Pesca e da Casa de Governo se reuniram com representantes da Colônia de Pescadores Z-57 em Altamira, no Pará. Também participaram da reunião a Associação dos Criadores e Pescadores de Peixes Ornamentais (ACEPOAT) e a Cooperativa dos Pescadores e Beneficiadores de Pescado de Altamira (COOPEBAX).

As associações de pescadores entregaram aos representantes do governo federal uma lista de reivindicações denominada: “Reivindicações Básicas mínimas para o inicio das tratativas dos movimentos sociais que utilizam o Rio Xingú como atividade de subsistência – Ribeirinhos e Pescadores de Altamira e Região”, tratando dos impactos da obra de Belo Monte, incluindo a continuidade do desenvolvimento das atividades de pesca e aquicultura no Rio Xingu. 

 No relatório do que o governo chamou de “audiência com os pescadores de Altamira”, as reivindicações foram encaminhadas para discussões futuras, em mesas de discussão entre “governo x Norte Energia”, e para “encaminhamentos a quem de direito”.

“Todas essas questões envolvendo os impactos de Belo Monte sobre os pescadores e suas famílias deveriam ter sido discutidas antes do início da construção. Agora o governo e a Norte Energia estão tentando fazer com os pescadores a mesma coisa que fizeram com os índios, enganando eles enquanto avançam com as obras”, diz Antonia Melo, coordenadora do Movimento Xingu Vivo.
DRAMA DOS PESCADORES
Os pescadores denunciam o drama que estão vivendo com a diminuição dos peixes após o início da construção do barramento do rio e estão preocupados com o avanço acelerado das obras na ensecadeira do pimental, onde está sendo construído barramento para desviar o curso do rio.

“Agora você vem para o rio e aquela produção que você fazia em 3 dias, não consegue fazer nem em 8 dias. O peixe está diminuindo aqui. E pra cima do Xingu, não tem como a gente ir, porque o que não é área indígena já está cheia de pescadores. E aqui o peixe está sumindo. E os peixes que morrem eles recolhem e dão sumiço”, denuncia o pescador indígena Cecílio Caiapó, “A gente fica uma semana no rio e volta com uma mixaria de peixes pra casa. O que a gente vai mostrar pra nossa família? Quer dizer que as obras não podem parar mas a gente pode morrer de fome?”, questiona. Cecílio afirma que os pescadores só queriam poder continuar pescando, como sempre fizeram.

O pescador Lindolfo explica que desde o início do verão (em Maio deste ano), ele está sendo obrigado a gastar o dobro de combustível e tempo, para conseguir encontrar uma quantidade de peixes menor do que sempre conseguiu pescar no Xingu. “E aí, como é que eu fico? porque eles estão quase fechando o rio na ensecadeira”, diz Lindolfo. 

Entre as demandas discutidas na reunião desta quarta, os pescadores  exigiram uma nova avaliação de impactos sobre os estoques de peixe através do levantamento dos estudos feitos pela UFPA e outros sobre monitoramento da pesca e biomas, como subsidio de avaliação do grau de impactos na produção e ambiente natural do pescado atualmente.
INTIMIDAÇÃO
Ao longo dos últimos dois dias, funcionários uniformizados do Consórcio Construtor de Belo Monte, têm desembarcado na ilha onde os pescadores estão acampados para filmá-los em atitude de intimidação. A ilha da resistência, como está sendo chamada pelos pescadores, não pertence ao CCBM.
“Nós estamos muito revoltados, porque podia ter vindo um representante da Norte Energia aqui fazer uma proposta justa pra gente e ao invés disso mandaram a polícia na semana passada e agora os guaxebas para ficarem filmando a gente sem autorização”, diz o pescador Cecílio, que acusa os funcionários da empresa responsável pela construção de Belo Monte de agirem com intuito de intimidá-los e de não respeitarem o direito dos pescadores à imagem.

“Essa é uma forma criminosa de intimidar os pescadores”, diz Antônia Mello, do Xingu Vivo.Segundo funcionários da empresa relataram à alguns pescadores, a proximidade do grupo às obras forçou o cancelamento de explosões que ocorreriam no final da tarde de ontem.(Com o Movimento Xingu Vivo)

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