Flávio Anselmo: A LIÇÃO QUE OS JOVENS PRECISAM APRENDER


                                             
        "... deixo à consciência de cada jovem  imaginar os perigos que o Atlético passa, fora de campo, nessa partida contra o Flamengo"




Quando um de nós, dinossauros da crônica esportiva, em fase de extinção, levanta suspeitas sobre a ação da CBF em benefício de determinado clube carioca ou paulista – a preferência é para o Flamengo ou o Corinthians – na reta de final de qualquer competição importante, os jovens duvidam. Não estão errados. A maioria sai da faculdade sob a inspiração do politicamente correto e não creem nos submundos do futebol.

Com o tempo, entretanto, os poucos artistas desse palco tenebroso deixam suas máscaras caírem. O esporte do povo brasileiro, então, se enodoa. Não devem os caros moços, se decepcionarem. Essa coisa vem de há muito e as gerações passadas, inclusive a minha, não souberam acabar com tal podridão.

Aconselho aos meus bons que após a decepção natural encham-se de coragem, e que rompam os grilhões das forças financeiras ocultas, dos interesses baixos. E encham os porões podres do futebol com água limpa. A pureza dos jovens jornalistas, a mesma que imaginam transmitir aos cartolas sujos, aos atletas mercenários e aos treinadores dissimulados poderia ser uma regra geral. Passa por perto.

 Todavia, como em qualquer meio privilegiado, onde a fortuna e o poder caminham juntos, sem consciência, ideologia e vergonha, existem as exceções. Uma pequena parte é a que inunda os porões de porcarias saídas de achaques, acertos inconvenientes e de corrupção.

Outro dia falei na TV Horizonte, Jogada de Classe, sobre as arrumações da CBF em favor do Fluminense, ou do Vasco, times do G-4. O Galo foi o mais visado na época porque liderava o Campeonato Brasileiro. O adiamento do jogo contra o Flamengo foi uma dessas arrumações.

Aí me perguntaram: qual seria o benefício do Flamengo? Tinha então um time desmoralizado, desfigurado e com sequência de resultados negativos. Não mudou tanta coisa para o jogo desta quarta-feira contra o Atlético. Mas poderia ter mudado! E com certeza alguma coisa melhorou, tanto que o time venceu o Atlético-GO, no domingo.

Se isso não for o suficiente tentem explicar de maneira mais convincente a troca de árbitros; não que eu ache Selene o supra-sumo. Porém, como engolir o novo árbitro, escolhido pela “bolinha” gelada dos sorteios? Não conheço seu histórico, nem sei seu nome.

O problema é de Kalil e não meu. A mim cabe apenas destampar o barril de m. e de podridão que se pode enxergar no fundo de tudo isso, ao ver a CBF tratar as coisas fora do Eixo. Provincianismo? Que nada, meus jovens, é a história que vivencio há 50 anos como cronista esportivo; está cheia de fatos iguais ou piores.

Pra ficar apenas na história do Atlético que é o personagem do momento, lembro-me de 1979, quando o Internacional foi campeão invicto e o Galo esteve a pique de ser desfiliado da CBF, ou CBD, sei lá, comandada pelo Almirante Heleno Nunes. A história do próprio campeonato por si só é imunda.

 Pra fazer média com os políticos da Arena, partido dos militares no Poder, Heleno Nunes fez uma competição com 84 times que se iniciou sem os seis principais do Rio de Janeiro e os seis grandes de São Paulo. Foi um entra-e-sai vergonhoso, absurdo e que terminou com quatro classificados para as semifinais. Atlético, Internacional, Goiás e Vasco.

 Aplicaram um golpe no Atlético na tentativa de inverter a ordem de jogos já estabelecida no regulamento. O presidente da época, Valmir Pereira, deu um soco na mesa e mandou recado ao tomar conhecimento da tabela que marcava seu primeiro jogo pra Goiânia, contra o Goiás. “Lá o Atlético não vai, está fora”. E não foi mesmo. Tomou WO em Goiânia e WO contra o Internacional, que acabou campeão invicto.

Vivenciei toda briga como comentarista da Rádio Capital. O diretor da emissora, o falecido Gil Costa, entrou na confusão e como goiano seguiu no avião de Valmir Pereira, além de dono de cartório, fora piloto da Força Aérea, em busca de um acordo com o Goiás. Este não topou mudar a tabela;  Heleno Nunes manteve firme na decisão de botar o Galo pra jogar as duas primeiras partidas fora de Belo Horizonte. O alvo visado pra receber o benefício seria o Vasco. Funcionou para o Internacional, entretanto.

Este é apenas um dos casos que vivenciei. Teve aquele famoso de 1980, na decisão do Brasileiro, no Maracanã, quando José de Assis Aragão expulsou Reinaldo já lesionado de tanta porrada e que acabara de empatar a partida em 2 a 2 assim mesmo. O Flamengo fez o gol da vitória com Nunes.

Vi uma partida eletrizante, espetacular, que ficou manchada pela arbitragem tendenciosa de Aragão. Nada de escandaloso. Apenas inversões de faltas, cartões em excesso para um lado só, preto-e-branco. Esta partida dura até hoje na memória dos bons atleticanos. Os jovens, talvez, conheçam apenas pelo ouvir dizer, sem a presença na frente dos fatos, nem pela televisão.

Seguiu-se a esse o vergonhoso episódio do Serra Dourada, em 1982. Eu estava lá com saudoso Vilibaldo Alves, os amigos Chico Maia e Afonso Alberto ou Paulo Roberto, falha a memória neste detalhe. As cenas provocadas por José Roberto Wright no apito jamais foram esquecidas. As expulsões seguidas, as primeiras injustas e as demais provocadas quando a turma sentiu que jamais o Galo venceria o Flamengo naquela disputa da Libertadores. “Fazemos o quê aqui?” se perguntaram, com certeza, os craques em campo.

Pra não encher mais essa página de puro saudosismo e de exemplos de como a província das Geraes sofre nas mãos dos cartolas da CBF, qualquer que seja o seu presidente, deixo à consciência de cada jovem pra imaginar os perigos que o Atlético passa, fora de campo, nessa partida contra o Flamengo.

No gramado, não existe nenhum temor: o time de Cuca é bem superior à equipe que Dorival Júnior tenta montar na Gávea a fim de evitar que o glorioso rubro-negro de tantas glórias e  ajudas entre no buraco negro do descenso. O Flamengo na segunda divisão mataria o pessoal global do coração. 


Flávio Anselmo
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