Canastra e canastras 
      José Carlos Alexandre

Estou passando uns dias em pleno sertão mineiro, lá pelos lados da nascente do São Francisco, indiferente aos primeiros pingos de chuva, ao comecinho do inverno e às piadas em volta, quase sempre de gosto duvidoso.

Minas atenções são desviadas momentaneanente  para os doces sabores das iguarias da região, à preciosidade da pinga de cabeça, forte, porém puríssima, e pela degustação do melhor canastra do mundo.

Por todos os lados que olho, a vegetação  entre amarelada e verde. De um verde escuro, que não se confunde nunca com as cores dos mares caribenhos mas  que nos fazem lembrar de matas nativas  de Cuba, de Santa Lúcia ou de Cartagena de Índias, esta última em mistura com construções que lembram a Idade Média, nos conduzem aos lendários piratas aos abismos inimagináveis da nossa infância.

Oh! Que delícia a vida caribenha, fora da temporada de tempestades tropais e de furacões...
Tomo da câmera fotográfica.

Minhas mãos, contudo, se negam a manipulá-la, mesmo com todas as facilidades  da atual tecnologia que dispensa fotometro, cálculos complicados de distância e de luminosidade e coisas que os valham.

Quero ouvir histórias e mais histórias, ainda que já tenha passado os limites da mesopotâmia de que nos falava Guimarães Rosa, ou seja, o espaço entre os Rios Paraopeba,  entre Betim e Juatuba, e o Rio Pará entre Carmo do Cajuru e Divinópolis. Bobagem, nem estou certo de que o velho Guima foi quem fez menção às terras entre rios, se o foi também não estou certo das cidades por elas abrangidas...

Talvez tenha lido algo numa das crônicas ou num dos livros de meu colega Ariosto da Silveira...É possível que esteja aí a confusão em meu cérebro...

Só sei que, Mesopotâmia na verdade foi um dos principais berços das civilizações, onde hoje está situado o Iraque de tantos atentados, de tanta destruíção causada pela ambição capitalista, liderada pelos Bush...

 E que de lá surgiriam os primeiros vestígios da  luta dos homens pelos Direitos Humanos, contra a exploração do homem pelo homem, apesar de a escravidão ser ainda tolerada...

Ponho-me de pé pela manhã, o café reforçado com ovos caipira, muita fruta, pedaços generosos de broas de fubá e de permeio, canastras, canastras, canastras.

 Hora de enfrentar a estrada, zanzando atrás de caminhões e ônibus, caminhonetes de todos os tamanhos e tipos, retas impensáveis...E boa música, previamente colocadas no pen drive antes da viagem.

De  quebra, pedágios e mais pedágios, cada vez mais caros e com a necessidade de se ter moedas sempre `a mão....

Que coisa! Só parando volta e meia para degustar um bom café de beira de entrada...

Como no tradicional Café dos Motoristas...

Salve, salve. Belo Horizonte à vista! Com todo seu trânsito maluco...

De enfrentamento diário, até a próxima volta à Canastra e aos canastras...

Com pausas para a sopinha do Stalo, o caldo de galinha das quintas-feiras no Rozemar e  do filé de tilápia  do Scarola ou da maionese caseira do José Joaquim, no caminho para Capitólio...




Comentários

Anônimo disse…
Lindo texto, sr Alexandre. A região merece suas palavras. Parabéns!