Pai de palestino preso por Israel vai pedir apoio ao ex-jogador Ronaldo



A expectativa dos palestinos, de que Israel não cumpriria integralmente o acordo feito com os prisioneiros políticos, infelizmente se realizou. Em comunicado oficial divulgado ontem em Ramala, Palestina, a Associação Addameer de Apoio aos Prisioneiros e aos Direitos Humanos informou que Mahmoud e Akram mantêm-se em greve de fome porque seus direitos não foram respeitados.

Mahmoud está preso há três anos, sob a Lei dos Combatentes Ilegais israelense, que, como a detenção administrativa, permite que cidadãos palestinos sejam encarcerados sem acusação e sem processo – portanto, sem possibilidade de defesa – por um período indefinido. Mas a Lei dos Combatentes Ilegais, segundo a Addameer, oferece aos prisioneiros menos proteção legal do que a detenção administrativa.

Mona Neddaf, advogada da associação, visitou cinco prisioneiros na clínica do presídio de Ramleh e afirmou que a situação de Mahmoud e Akram é crítica. Eles estão proibidos de receber cuidados médicos independentes – isto é, não ligados ao IPS, o serviço prisional de Israel – e correm risco de morte. Mahmoud mal conseguia falar: a todo momento interrompia-se, incapaz de prosseguir. Ele tem 25 anos e foi preso no checkpoint de Erez, em julho de 2009, quando ia se reunir à seleção palestina de futebol para um jogo no campo de refugiados de Balata, na Cisjordânia. Até hoje Mahmoud não sabe por que está preso. Seu pai divulgou uma carta, solicitando apoio internacional, que será entregue também ao jogador Ronaldo, padrinho de um programa de recuperação de jovens palestinos traumatizados pela ocupação sionista. O jogador palestino manteve a greve, hoje (25 de maio) em seu 68º. dia, porque as autoridades israelenses ainda não estabeleceram a data de sua libertação.

Akram, há 43 dias sem ingerir alimentos, tem asma, diabetes e osteoporose. Por isso, segundo Mona, é o que mais tem sofrido em consequência da greve. Por causa de seus problemas crônicos de saúde, ele tem sido mantido na clínica de Ramleh desde sua prisão, em 2004.

Outro prisioneiro que enfrenta sérios problemas é Mohammad Tai, que encerrou sua greve de fome no 60º. dia em função do acordo da semana passada. O IPS prometeu tratá-lo como prisioneiro de guerra, como ele exigia, mas não cumpriu a promessa. Mohammad então voltou à greve em 15 de maio, um dia depois de tê-la encerrado, para pôr fim nela novamente em 21 de maio. Ele contou a Mona ter sido submetido a maus tratos ao reiniciar a greve: foi retirado de Ramleh e transferido para o centro de interrogatório de Al-Jalameh, onde apanhou muito e teve as roupas arrancadas do corpo. Além disso, os soldados tentaram forçá-lo a engolir leite, jogando o líquido em sua garganta.

A advogada da Addameer também visitou Bilal Diab e Thaer Halahleh, que encerraram a greve de fome em 14 de maio. Bilal, que será libertado em 11 de agosto, data em que expira seu atual período de detenção administrativa, sente dores fortes no estômago e na cabeça. Seu organismo tem rejeitado a maioria dos alimentos que lhe são oferecidos, com exceção de sopa e leite. O médico da clínica de Ramleh avisou-o de que sua recuperação vai se estender por dois anos. E, apesar do acordo com o IPS ter garantido a visita de familiares, a mãe de Bilal foi proibida de vê-lo há dois dias.

Thaer, que deve ser libertado em 5 de junho, ao fim do período de detenção administrativa, tem dores agudas no estômago, no pâncreas e nas costas. Em 20 de maio, apesar da gravidade de seu estado de saúde, foi transferido para o centro de detenção de Ofer, para interrogatório, e depois remetido de novo a Ramleh. Ele e Bilal já anunciaram que, se não forem libertados nas datas aprazadas, retomarão a greve de fome.

A Addameer informou que, além dessas “sérias violações”, já documentou casos em que Israel ignorou o acordo firmado no que diz respeito à prática da detenção administrativa. Embora o documento estabeleça que esse tipo de detenção seria limitado, várias pessoas foram presas recentemente com base nela. Além disso, muitos dos que já estavam detidos e suspenderam a greve de fome tiveram, esta semana, seus períodos de encarceramento renovados.

Por tudo isso, a Addameer exige que Israel seja responsabilizado “por todas as violações de direitos humanos relativas aos grevistas”. Exige também que Mahmoud Sarsak e Akram Rikhawi recebam de imediato a visita de médicos independentes e que sejam transferidos para hospitais civis públicos, “onde poderão receber cuidados médicos adequados e urgentes”. Solicita ainda que a comunidade internacional pressione no sentido de que Israel seja leal ao acordo assinado e ponha fim “ao abuso sistemático dos prisioneiros palestinos”.

Leia, a seguir, a carta escrita pelo pai do jogador de futebol Mahmoud, a ser entregue também ao brasileiro Ronaldo.

“Mahmoud Sarsak, nosso irmão e filho, tem 25 anos, é jogador profissional de futebol e mora no campo de refugiados de Rafah, na Faixa de Gaza. Hoje ele entrou em seu 68o. dia de greve de fome. Pedimos que você apoie Mahmoud e sua reivindicação de tratamento justo. Sua voz pode ajudar a salvar a vida de Mahmoud, e será uma pequena vitória contra a injustiça.

Mahmoud está preso há três anos, desde que, em 22 de julho de 2009, foi detido por soldados israelenses no posto de controle militar de Erez, em Gaza, quando se dirigia para a Cisjordânia, onde se reuniria à seleção palestina de futebol para um jogo no campo de refugiados de Balata.

Depois disso Mahmoud foi transferido para a prisão de Ashkelon, em Israel, onde permaneceu para interrogatório durante 30 dias, antes de receber ordem de prisão pela Lei dos Combatentes Ilegais israelense, em 23 de agosto de 2009.

A Associação Addameer de Apoio aos Prisioneiros e aos Direitos Humanos declarou que, "na prática, a Lei dos Combatentes Ilegais contém ainda menos proteção aos detentos do que as poucas que são garantidas aos cidadãos da Cisjordânia sob detenção administrativa", e permite que Israel mantenha os palestinos de Gaza presos por período indefinido, sem acusação e sem processo.

Mahmoud deu início a uma greve de fome em 19 de março de 2012 para protestar contra o fato de estar preso sem acusação e sem processo, solicitando ser informado dos motivos pelos quais vem sendo mantido na prisão há 3 anos, para poder fazer sua defesa, que, de acordo com o direito internacional, é seu direito mais básico. Depois de ter começado a greve de fome, ele foi transferido para a prisão de Naqab, em 8 de abril, e em seguida colocado em confinamento em solitária na prisão de Eshel. Em 18 de abril foi transferido para a clínica do presídio de Ramleh, em consequência da deterioração de seu estado de saúde. Hoje, 25 de maio, ele completa 68 dias em greve de fome, marco extremamente perigoso, que pode levá-lo à morte a qualquer momento.

Mahmoud é um dos 4.400 palestinos mantidos em prisões israelenses, em violação aos artigos 49 e 76 da IV Convenção de Genebra, que proíbe a transferência de cidadãos de povos ocupados (como é o caso dos palestinos) ao território do país ocupante (Israel). Violações desses artigos são consideradas crimes de guerra, segundo o direito internacional.

Para nós, é insuportável ver Israel receber a honra de ser anfitrião do 21o. campeonato de futebol da UEFA em 2013, e preparar-se para participar das Olimpíadas de Londres, enquanto rotineiramente prende, tortura e mata palestinos, incluindo jogadores de futebol, sem ser penalizado. Esse não é um jogo justo. Esportes devem demonstrar solidariedade.

Como familiares de Mahmoud, pedimos às pessoas de consciência que exijam sua libertação imediata, que pressionem governos e organizações internacionais para exigir que Israel cumpra as normas mais básicas do direito internacional. Em particular, pedimos aos companheiros jogadores de futebol e atletas que manifestem apoio a Mahmoud, que não permaneçam em silêncio enquanto a crueldade e a arbitrariedade de Israel destrói as aspirações de um atleta em ascensão e mantém em suas celas milhares de pessoas em condições sub-humanas. Pedimos aos times de futebol e aos fã-clubes antirracistas que organizem apoios para Mahmoud e para todos os presos políticos palestinos. Sua voz pode contribuir para salvar a vida de Mahmoud e, como dissemos, garantir mais essa pequena vitória contra a injustiça.

É hora de pôr fim aos crimes que Israel comete impunemente, e de exigir a libertação de todos os palestinos presos ilegalmente por Israel, incluindo aqueles que, junto com nosso amado Mahmoud, fizeram greve de fome em nome de sua dignidade e de sua liberdade.(Com o Brasil de Fato)



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