Minas Gerais vai pedir garantias de vida  para ex-delegado que confessa
                               ter atirado contra Nestor Veras durante tortura na Delegacia da Rua Uberaba
Nestor Veras, sindicalista e jornalista, morto sob tortura depois de ser dado como "desaparecido"
                                             
A secretária de Direitos Humanos, Maria do Rosário, deverá receber amanhã abaixo-assinado solicitando empenho para que o ex-delegado Cláudio Guerra, autor de "Memórias de uma guerra suja" receba total proteção para evitar sofra novo atentado contra sua vida. O memorial foi assinado durante reunião hoje à tarde no Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais e é assinado por diretores da Associação dos Amigos do Memorial da Anistia, dentre eles, Maria Cristina Rodrigues, Nilmário Miranda, Betinho Duarte Márcio Santiago e outros, além do secretário político do Partido Comunista Brasileiro, José Francisco Neres, Eneida da Costa, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Alípio Gomes Filho, um dos últimos políticos a ver o desaparecido político Nestor Veras vivo etc.Márcio Santiago e José Carlos Alexandre assinaram como conselheiros do CONEDH.

O encontro foi aberto pelo deputado federal Nilmário Miranda, que foi secretário de Direitos Humanos e é membro-fundador da Associação dos amigos do Memorial da Anistia, em construção na rua Carangola, no bairro Santo Antônio. Ele expôs fatos constantes do livro do ex=torturador Cláudio Guerra e seu depoimento de que o fundador e um dos primeiros diretores da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, Nestor Veras foi torturado na então Delegacia de Furtos e Roubos (onde já se viu colocar presos políticos numa repartição dessa?), situada na Rua Uberaba 175, no Barro Preto, em Belo Horizonte. Cláudio Guerra, que hoje seria evangélico afirma que deu o tiro de misericórdia em Nestor Veras que estava em agonia depois de ter sido bastante torturado.

Cláudio Guerra, segundo informou Nilmário, pelo que ouviu falar e leu na imprensa, teria sofrido atentado contra sua vida há alguns dias, o que motivou a reunião para pedir ao governo federal providências visando sua proteção.

O dirigente comunista (secretário político do PCB em BH, cargo equivalente ao de presidente)José Francisco Neres, narrou os últimos momentos de Nestor Veras, membro do Comitê Central do PCB, antes de seu desaparecimento em abril de 1975 na avenida Olegário Maciel em Belo Horizonte.

Quanto à data do desaparecimento há controvérsia. Ela consta em diversos documentos de desaparecidos políticos e até mesmo no processo aberto em Belo Horizonte na Procuradoria da República. 

Um dos que estavam com Nestor Veras, José Francisco Neres e José do Carmo Rocha (já falecido) Alípio Gomes Filho e sua esposa, disseram na ocasião  que a data do acontecimento provavelmente seria em torno de fevereiro de 1976 pois o casal estava esperando uma filha na ocasião. Eu próprio  declarei em depoimento na Procuradoria da República em Belo Horizonte dia 20 de abril de 2012, durante dois dias compareci ao Departamento de Documentação do Estado de Minas, na Avenida Mem de Sá, no bairro Santa Efigênia e pesquisei as coleções do jornal Diário da Tarde  de todos os dias de abril e de maio de 1975 e não encontrei a notícia  que fiz tão logo recebi a informação do sequestro de Nestor Veras à entrada de uma Drogaria na Avenida Olegário Maciel, esquina com a Rua Tupinambás. Dois dias porque no segundo, fiz questão de dar uma olha em todas as páginas que havia pesquisado no dia seguinte, só para ter certeza de que nada havia sobre o assunto. Informei o fato à senhora procuradora dos Direitos do Cidadão, dra. Silmara Cristina Goulart.

Veja agora o que registra o livro Em Defesa da Memória e da Verdade, sobre Nestor Veras:


NESTOR VERA (1915 – 1975)
Número do processo: 212/96 
Filiação: Pillar Velasques e Manoel Vera
Data e local de nascimento: 19/07/1915, Ribeirão Preto (SP)
Organização política ou atividade: PCB
Data e local do desaparecimento: abril de 1975, Belo Horizonte (MG)
Data da publicação no DOU: Lei nº 9.140/95   – 04/12/95
Desaparecido em abril de 1975 em frente a uma drogaria de Belo Horizonte, conforme denúncia formulado pelo dirigente máximo do PCB, Luís Carlos Prestes, seu nome integra a lista de desaparecidos políticos anexa à Lei nº 9.140/95. Paulista de Ribeirão Preto, Nestor era de origem camponesa e se casou, em 1938, com Maria Miguel Dias, com quem tinha cinco filhos. Foi Secretário Geral da União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB) e tesoureiro da primeira diretoria da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura, 
quando essa entidade sindical foi fundada em dezembro de 1963, tendo como presidente Lindolpho Silva, também integrante do PCB.  Foi um dos organizadores do congresso camponês realizado em Belo Horizonte em 1961, integrando nesse encontro a comissão sobre reforma agrária, ao lado de Francisco Julião, Armênio Guedes, Dinarco Reis e Alberto Passos Guimarães.   Dessa comissão saiu o texto Declaração do I Congresso Nacional dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, sobre o caráter da reforma agrária no Brasil.
Trabalhou também como jornalista, sendo responsável pelo jornal Terra Livre, que o Partido Comunista lançou em 1949 para se concentrar na temática do movimento camponês e nas questões do trabalhador rural. Caio Prado Junior incluiu um texto de sua autoria numa publicação que lançou em 1962 pela Editora Brasiliense.DIREITO À MEMÓRIA E À VERDADE
|  398  |

Comentários