Allan Freed

Fernando Ferro

Gilberto Gil

Jorge Ben

Sérgio Cabral

Mário Lago
                                                                                                                                  
JABACULÊ E OUTRAS MUTRETAS
·        Hermínio Prates


A ocupação militar do Iraque e a carnificina no Afeganistão podem chegar ao fim, caso se possa acreditar nas promessas de Barack Obama, mas aqui na terra onde pipilam os pardais - essa praga alada que nos aporrinha desde 1903, quando aqui foi introduzida – outra é travada nos bastidores do rádio e da televisão. Sobre pardais e enganos, digo que esses emplumados da família passeridae, do gênero passer e petronia foram importados porque diziam que eles poderiam comer o mosquito da febre amarela. Mas que nada, cantaria décadas depois o antigo Jorge Ben, hoje Benjor que mudou de nome, mas não remoçou o repertório. Os pardais comeram e comem tudo, menos os mosquitos que afligem os fracos e favorecem os poderosos no desvio de verbas para combate às endemias rurais e urbanas. Ah, se não fosse o Oswaldo Cruz, que venceu a intolerância e a ignorância na guerra da vacina no século passado e atrasado...
Foi na época gerenciada por Rodrigues Alves (1902/1906), que deu carta branca ao prefeito Pereira Passos e ao sanitarista inovador que garantiu – e cumpriu! – acabar com a varíola, a febre amarela e a peste bubônica disseminada pelos ratos. A Revolta da Vacina, em novembro de 1904, é fato a lamentar e nunca repetir. Confira nos alfarrábios históricos.
Ainda sobre os pardais: militantes ecológicos garantem que eles estão em extinção porque, com a devastação do habitat dos gaviões, eles estão se mudando para as grandes cidades, onde o cardápio se resume a pardais e pombos, mas é farto, embora não variado.
A surda guerra nos bastidores? Ah, sim! O motivo do conflito é a  proibição do jabaculê, amiudado para jabá, prática criminalizada graças à iniciativa do deputado Fernando Ferro, do PT. A legislação prevê penas que variam da multa à detenção de um a dois anos, além da cassação da emissora que receber grana para favorecer determinado artista e/ou música em sua programação.
Como funciona o jabá, pergunta você e respondo eu. Simples: a gravadora contrata determinado número de execuções diárias, a posição de tal música nas paradas de sucesso, paga por apresentações do artista em programas de auditório e outros shows televisivos e, para dar “veracidade” ao fenômeno musical, paga por críticas favoráveis de jornalistas e/ou pseudos entendidos do feito. O supra sumo para o sucesso é a inclusão da música como trilha sonora de novelas ou minisséries. Aí sim, não há tatibitate com míseras notas musicais que não faça sucesso.
Quer saber a origem do jabá? Informo. Como o que não presta quase sempre vem dos Estados Unidos, de origem ele é conhecido como        payola” e “song plugging”, devendo cada qual conferir no pai dos burros em inglês. O macete fez parte da estratégia de marketing usada pela indústria fonográfica, principalmente na divulgação do rock n’roll nas rádios norte-americanas. A baixa qualidade do rock deu origem a um atuante lobby dos conservadores, que forçou a Câmara dos Deputados a tornar a prática do jabá em crime. O pulo do gato foi ensaiado por Albert James Freed, o esperto DJ Alan Freed, que teria cunhado a grife rock n’roll no imaginário musical. E o sacana, além de popularizar uma expressão antes utilizada apenas para referir-se ao ato sexual em letras, tanto abusou nos permissivos shows Rock Jamberee que foi condenado pela rígida justiça dos prepotentes e puritanos descendentes oriundos do May Flower.
Em 2006, os empresários mal tinham ouvido falar do projeto contra a prática do jabá e as enormes goelas começaram a se contrair em frenéticos espasmos diante da possibilidade de perderem um rico e fácil dinheirinho.
Como até as amebas sabem, a tramóia funciona da seguinte forma: a indústria fonográfica decide fabricar mais um ídolo de barro, compra espaços na televisão e nas emissoras de rádio e o mocinho (ou mocinha), de um momento para outro, se transforma em sucesso absoluto, gerando gordo lucro para a indústria. E o mico cultural sobra para telespectadores e ouvintes de rádio, que são forçados a consumir a droga musical.
Nem sempre foi assim, pois quando o rádio engatinhava a programação de cada emissora era mantida graças à participação dos mais chegados, que emprestavam os discos. Essa foi a árdua era das “sociedades” e “educadoras”, expressões que até hoje integram o nome de algumas emissoras radiofônicas.
 Foi nessa época que um abnegado locutor, cujo nome a história do rádio fez questão de não preservar, decidiu gastar a sola dos sapatos percorrendo as lojas de discos para descobrir quais eram os mais vendidos. Foi assim que surgiu a primeira parada dos preferidos, que depois foi vendida como de “sucessos”. Há uma referência a esse pioneiro em uma das obras de Sérgio Cabral, o pai. Ou seria nas do briguento pela música brasileira, José Ramos Tinhorão? Ou Tárik de Souza? Não me lembro. Também pode estar nas memórias do correto Mário Lago, que conta nos livros “Na rolança do tempo” e “Bagaço de beira-estrada” fatos da história e do rádio.Desculpe, mas a preguiça me impede de conferir.
Nos tempos do rádio vivo, a programação musical era feita de acordo com o time de artistas contratados. Se havia apenas um regional, era com ele que os ouvintes se entretinham, ficando o repertório a critério dos músicos e cantores, pois apenas uns poucos artistas transitavam por todos os gêneros musicais.
 Os donos das rádios contratavam uns e outros, empinavam carreiras, detonavam outras, mas o negócio discográfico nem de longe se aproximava do que é hoje, mesmo considerando os altos investimentos de algumas gravadoras no veículo, que ainda nem desconfiava do poder que detinha.
Com o incremento das gravações, os cantores, ávidos pelo sucesso, gastavam muita sola de sapato e saliva para conseguirem ter o disco divulgado. Iam aos programas, davam canja sempre que possível,  imploravam a Deus e ao diabo e mesmo quando  “chegavam lá”, faturavam quase nada com a vendagem dos cebolões (a indústria pagava migalhas).No entanto, numa espécie de compadrio, na base do “você me dá um agrado, paga por fora, que eu rodo sua música, encho sua bola com os ouvintes”, tinha nome e obra divulgados.
 E assim se passaram muitos anos, com alguns donos de programas do Rio e de São Paulo, principalmente,  conseguindo invejáveis patrimônios graças ao “inocente” jabaculê.
Mas como multinacional não dá milho a bode tupiniquim  e o empresariado, entre o lucro e a cultura  popular, sempre opta pelo tlim tlim da registradora, o histórico jabá trocou de nome e hoje atende pela sofisticada denominação de “verba de divulgação”.
Assim, enquanto os apresentadores de programas perderam a boquinha, os donos da rádio estão embolsando uma gorda fatia no efervescente ramo da lavagem cerebral através da música. Já foi comprovado que grandes redes de rádio chegam a cobrar até R$ 50 mil para incluir uma música de lançamento em sua programação. E nem dá para contar a dinheirama que se paga para ser “atração” em um dos muitos shows da televisão.
Punição? Nenhuma. Ou alguém tem notícia de alguma emissora cassada ou concessionário preso? No Brasil algumas leis “pegam”, outras não e as que vigem nunca esfolam os calos dos poderosos. A lei 1.048/2003 existe mesmo? A se crer no dito e escrito pelo cantante Gilberto Gil, quando ainda obrava como ministro da Cultura, ela não tem futuro. Assim como não têm os artistas excluídos do sistema.
Diante do exposto, a equação é simples: poucos ganham rios de dinheiro e muitos perdem a identidade cultural. Isso explica a origem do tcham e porque nobres egüinhas pocotozeiam livres nos pastos da ignorância.
·        Jornalista

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