Os camponeses e eu


 José Carlos Alexandre

Leio (e aprecio) no Brasil de Fato trabalho da Joana Tavares sobre  as Ligas Camponesas em Minas Gerais. Matéria das mais interessantes que pode ser lida também neste blog.
Lembro-me perfeitamente do momento histórico relatado no texto da jornalista.
Afinal participei ativamente das atividades à época, embora, por razões de segurança ( e o PCB era dado a tais preocupações no início dos anos 60) não pudessse aparecer, ou utilizar meu próprio nome às vezes.
De fachada, eu era um quadro dirigente do antigo PSB, Partido Socialista Brasileiro, não este que está aí. Mas num menos ruinzinho, o PSB de Otávio Mangabeira, de Fernando Correa Dias, de Paylmios Paixão Carneiro , de Wilson Carneiro Vidigal, então o mais conhecido advogado trabalhista mineiro.
Mas minha militância mesmo era no PCB, o mesmo partido de um Anélio Marques Guimarães, Sinval Bambirra, Mamário, Alaor Madureira, Armando Ziller,
alaor Geraldo Mendes, José Francisco Neres, Dimas Perrin (antes de episódios equivocados que o levaram ao afastamento do partido) , de Manuel e Orlando Correa , Edir Pena, de Aldo Sagaz, Roberto Bertelli, Domingos Viotti  e de tantos outros, a maioria lendários militantes da causa do povo brasileiro.
Com um agravante: passei, por tarefa do PCB, a atuar também na imprensa burguesa, concomitantemente com a imprensa comunista.
Só que,na primeira, assinando artigos (colunas sindicais e amplas matérias de greves e outras) com meu próprio nome. No jornal do PCB, Novos Rumos, com o pseudônimo de Carlos Basílio e, depois, de João Pedro Teixeira, nome daquele camponês que tem sua história contada em Cabra Marcado para Morrer, marcante filme de Eduardo Coutinho.
   Numa palavra eu explico a mudança de pseudônimo; fui díspensado de produzir a coluna sindical assinada com o nome de Carlos Basílio por ter publicado nela nota relatando as péssimas condições de trabalho numa grande loja de BH. E à época o PCB defendia em sua linha política a aliança com o burguesia...E os donos da loja eram judeus com alguma contribuição para o partido...

  Mas eu  fui criado em meio às lutas operárias dos mineiros de Nova Lima, participando de suas assembleias e passeatas pelo caminhos tortuosos até BH e não poderia jamais me deixar abater em face de um contratempo de redação de jornal  de esquerda.

Continuei a medida do possível atuando nas publicações partidárias mesmo na ilegalidade e depois da legalização do PCB, no governo José Sarnei. A ponto de vir a ser um de seus postulantes ao Parlamento estadual pela sua legenda, para marcar posição em 1986.
 
 Então fui levado a assinar coluna sob o pseudônimo de João Pedro Teixeira, tratando de assuntos que me eram familiares: justamente o movimento camponês no Estado.Período em que cheguei a viajar com Antonio Romanelli, embora ele não possa se lembrar disso nem eu talvez não me tenha identificado corretamente pelas razões acima exposta.
Chegamos a trocar certamente meia dúzia de palavras, se tanto. Certo é que já admirava seu trabalo em prol da reforma agrária, juntamente com o Cássio Gonçalves, o Antonio Pinheiro, na Supra e, se não me engano, do Antonio de Faria Lopes, da AP, com quem teria mais contato pois ele passou a presidir o Sindicato dos Bancários.
Como José Carlos Alexandre, Carlos Basílio e, depois, como João Pedro Teixeira, participei ativamente de atos de fundação de sindicatos de trabalhadores rurais e do Primeiro Congresso de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil, na então Assembleia Legislativa, que funcionava na Rua Tamoios, entre Rio de Janeiro e Avenida Amazonas, prédio depois ocupado pela Câmara Municipal.
Nas três condições ( um jornalista com três diferentes identidades, fui ao Morro da Queimada, onde Francisco Julião, o principal líder nacional das Ligas Camponesas, lançou a Carta de Ouro Preto, pregando a reforma agrária. Romanelli certamente estava presente.
   Hoje temos nos encontrado ( Romanelli e eu) por aí, em reuniões sobre o Memorial da Anistia, em construção na Rua Carngola, na inauguração da Praça Deputado Sinval Bambirra, na Vila Paris, na apresentação dos dirigentes da Associação dos Amigos do Memorial daAnistia.

Mas nunca trocamos palavras.Mesmo porque, talvez por  vício da época dos jogos de pseudônimos, prefira ficar caladinho em meu canto.
 Gostaria de parabelizar o ilustre advogado por este trabalho incansável de anos e anos, embora a reforma agrária, mesmo nestes governos pós ditadura, seja ainda um sonho distante.

  Mais do que tudo: sou dos primeiros a apoiar a indicação de seu nome na lista dos sete postulantes à participação na Comissão Nacional da Verdade, que, certamente com tenacidade, vai batalhar e muito para por a nu todas as mazelas praticadas pela ditadura militar.

Comentários

Anônimo disse…
É isso aí camarada, José Calos Alexandre! Você é a nossa resistência comunista infiltrado no Diário da Tarde e no Estado de Minas. Como já nos confabulamos eu comecei minha vida no grupo dos onze distribuido o jornal NOVOS RUMOS pelas madrugadas nas ruas enregeladas de Raposos, sob a orientação de D.Dolores, Caetano José Pires, Sô Benigno, Manoel Fonseca, Anélio Guimarâes, supervisionado pelo velho Armando Ziler e do anarquista recém chegado à "Moscouzinha" (apelido que deram à Raposos pelo óbvio ululante) Giuseppe Gabriel Persichini - meu avô, e sob o olhar complacente do meu pai, Maurilio de Souza Cunha. Tenho a registro das assembleias dos mineiros operário que usavam o dondinho compo vavalho de batalha de Raposos até Nova Lijas e encher o Cine Teatro Franzem de Lima quee mais tarde seria tomado do Povo.
Tens aí minha memória incipiente em sua bela narrativa. História e verdadeira!
Anônimo disse…
Anônimo Anônimo disse...

É isso aí camarada, José Calos Alexandre! Você é a nossa resistência comunista infiltrado no Diário da Tarde e no Estado de Minas. Como já nos confabulamos eu comecei minha vida no grupo dos onze distribuido o jornal NOVOS RUMOS pelas madrugadas nas ruas enregeladas de Raposos, sob a orientação de D.Dolores, Caetano José Pires, Sô Benigno, Manoel Fonseca, Anélio Guimarâes, supervisionado pelo velho Armando Ziler e do anarquista recém chegado à "Moscouzinha" (apelido que deram à Raposos pelo óbvio ululante) Giuseppe Gabriel Persichini - meu avô, e sob o olhar complacente do meu pai, Maurilio de Souza Cunha. Tenho a registro das assembleias dos mineiros operário que usavam o bondinho como cavalo de batalha, de Raposos até Nova Lijas e encher o Cine Teatro Franzem de Lima que mais tarde seria tomado do Povo pela Morro Velho;
Tens aí minha memória incipiente em sua bela narrativa. História e verdadeira!