Sem meio-termo


Lula não seria presidente
se não fosse a imprensa

Cinco Estados brasileiros estão discutindo formas de impor algum tipo de controle social à mídia. Em quatro deles (Ceará, Alagoas, Bahia e Piauí), o Executivo está por trás das iniciativas. Em São Paulo, o projeto nasceu na Assembleia Legislativa.
O fato surge no ano em que o governo federal patrocinou uma conferência nacional de comunicação. A criação de conselhos foi uma das recomendações do evento. Antes, o governo havia apoiado a criação de um Conselho Federal de Jornalistas, que não vingou.
Com frequência, o governo federal tem manifestado seu desgosto com as críticas da imprensa. Ele generaliza, sem observar que existem órgãos que o apoiam. O presidente da República chegou a equiparar a imprensa a um partido político.
Essa insatisfação faz parte de um clima que vem dominando a América Latina. A mídia sofre restrições na Venezuela e na Argentina. No Brasil, entre 2008 e 2010, foram mais de 70 atos de censura à imprensa cometidos pelo Executivo e o Judiciário.
A verdade é que os governos não gostam da mídia. Ou melhor, só gostam dela quando ela os serve. Tanto isso é verdade que, da atual escalada, participa até um governo do PSDB (Alagoas). Lula não seria presidente se não fosse a imprensa.
Sem dúvida que abusos são cometidos. A sociedade reclama, com frequência, dos exageros de programas de televisão. A manipulação da opinião pública é muitas vezes evidente. Pior seria, no entanto, se a liberdade de imprensa não fosse garantida pela Constituição.
Os governos sempre encontram meios de tutelar a imprensa. Seja distribuindo canais de rádio e TV ou através da programação das verbas publicitárias. Por isso mesmo, o país deveria ter uma legislação abrangente que respeitasse a autorregulação do setor.
A liberdade de expressão e de imprensa não é um valor relativo. Ou existe ou não existe. Não tem meio-termo.

(Publicado hoje , 26/10/2o10, por O Tempo- os destaques são nossos)
(Imagem:Latuff/Divulgação)

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