Tiradentes morreu enforcado?



Tiradentes, o bode expiatório

Laura Pinca
Novos estudos históricos apresentam uma Inconfidência Mineira diferente daquela que narram-nos os livros didáticos.Embora a historiografia oficial considere a Inconfidência Mineira (1789) como uma grande luta para a libertação do Brasil, o historiador inglêsKenneth Maxwell, autor de "A devassa da devassa" (Rio de Janeiro, Terrae Paz, 2ª ed. 1978.), que esteve recentemente no Brasil, diz que "a conspiração dos mineiros era, basicamente, um movimento de oligarquias,no interesse da oligarquia, sendo o nome do povo invocado apenas como justificativa", e que objetivava, não a independência do Brasil, mas ade Minas Gerais.Esses novos estudos apresentam um Tiradentes bem mudado: sem barba, sem liderança e sem glória. Segundo Maxwell, Joaquim José da Silva Xavier não foi senão o "bode expiatório" da conspiração. (op.cit., p. 222) "Naverdade, o alferes provavelmente nunca esteve plenamente a par dos planos e objetivos mais amplos do movimento." (p.216) O que é natural acreditar. Como um simples alferes (o equivalente a tenente, hoje) lideraria Coronéis, Brigadeiros, Padres e Desembargadores?A Folha de S. Paulo publicou um artigo (21-4-1998) no qual comentam-se os estudos do historiador carioca Marcos Antônio Corrêa. Corrêa defende que Tiradentes não morreu enforcado em 21 de abril de 1792. Ele começou a suspeitar disso quando viu uma lista de presença da Assembléia Nacional francesa de 1793, onde constava a assinatura de um tal JoaquimJosé da Silva Xavier, cujo estudo grafotécnico permitiu conclu ir que tratava-se da assinatura de Tiradentes. Segundo Corrêa, um ladrão condenadomorreu no lugar de Tiradentes, em troca de ajuda financeira à sua família, oferecida pela maçonaria. Testemunhas da morte de Tiradentes diziam-se surpresas, porque o executado aparentava ter menos de 45 anos.Sustenta Corrêa que Tiradentes teria sido salvo pelo poeta Cruz e Silva (maçom, amigo dos inconfidentes e um dos Juíze s da Devassa) e embarcado incógnito para Lisboa em agosto de 1792.Isso confirma o que havia dito Martim Francisco (irmão de José Bonifácio de Andrada e Silva): que não fora Tiradentes quem morrera enforcado, masoutra pessoa, e que, após o esquartejamento do cadáver, desapareceram com a cabeça, para que não se pudesse identificar o corpo."Se dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria pelo Brasil." Como só tinhauma, talvez Tiradentes tenha preferido ficar com ela.

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