Suspíros lusitanos



Ademar Bogo (*)

Se um suspiro, leve e lusitano

Zumbir nas almas das nações imensas

É o comunista que para além das crenças

Silenciosamente da vida física se dispensa.
Vai pessoalmente viver a eternidade

E olhar de perto na tez do criador

Que pelas criaturas foi subjugado

E obrigado a justificar o horror.
Irá verificar que as guerras entre os deuses não existem

Pois são apenas conflitos da existência

Que os homens criam e põe-se a conflitar

Pedindo a Deus que tome providências.
E faça sempre o mais forte vitorioso

Abençoado pelas cruéis vitórias

Para deixar nos livros registrados

Os escritos que reflitam a superior memória.
Tudo o que disse são sobre os seus dilemas

Ficam como dizeres formulados

Se não dava nem acreditava em conselhos

É porque queria vê-los por conta experimentados.
Os próprios passos seriam os conselheiros

E os conselheiros caminhantes e aprendizes;

Se os erros deveriam ser experiênciados

Com os acertos formariam matrizes.
Era a crença de um apaixonado

Que a si mesmo o saber se concedeu

Porque acima de todas as verdades

Acreditava que não existe o absoluto ateu.
Por sobre as oliveiras e as corticeiras

Versos e letras irradiarão verdades

A qualquer tempo virarão consciências

E viverás nos povos em forma de saudades.
Assim abrimos o tempo enlutado

Para purgar a dor do prejuízo humano

Se no passado choramos escravizados

Hoje, nossos suspiros também são lusitanos*.
* Os lusitanos (povos Lusis) constituíram um conjunto de povos ibéricos pré-romanos de origem indo-europeia que habitaram a parte Oeste da Península Ibérica Em 29 a.C., tendo à frente o líder Viriato, resistiram a invasão, através de guerrilhas e emboscadas. Mais tarde foi criada a província romana da Lusitânia nos territórios, que atualmente é Portugal. Por esta razão, os povos que falam línguas que tem como tronco a língua indo-europeia, como português e espanhol, principalmente, somos todos descendentes do povo guerreiro, lusitano. Por isso, choramos a morte do irmão e companheiro José Saramago, falecido em 18 de junho de 2010

(*) Ademar Bogo (*) é membro da Coordenação Nacional do MST

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