Velha Guarda do PCB se reúne

O líder comunista José Francisco Neres ,em primeiro plano,junto com o candidato do PCB à Presidência da República, advogado e ex-bancário Ivan Pinheiro

Uma reunião histórica nesta quarta-feira na sede do Partido Comunista Brasileiro em Minas Gerais: a do pessoal da Velha Guarda do Partidão. Gente com 40 anos ou mais de militância.Alguns tendo passado anos na então União Soviética, outros oriundos da juventude comunista, dos meios operários e estudantis. Gente do tempo das pichações de muro de madrugada, sempre em grupo. Dois de cada lado do quarteirão, para ver de vinha a polícia...

Gente acostumada à militância nos meios operários. Dos tempos em que a célula se reunia antes de cada assembleia importante. E se discutia tem levantaria esta ou aquela questão, quem se sentaria no meio da massa para erguer a mão com "questão de ordem" de apoio ao camarada...Gente escolada em movimento de massa, em resumo.

A articulação de uma greve custava muito. O Partido se dava de corpo inteiro,fornecendo seus melhores quadros para atuar junto aos militantes deste ou daquele sindicato; empenhando-se em reproduzir manifestos, mesmo que em mimeógrafos primários como os a álcool. Por vezes mobilizando até alguém dos Comitês Estadual ou Nacional, cujos representantes apareciam, solícitos, ajudando com sua experiência de longos anos de militância.

Os membros da Comissão de Agitação e Propaganda entravam em ação já no iniciozinho da campanha. Era um tal de produzir cartazes, alugar alto-falantes, descobrir alguém com carros para dar suporte aos comícios relâmpagos às portas das fábricas.

Em algumas situações corria-se à banca da esquina e comprava-se impressos com rifas a passarem de mão em mão entre a militância, familiares ou até mesmo entre os futuros grevistas. Era a difícil tarefa de "fazer finanças", coisa que o militante de hoje, quando vê alguém de cabelos brancos falando no horário eleitoral, ignora quanta trajetória foi preciso passar para subir à direção do Partido...

Entretanto, pelo menos a titulo de curiosidade, pergunte a algum figurão lá do Comitê Central se ele estaria disposto a fazer tudo como antes, quando era mero iniciante na militância?

A resposta certamente virá com uma longa exposição sobre os perigos da convivência dos comunistas mesmo antes da ditadura de 64...As prisões durante a crise da renúncia de Jânio Quadros, as incertezas quanto ao futuro da família e até da vida de cada um quando estourou o golpe de 1964, o tempo quente de 1968, quando do AI-5 ou o período da "abertura lenta e gradual" de Geisel, quando o PCB foi quase todo exterminado...

Por tudo isso, é importante quando a velha guarda se reúne como hoje, às cinco da tarde, na sede do PCB, Rua Curitiba, 656, sexto andar. Dela participam comunistas históricos, alguns até lendários, como o ex-líder tecelão José Francisco Neres, o fotógrafo ", em Alaor Geraldo e outras tantas pessoas que têm histórias para contar... E como têm...

Ninguém ouse dizer que para comunista há tempo ruim...Eles estão prontos para qualquer parada. Faça chuva ou faça Sol. Ninguém vacila no cumprimento de tarefas. Chamá-los de superhomem só pode ser piada de mal gosto. Eles são muito maior do que qualquer ficção poderia retratar. Jorge Amado tentou, em "Os Subterrâneos da Liberdade" e não conseguiu. A figura do Ruivo é muito caricata. A de Mariana também. Graciliano Ramos foi o que chegou mais perto, em " Memórias do Cárcere". Na opinião do retratado, Luiz Carlos Prestes, em "O Cavaleiro da Esperança", há muito de ficção. Claro, descontado o excesso de modéstia do "Velho".

A história dos comunistas , falo dos verdadeiros comunistas, os da militância do PCB, o famoso Partidão, tem de ser contada pela voz desses incríveis homens e mulheres da Velha Guarda. Eles, sim, quando se reúnem, se lembram de um passado nem tão remoto mas rico de amor ao internacionalismo proletário, à construção do comunismo, à revolução brasileira vista sob o ângulo do dia a dia de seu povo. Sempre de olho num futuro que talvez nem tão irrealista nem tão distante se nos afigura.

Imagem: José Carlos Alexandre

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