Os 21 de Uberlândia


Em 30 de julho de 1967, um perigoso grupo terrorista, formado, entre outros, por mais de duas dezenas de cidadãos de Uberlândia, foi desmontado pelo Exército brasileiro. Liderados pelo dentista Guaracy Raniero (foto) — que pretendia realizar uma grande ação no dia 24 de agosto daquele ano, com atentados a prédios públicos, fuzilamentos de civis e a participação de 200 homens armados —, os terroristas foram presos e levados para Brasília. O líder ficou detido por 33 dias na capital federal e foi levado para a cidade de Juiz de Fora, onde passou dois anos preso.Essa foi a versão da história sobre a prisão do dentista Guaracy Raniero divulgada em toda a cidade pelos militares, após aquele 30 de julho. Fundado no início de 1966, o Movimento Revolucionário 21 de Abril não pegou em armas, nem tampouco organizou ações violentas contra o regime militar. De seu surgimento até o desbarateamento pelo Exército, o grupo realizou muitas discussões e reuniões, apoiadas pelo Partido Comunista do Brasil e por seguidores do ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola. Segundo Guaracy Raniero, hoje com 85 anos, as ligações com o “partidão” e os brizolistas garantiram ao MR-21 a suspeita de comunista e, por isso, foram presos pelos militares. Guaracy e seus companheiros de MR-21 (Irto Marques dos Santos, Elias Parreira Barbosa, Romário Ribeiro Júnior, Edmo de Souza e Antônio Jerônimo de Freitas) foram homenageados pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, que participou da sessão solene em memória aos perseguidos políticos do Triângulo. Dom Estevão Avellar, bispo da região do Araguaia na época de atuação do MR-21, também foi homenageado. O evento, que aconteceu no campus Santa Mônica da UFU, abriu o segundo dia da programação da 22ª Caravana da Anistia, projeto da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, seguido pela sessão de julgamento de 32 processos de perseguidos políticos com pedidos de indenização. Os trabalhos foram dirigidos pelo presidente da Comissão, Paulo Abrão Pires Júnior.Um dos casos julgados envolve cinco integrantes de uma mesma família — o pai Sebastião Vieira, a mãe Maria Rodrigues Vieira, e os filhos Euler, Joana D’Arc e Marina Vieira (já anistiada pelo governo federal).
Após a prisão em Juiz de Fora, o dentista Guaracy Raniero decidiu pelo autoexílio em Montevidéu, Uruguai. Lá, ficou 33 meses, até retornar a Uberlândia, onde tinha uma sólida carreira profissional, esposa e filhos. “A história do MR-21 foi feita por cidadãos que, munidos de um sentimento de brasilidade, contestaram o governo militar, que havia destituído o presidente eleito constitucionalmente, e que implantou um regime ditatorial durante 20 anos”, afirmou Raniero. (O Correio, de Uberlândia)

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