Tio Elias, ensinando receitas a Deus






Fátima de Oliveira



Para mim Tio Elias Maboub sempre foi velho, com o corpo arqueado, meio curvado para frente. O andar suave como os gestos. Não a voz.Essa era forte, potente e denunciava que seus mais de 70 anos não diminuiram a fortaleza de meu mais novo companheiro de redação vindo da revisão quando o departamento acabou. Amizade recente o encontrava todas as amanhãs no Diario da Tarde.Ele revisando, dominando a tarefa e eu brigando com a vida, com as ruas, com as injustiças. Foi aí que nos encontramos.Era bom estar ao lado da suavidade de Tio Elias, perguntar como se escreve essa palavra, Tio Elias. Ele prontamente perdoava minha ignorância e ajudava. A letra bonita, bem desenhada no papel, meu companheiro de redação ensinava receitas de sua terra, o kibe de tabuleiro com queijo e muito azeite, hortelã e azeitonas . Dá vontade comer isso agora só pra sentir de novo seu carinho, seu cheiro, seu jeito doce de ser.Você dizia que eu era importante.Mas o importante era você.Quase toda semana nos encontrávamos na portaria do jornal depois que o DT fechou, ficamos sem emprego mas com conta bancaria ralinha no mesmo lugar. Coisa boa ver vc, seu sorriso, as conversas sobre nossa família. E você sempre preocupado com todos. Nã pensei que fosse embora tão depressa. Se soubesse teria dito, mais uma vez: Tio Elias gosto muito de você Sei que está céu , descansando da revisão, pois lá em cima ninguém escreve errado. (Imagem do acervo de Carlos Lúcio Gontijo)

Comentários