A crise e os trabalhadores

Igor Grabois (*)
O capitalismo vive uma crise no mundo inteiro e os donos do capital tentam resolver essa crise às custas dos trabalhadores. As taxas de lucro caem, os capitalistas paralisam investimentos, freando a expansão do capital. O que ocorre nos momentos de crise é uma grande destruição do capital, seja ele na forma financeira - dinheiro, títulos, ações - seja na forma de mercadoria - máquinas, estoques, empresas. Com isso, o desemprego cresce e os capitalistas tentam rebaixar os salários, reduzindo os custos da força de trabalho.
Em nosso país, que vive a crise já há algum tempo, os capitalistas intensificam os ataques contra os trabalhadores. Diversos setores da economia estão demitindo, como a construção civil e o setor automotivo. Investimentos estão sendo cancelados, em função das restrições do crédito e da redução da demanda. Em dezembro, 650.000 empregos foram destruídos no Brasil. Depois de cerca de três anos de aumento, já é visível a redução da massa salarial, sinal dos efeitos da diminuição de postos de trabalho.
O desemprego é intrínseco ao sistema capitalista. Os capitalistas precisam manter, permanentemente, uma parcela dos trabalhadores desempregados, o chamado exército industrial de reserva. Isto é necessário para que aumente a concorrência entre os trabalhadores e os capitalistas possam pagar salários menores. Marx chamou este movimento de lei geral da acumulação capitalista. Em períodos de crise, os capitalistas demitem mais, por ruína econômica, mas também para disciplinar a classe trabalhadora em níveis maiores de exploração.
Governo e patrões, com o apoio das centrais governistas, sinalizam com um pacto social, que significa a retirada de direitos e redução de salários. Este pacto seria negociado por patrões, governo e sindicatos, onde todos teriam a sua cota de "sacrifício" em nome de um objetivo maior, a saída da crise. Mas os "sacrifícios" não seriam distribuídos de maneira igual. Para os patrões, incentivos, reduções de impostos e crédito subsidiado. Para os trabalhadores, a reforma trabalhista, o desemprego e a redução de salários. O sacrifício de todos, para resolver a crise, é na verdade o sacrifício dos que trabalham.
A crise pegou os trabalhadores em um momento de reorganização das suas forças, após a onda da reestruturação produtiva e a capitulação das suas organizações, notadamente a CUT. Após um semestre de ganhos nas principais campanhas salariais, a classe assiste á intensificação dos ataques. A reação do conjunto dos trabalhadores tem sido insuficiente. A Amsted-Maxion demitiu metade dos empregados nas unidades de Osasco, Campinas e Cruzeiro e os trabalhadores não ocuparam as fábricas. As demissões têm ocorrido diariamente sem que os sindicatos consigam fazer mais do que manifestações nas portas das empresas e editar notas, atividades necessárias, mas claramente insuficientes.
A experiência da terceirização e as demissões na reestruturação dos anos 90 marcaram profundamente a ação da classe. O conjunto dos trabalhadores tem consciência dos seus direitos e sabe o significado da crise para aqueles que tem o trabalho como meio de vida. O medo do desemprego atinge cada trabalhador individualmente. A única garantia dos trabalhadores é a sua luta. O capital aproveita a crise, que é real e profunda, para reduzir os direitos e aumentar exploração. A unidade dos trabalhadores é sua arma, sua defesa e garantia. Só com a unidade é possível barrar a ofensiva do capital. O capital pode derrotar cada trabalhador individualmente, mas terá muita dificuldade de se impor perante a frente unida dos trabalhadores.
Portanto, temos de dizer não às demissões, com a ocupação das empresas que demitem. Não podemos aceitar abrir mão de nenhum direito, pois isso significa aceitar mais exploração. Redução de jornada sem redução de salário, estabilidade no emprego, recomposição salarial devem ser as nossas bandeiras. E a nossa unidade é maior do que os operários de uma única empresa. Ela envolve toda a classe, empregados e desempregados, terceiros e precarizados. A nossa unidade é para lutar; não a unidade para conciliar e imobilizar a classe, daqueles que julgam falar em nome dos trabalhadores.
Não podemos embarcar no canto de sereia do pacto social e da conciliação de classe. À luta! (Trechos do artigo publicado no site do PCB)

* Igor Grabois é o Secretário Sindical Nacional do PCB, Partido Comunista Brasileiro. (Trechos do artigo publicado no site do PCB) A ilustração é de Tommy/Telesur/Divulgação

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