A eleição de Barack Obama

DEIXEM A QUESTÃO
IMPORTANTE PREVALECER”

*Carlos Lúcio Gontijo

Um batalhão de jornalistas brancos do Brasil, a segunda maior nação de população negra depois da Nigéria, foi convocado para cobrir a vitória do democrata Barack Obama, eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos, como ressaltam todas as manchetes. Os brasileiros assistimos embevecidos e sem compreender muito bem as imagens televisivas acompanhadas de comentários que se prendiam o tempo todo à importância política do resultado, sem emitir considerações sobre o exemplo cabal de oportunidades iguais para todos os cidadãos, independentemente de ideologia, religião, cor de pele e tantas outras variantes da formação humana, que estava embutido e claramente descortinado no palco das eleições norte-americanas.
A olhos vistos e silenciosamente, o povo brasileiro tomou, mais uma vez, consciência do racismo subjetivo que corrói a alma do País, subtraindo aos negros a possibilidade de ascensão socioeconômica mais densa, natural e espontânea, em vez de falsa inserção à moda de peças comerciais, nas quais eles aparecem, feito cereja no bolo, em cumprimento à filosofia do “politicamente correto”. Enfim, a realidade é que vivemos em uma nação de negros e mestiços sob o império de economia de brancos.
A extrema valorização dada à questão étnica foi tratada por nossos veículos de comunicação como se não tivesse nada a ver conosco, enquanto todos os leitores, ouvintes e telespectadores perguntavam a si mesmos pelos negros brasileiros, indagando onde é que eles estavam (e estão) – além, é claro, da condenação à pobreza endêmica e às masmorras prisionais.
Imperceptivelmente talvez, devido ao grande espaço dado às eleições norte-americanas pelos órgãos de comunicação, a população brasileira tenha constatado que o fato de sermos detentores de urna eletrônica inexpugnável é apenas um simples detalhe, quando não dispomos de partidos políticos fortes e fechados à inscrição de integrantes desqualificados e mal-intencionados; quando a imprensa se nos apresenta dependente das benesses públicas; quando voto obrigatório cria o eleitor cativo e desinformado, para alegria dos maus políticos, que assim ganham condição de concorrer com candidatos compromissados com o bem coletivo.
Acreditamos que precisa ser adotada no Brasil, como campanha institucional sem data para terminar, a circulação de idéia direcionada à sensibilização de todos os cidadãos no tocante ao exercício da verdadeira igualdade social e à prática do amor ao próximo apregoado por Jesus Cristo. Falamos, no caso, de um pôster, com os traços étnicos de Obama e McCain propositalmente trocados e acompanhados da legenda “Let the issue be the issue” (deixe a questão importante prevalecer), que foi estendido pelos EUA afora, conclamando os eleitores a desprezarem e não levarem em consideração a questão étnica. Aqui, entre nós, a aplicação de tal medida não seria para eleger um presidente negro, mas tão-somente para espargir a mensagem de que é necessário criar condições reais para abrir a porta da casa grande – que foi privatizada – à imensa turma do pelourinho socializado, que resiste ao tempo e se acha instalado por todos os cantos e recantos da nação brasileira.
Carlos Lúcio Gontijo
Poeta, escritor e jornalista

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